Thursday, November 23, 2006

Você me traiu

Esse você que preenche as linhas minhas. Você sabe fazer de tudo, você sempre tem idéias novas , você sempre satisfaz e deixa um gostinho novo, você só podia estar no papel mesmo. É triste pensar que você não existe aqui, no meu mundo. Talvez se eu escrevesse mais, quisesse mais, procurasse mais... Talvez você fosse real. Talvez quando eu abrisse os olhos você aparecesse, e não ao contrário. Será possível? Com os olhos fechados você é possível. No escuro você é uma linda possibilidade. Mas na minha mente o vício sem você é mais forte, é mais "real", é físico, não é você. Eu leio sobre você nas linhas de outra mulher, fico com ciúmes, fico com raiva, e penso se você existe pra ela mais do que pra mim. Penso que você tem estado muito distante de mim, e quando te leio em outras linhas me sinto traida e ao mesmo tempo menos triste em saber que você engana todas nós, todos nós que falamos tanto de você, que dedicamos tanto nossos pensamentos e letras a você. Você que é maravilhoso, que de longe é o melhor homem do mundo, que é aquele que cabe pra mim, e pra ela, e pra todas as outras. É você, em quem eu penso quando eu quero um pouco mais. É você que eu penso quando eu espero a fantasia acontecer, e nada, você sim faria tudo, pensaria em tudo, usaria do momento, e não deixaria passar a oportunidade de viver uma loucura tão linda. Você sempre sabe o que dizer, sempre sabe ouvir, sempre sabe o que eu quero, o que ela quer, o que todas querem. Você recebe tantas declarações. E eu fico com raiva que você não é só meu, fico com raiva porque com ela você se desenvolve melhor, nas linhas dela você parece mais real, mas talvez seja só impressão, ou tempo de experiência. Mas eu continuo com raiva, com ciúmes, e querendo que você seja todo meu, que eu seja dona de todas as suas histórias e que você um dia, olhe pra mim com um olhar que eu nunca vi, pegue minha mão com as suas, e diga que sou só sua, assim como você é meu, e dela e de todas as outras. Ainda bem que você não existe.

Tuesday, November 21, 2006

Ela

Ela estava gritando, e não saia um som sequer de sua boca. Ela estava chorando, e o sorriso em seu rosto era genuíno. Ela estava presa, e dançava com competência e leveza. Ela sangrava, e sua pele nunca estivera tão bonita. Ela sofria, e seus conselhos transformavam vidas. Ela não tinha o que vestir, e chamava a atenção onde quer que entrasse. Ela sentia dor, e seus toques curavam. Ela queria desistir, e assinava mais uma obra prima. Ela estava sozinha, e estar ao seu lado era sentir-se acolhido. Ela não tinha mais palavras, e compunha músicas para a alma. Ela se cansou, e a cada dia subia mais um degrau. Ela não tinha mais fé, e Deus ouvia-lhe as orações. Ela não queria mais, e lá estava todos os dias no horário marcado. Ela se frustou, e suas conquistas entraram pra história. Ela não dormia, e a cada amanhecer o sol estava lá. Ela não comia, e alimentava a tantos. Ela estava triste, e um olhar seu alegrava o mundo. Ela estava perdida, e seus passos guiavam a esperança. Ela estava confusa, e seu rosto trazia paz. Ela não se sentia mulher, e seu amor constragia. Ela pensou em parar, e seus pensamentos viraram livros. Ela achava que não tinha mais nada pra oferecer, e sua vida era um referêncial. Ela se sentia incapaz, e seus textos ensinavam a viver. Ela doia dentro de si, e era tão bom tê-la por perto. Ela achava que não mais poderia, e construiu de novo. Ela desacreditou, e fez outros viverem. Ela não era ninguém, e ela era tudo.

Tá escuro

Eu queria tudo e agora. Nessa escuridão onde eu não posso ver nada e o meu peito pode respirar fundo e livre. Nessa escuridão onde não tem diferenças, tudo está escuro e cheio de possibilidades. Eu queria sentir agora, nesse momento escuro, nesse mundo possível que invade o espaço e enche o quarto com a leveza e liberdade, eu quero sentir agora, a ansiedade tem que me deixar. Eu quero sentir que as possibilidades existem, que você está nessa comigo e que a escuridão já não assusta mais. E se eu pudesse assistir nesse momento os meus desejos, aspirações, sonhos, todos juntos, nessa escuridão, será que haveria luz? Eu passei pouco tempo no escuro, suficiente para não ter mais medo e gostar dele, gostar de desenhar no escuro, de escrever no escuro, e não ver nada porque tudo que tem sou eu e o que eu posso. Não queria enxergar o palpável, tão manjado e frustante, típico de uma desilusão, mas eu tenho, fazer o que? Abrir os olhos e deixar a luz me cegar pra eu não ver mais nada. No escuro não se vê nada, e com muita luz nada também. Infames olhos, sempre dando um jeito de não ver nada, imaginar é mais gostoso? Talvez quando se pode ver realizar. Eu tentei dançar no escuro e bati a canela por todas as quinas, péssima idéia, tem coisas que são bem melhores com a luz acesa, e não tem jeito, tem que sair do escuro e apreciar os detalhes. E dentro da cabana improvisada eu fechava os olhos pra não ver a cena linda que não iria acontecer nunca, por falta de criatividade, pelo menos no escuro dos meus olhos ela acontecia e tudo corria perfeitamente. Eu não sei o que fazer então. Pra ter tudo e agora, quando de olhos abertos os pensamentos ficam tristes e no escuro ficam tão possíveis. Será que a luz me diz que não posso nunca? Não, acho que me diz que tenho muito que fazer, e eu prefiro fechar os olhos, apagar a luz, e deixar acontecer no escuro, tudo de brincadeira. Mas tem aquela história de que brincadeira tem que acabar e eu tenho que abrir os olhos, e daí? E daí? Alguém? Sei... é mais fácil porém, menos dolorido, é mais gostoso? De jeito nenhum! Não é real. Ponto pro raciocínio. Nada como a realidade, até quando é pra brincar.

Tuesday, November 14, 2006

A folha branca

A folha branca pede as palavras, pede o argumento e se excita com a estória. As vezes se decepciona, muitas vezes se decepciona. Mas isso faz parte dela, faz parte de quem a formou, e as estórias juntas, mesmo com as decepcões, formam quem ela é: Uma folha branca cheia de estórias e histórias pra contar. A experiência briga com a criatividade, elas parecem não se entender e a experiência sempre quer contar a sua primeiro. Mas a criatividade é boa praça, deixa-a discertar em quanto acrescenta uns detalhes aqui e ali na conversa. Tudo bem essa folha é assim mesmo, das brigas surgem textos, das alegrias surgem textos, das tristezas surgem textos. E a folha da risada de tantas estórias. Chora de tantas estórias. Vive de tantas estórias e histórias.

Espero te ver feliz

Foi sem falar nada que a conversa se desenrolou. Foi nas entrelinhas, nos olhares e nos nomes errados. Nas faltas de respostas, de telefonemas, de compreensão e de saber o que é que estava acontecendo. Essa conversa eu nunca tinha tido, nem sabia como começar mas parece que fiz direito, deu certo e você continuou, do seu jeito, do que você sabe fazer tão bem e está tão cansado de interpretar. Sim, você entende essas palavras, eu sei que elas parecem difíceis, meio fora de lugar, mas você entende sim. Entende que o amor nunca é convidado, que a convivência faz com que ele cresça, e é assim inevitável. Sempre achei que fosse mais fácil eu cair nessa, eu perder a linha e esquecer que tudo era brincadeira, nunca pensei que fosse você, e por isso você fosse fugir. Fugir não, porque não faz a sua cara, mas tomar uma decisão tão dura de virar as costas pra esse sentimento proibido, ou melhor, pra essas atitudes estranhas que não podem agir com essa vontade. Como seria se pudesse? O que você faria? Sim, eu sei, eu seria mais uma, porque o que me faz diferente é o não poder, nunca. E todos sentimos não é verdade? Por mais que digam que não, por mais que amem, que até lutem... Todos nós sentimos. Consequências ou não o mistério nasceu pra ser desejado, e todos nós queremos ser detetives. Agora as decisões são sempre nossas, e tem sempre um momento, o momento, e aí está nossa diferença, aí mostramos o que realmente importa, nenhum corpo é tão fraco pra resistir, são as mentes que decidem se sim ou se não, são elas que se importam ou não, e que bom que a sua se importou, soube agir como eu nunca pensei que pudesse. Mas estragou nossa segunda opção, sua decisão também, mas eu respeito, tenho que respeitar. Espero que fique bem com suas bonecas, que encontre uma que ame de verdade e que deixe sua mente tomar mais decisões como esta, pra você ser feliz.

Monday, November 06, 2006

A tribo dos sem vergonhas

Fases e mais fases. Espero não ser como a lua e ficar repetindo as caras. Ainda bem que eu to longe dela pra não pegar. Mesmo tão bonita e sedutora, essa história de ficar andando em circulos já chega pra mim. Pensei em investir mais em mim, em mais cultura, músicas, filmes, artigos modernosos, mas sempre que tento me interar lançam coisas novas e eu fico pra trás. Então eu desencanei de ser um poço de cultura, poços só servem pra alguém cair dentro. Vou curtindo o que me atrai, o que gosto, o que sinto, e se for parte dessa conversa, tudo bem, ponto pro acaso. Sabe por quê? Eu já fui da turma das patricinhas, tudo igual tudo igual e tudo igual. Já fui da turma das surfistinhas, tudo igual com ondas tudo igual com ondas e tudo igual com ondas. E tentei fazer parte da turma dos cultos modernosos, tudo igual com caetano tudo igual com caetano e tudo igual com caetano. Sabe? Muda só o design e a composição, a função é mesma. Claro que não vou ser eu a criar uma nova tribo ( eu odeio essa palavra...tudo igual) , claro que vou sempre fazer parte de uma, todo mundo faz, até sem querer, mas acontece que a necessidade é que não existe mais. Essa turma de agora é a que vai ser pra sempre, a gente faz parte sim, inevitável, mas foi bom encontrá-los no acaso, simplismente porque se parecem comingo em coisas diferentes. Não foi medido sabe? Serviu e pronto. Eu sou mais feliz sabia? Porque se tem alguma coisa que nos distingue eu não preciso esconder e fingir que não existe só pra fazer parte, todo mundo tem o seu fator e tudo bem, tudo bem aceito, tudo certo. Somos sem vergonhas no sentido mais literal da expressão. Não temos vergonha de rir alto, de chorar, de falar de nossas famílias desajustadas ou certinhas demais, de usar uma roupa que não tem nada a ver, de precisar cortar o cabelo e não cortar. De usar a mesma calça jeans em três encotros seguidos, de dizer que vamos ligar e mandar uma mensagem dois dias depois, de agitar a balada e não ir porque depois daquele banho quente o pijama te seduziu. Não temos vegonha de ficar em casa com os pais no sábado a noite, de ir na Igreja aos domingos, de falar de Deus no barzinho e de tocar louvores seguidos de Ana Carolina e Seu Jorge. De dançar músicas breguissimas com coreografias inéditas mais bregas ainda, e a gente não tem vegonha de se divertir com isso, de beijar o cara do trabalho que não tinha nada a ver, e de namorar há 4 anos e querer casar de vestido de noiva. De errar tanto, assumir e corrigir, de dar a volta por cima quando tudo tá precisando dar uma volta pra respirar. De abrir mão do orgulho e ligar sim, de lutar pelo acredita porque é tudo que temos, de gritar tão alto pra provar um argumento, e de ficar em silêncio porque experiências cada um tem a sua do seu jeito. Não temos vergonha de não termos vergonha alguma, e ainda assim ser um pouco tímido e sem jeito, demorar pra se abrir com os amigos, e não querer falar de certas coisas porque sente vergonha. A gente não tem vergonha de não saber, e de planejar a vida. Não temos vergonha de ter medo, e temos medo de tantas coisas. Mas a gente é assim mesmo, lindos, cada um com seus defeitos, qualidades, expressões e tensões, e se alguém quiser fazer parte da turma, esteja preparado para ficar nu.

A amiga de verde

Ela estava um pouco irritada e fora de lugar. Aquelas coisas do coração que a gente pensa que ela não vive mas sim, ela é uma de nós. Mesmo incomodada com a roupa pensadinha combinando com seu cabelo curto, aguentou firme dentro dela e foi feliz por mais uma noite. A atração era outra, mas foi ela quem atraiu olhares e outros ansciosos por alguns momentos de sinceridade e liberdade. E mesmo se sentindo um pouco envergonhada e fora dos limites, foi feliz por mais algumas horas. Ela se permitiu, explodiu de orgulho, ela queria que o cara visse que ela sabe ser mais feliz que ele, ela dançou de ponta cabeça e pagou mico. Tudo para resultar naquele milésimo de segundo: sozinha na pista improvisada, procurando um olhar conhecido pra rir com ela, e não encontrou nenhum, mas ainda assim riu, sozinha. E foi feliz por mais aquele sorriso.