Monday, February 26, 2007

Longe

Tudo bem, já está mais do que provado que a nossa distância dói, e dói muito. Mas ela tem sido uma dor diferente da que eu conhecia. Mais distante, uma sensação estranha de que eu já me acostumei, não com a nossa distância, mas com a dorzinha chata que a acompanha. E longe de você eu fico perdida, tentando me encontrar em outra pessoa qualquer, em outra história qualquer, em páginas que ocupam minha mente por piedade para que ela não sofra tanto. Qualquer coisa que me tire dessa distância, desse longe que você colocou entre nós. Mas eu entendo, e mais do que alguns aceitariam. Entendo como a boa moça, e me debato como o animal selvagem. Eu já me acostumei. Repito pra ver se dói menos. O desespero fica pouco diante do sentimento que me toma. Equilibrado e solene, me sustenta pelos braços, levanta meu queixo pra que eu não perca a dignidade, e me grita bem na boca do estômago "Garota! Presta atenção! Tá esvaziando!". Eu prefiro nem ouvir a sua voz, prefiro nem saber onde você está, já que é pra ficar longe que seja a distância de dois mundos. Porque a sensação da sua presença sacode minha poeira e eu não enxergo mais nada com tanto pó na minha cara. Prefiro ver alienígenas, caminhar em outras órbitas, explorar outras galáxias, qualquer lugar onde não tenha o seu cheiro e as ondas da sua voz. Fique longe. Suma de mim. E é quando eu descubro que meu corpo está cheio dos seus vestígios, minhas atitudes cheias das suas manias, minha cabeça cheia das suas lembranças, meu ventre cheio da vontade sua, e meu peito cheio de você. É daí que vem esse engasgar, essa vontade de te vomitar ou te engolir por inteiro. Você só não pode ficar morno na minha garganta. Mas eu dou mais alguns passos no tempo, tiro o relógio do meu campo de visão pra ver se consigo descansar. E consigo. Descubro também que posso as mesmas coisas longe de você, e diminuo esse sentimento sublime ao lixo de um banheiro público. Daí sim, tenho vontade de morrer, porque ou é nosso ou é público, e longe de você eu não sei mais nada! Percebe a confusão dessa estrada? Mas eu não posso diminuir esse caminho, eu sei. No máximo posso asfaltá-lo para que a viagem se torne um pouco menos sofrida. Sim, é sofrer a palavra. É um assassinato do tempo que podíamos perder juntos, o tempo que podíamos ganhar juntos, o tempo que podíamos nos gastar juntos. Essa distância é assassina e eu preciso ser sua cúmplice. Por que mesmo? Ah é... Tem esse espaço que requer seus direitos sobre nós. Nós quem mesmo? Eu fico perdida. E como eu me faço de forte é hilário! E como eu pareço resolvida é um espetáculo da minha imagem projetada nesse mundo de fantoches de pano! E como eu cresci nesse tempo... é assustador. Assusta de pensar que eu vivo bem, mesmo longe. E é por isso que eu me grudo a você, porque não quero essa maturidade, ela me leva pra longe! Mas a verdade em tudo isso, é que eu continuo perdida longe de você. Madura, forte ou resolvida, eu posso ser tudo isso, contanto que esteja ao seu lado. Porque nessa distância eu sou tudo isso, mas eu não sou nada.

Thursday, February 22, 2007

Deixa vai?

Cada uma das suas curvas me provoca. Cada um dos seus volumes me desafia. A linha do seu pescoço me encara, tão perto de onde acontecem seus pensamentos que eu quero decifrar. Eu fico com inveja dessa curva. Eu fico com inveja das gotinhas que a toalha não secou. Uma desceu no meio do seu peito pro seu abdomêm, e eu queria matar minha sede com essa gotinha que estava numa posição tão melhor do que a minha. E são os seus detalhes que me tem por inteira, que tiram meu pensamento de qualquer conversa ou lembrança pra me concentrar em você e na cor da sua boca. É isso que importa na vida, alguém como você. O que importa na vida é a espessura e o brilho do seu cabelo e como ele fica lindo molhado. O que importa na vida é o desenho dos seus olhos e o quanto eles falam quando me encontram babando por você. O que importa mesmo é essa sua postura um pouco curvada pra frente que acha perfeito equilibrio com seus ombros que me deixam louca. E você ignora que eu assito seu corpo como um pocket show que só eu tenho o privilégio de ver por completo, me ignora e se incomoda por sempre encontrar meus olhos famintos em cima de você. Você está certo, eu sou mesmo louca. Sou mesmo até um pouco doente, mas fazer o que se o cheiro da sua pele me acalma a loucura e se o meu remédio mais efetivo é sua saliva? Você precisa me entender melhor, você precisa saber o quanto tem aqui dentro. Eu preciso te levar pra esse mundinho meu, não amor, você ainda não conhece esse mundinho. Eu preciso entrar nos seus olhos e te fazer viver essa intensidade que ferve, que vicia a alma, que relaxa o corpo por saber que existe um lugar tão bom assim no mundo... Deixa eu te levar deixa? Para de pensar nessa vida chata e ordinária, larga tudo meu amor, só por algumas horas, só por uma noite, me entrega esse seu tempo, que eu faço todos os seus dias serem bons pra sempre... Deixa eu perder o controle na sua curva e cair em cima de você dando perda total em qualquer outro sentimento ralo que tentava me sufocar. Deixa eu contar minha história com a sua boca, deixa eu morder qualquer estrutura que não seja de acordo com o que a gente gosta. Deixa eu fazer tudo amor, só não deixa eu te deixar. Nunca.

Wednesday, February 21, 2007

Visita

Mais uma lágrima me lembrou como as coisas são. Mais uma lágrima saiu sem ser chamada e me disse coisas que eu não queria ouvir. Elas aparecem assim, vez ou outra, ousadas, sem pudores, cheias de coisas pra contar, como se fossem donas de todas as minhas histórias. Talvez porque elas sempre estão presentes, mesmo nas mais felizes. Mas isso não lhes dá o direito de me ter assim, só pra elas, em um canto qualquer, ouvindo suas verdades doidas. Essa última que passou me lembrou que existem consequências nas minhas atitudes de liberdade

Wednesday, February 14, 2007

A história da princesa

Era uma vez uma princesinha linda. Com cachinhos brilhantes e os olhos de quem sonha. Ela morava num castelo lindo, tinha um quarto com tudo cor-de-rosa. As cortinas eram feitas de borboletas, o teto era de estrelas, o chão eram histórias de fadas e a cama feita da mais branca nuvem. A princesinha tinha tudo que queria, porque bastava um pensamento, fechar os olhos com força e lá estava, a boneca que sabia falar, o ursinho macio como água, ou o brinquedo mais bonito do mundo! Mas o tempo foi passando e apesar de ter tudo, a princesinha não tinha o que mais queria: Um príncipe pra brincar com ela. A verdade é que ela era muito sozinha e mesmo o brinquedo mais legal do mundo não lhe era companheiro como desejava. Ela queria alguém pra sorrir com ela, pra dançar descalço, pra correr na grama, gritar como louca, rasgar o vestido na cerca, pra beijar na chuva...Tudo que ela não podia fazer por causa das regras do castelo. E por mais que ela fechasse os olhos com muita força, e desejasse com toda a sua alma, ele nunca aparecia, ela ainda não sabia sobre o tempo nessa época. A princesinha cresceu, o castelo ficou um pouco envelhecido com o passar dos anos. Algumas borboletas foram embora, as estrelas perderam o brilho, as histórias encheram o saco e a nuvem evaporou. Seu quarto já não a acolhia mais. Seu título de princesa pesava seu estômago, e ela nem se lembrava de que podia fechar os olhos e desejar, achava melhor mesmo trabalhar. Seus cachos ficaram um pouco opacos, talvez fosse a tinta pra cabelos que tinha estragado os fios. A princesa chorava sua solidão, chorava não ter tido a única coisa que realmente tinha desejado, chorava sua existência real sem histórias, sem sonhos, sem vida. E isso tirava suas forças, apagava seu sorriso, queimava sua pele até ela não aguentar mais. Mas um dia ele apareceu. Assim do nada. Veio com o tempo. Não foi de cavalo branco, nem com uma super BMW, mas com um carro normal, que ele tinha batalhado pra comprar. Ele trabalhava muito e ainda assim tinha olhos de quem sonha, e foi por isso que ela o reconheceu sem esforços. Não foi amor a primeira vista, como as histórias que seu chão contava, eles se tornaram amigos primeiro, e então ele a conquistou pra sempre. Ele a fez lembrar que era mesmo uma princesa, e que isso não precisava ser um peso. Ele a fez crescer de verdade e não só pras coisas penosas. Eles brigaram muito, se desintenderam, e se não soubessem o final feliz desse história, teriam desistido nas páginas do meio. Ela aprendeu a ser uma princesa de novo, aprendeu as dores que impulsionam, aprendeu a ser melhor, porque ele merecia cada esforço. Ela tinha perdido suas cores junto com seu castelo, e ele a ajudou a se lembrar como pintar. Ela entendeu quem era nesse conto, e lutou para assumir de vez seu papel. E eles são felizes, muito mais que nos contos de fadas, porque esta história é deles e eles podem fazer o bem entendem com ela, até ser feliz se quiserem.

Monday, February 12, 2007

Toda vida

A minha é assim, a delas também, e a sua? Também é? Sabe, cheia de dúvidas entendidas, complicações tão simples, palavras voadoras, argumentos criativamente inventados. É cheia de decisões chatas pra tomar, cheia de coisas legais pra fazer, obstáculos pra fazer suar, cheia de tanta coisa que ás vezes eu tenho que parar, olhar pra tudo e rir feito louca. Ela é assim mesmo, gostosa, quentinha, divertida, compreensiva, sabida, burrinha, linda como só ela...E pode ser tão cruel, apertar a ferida sem dó com o pretexto de que faz pra curar, esperta que só ela. É assim sabe? Moleca, intelectual, sexy, misteriosa, doce com um gostinho que ninguém consegue definir, só mesmo saborear. Então eu fico triste ás vezes, sozinha, cansada, mais cansada que sozinha, porque ela nunca me deixa. Mesmo quando eu acho que ela está indo embora, me deixando, quando a dor é tamanha que eu tenho certeza que estou ficando sem ela, é apenas mais um de suas maneiras de mostrar que no final das contas, elas não vai embora não...Ela é como toda vida. Cheia dela mesma. Então todo o céu faz sentido, toda essa terra respira, todo oceano refresca e tudo vira um espetáculo orquestrado, perfeitamente desigual e polido, como toda vida.

Friday, February 09, 2007

Pra alguém acreditar

Ela abriu a porta da frente, e não me entendam mal, foi a porta do seu coração. Depois de ler algumas outras linhas de solitários pensadores e contadores de história, ela soube o quão feliz era. E sua solidão muito mais acompanhada que imaginava. Se sentiu um pouco triste em perceber o desespero de expressão que existe, e o desperdício de palavras não ditas ou não lidas, mas continuava a acreditar fortemente que um dia isso iria mudar. Acreditava de um jeito que era até piegas, que parecia ingênuo, mas era invejável e admirável. Ela acreditava em fadas e princesas, acreditava que junto desse mundo real, junto das gritarias, das almas amargas, existiam almas de sonhos, mentes de contos, sorrisos sinceros... Ela acreditava com tanta força que era impossível não sorrir. Pensava que mesmo atrás de tantos palavrões, as palavras só queriam expressar a vontade de sentir uma pele gostosa, uma voz acolhedora, um olhar de compreensão. E a angustia de não aguentar esse mundo ordinário, de não fazer parte dessa galera produzida em série, é apenas a vontade enorme de andar pelos tijolos de ouro em busca do bendito mágico no tal castelo. E sabe-se lá, mesmo que ele não exista, esse caminhozinho de tijolos e esse novo coração já valeram a pena. Ela queria escrever uma música, mas deixava isso para os seus amigos criativos, sua história era contar estórias mesmo. Ainda assim não deixava de dançar ao som de seus contos, e de outros. Para ela, eles eram de verdade, afinal em que mais iria acreditar? Ela olhava pro céu e pensava que um dia estaria lá, voando, feito o Clark. Apreciava as nuvens e ainda tinha a sensação de que na verdade elas não passavam de algodão doce. Aquele azul tinha um significado todo especial pra ela, era puro, era aquilo a realidade e a verdade. Diante de tantas discussões sobre o que é e o que não, o azul do céu ninguém podia negar. Era como todo o resto da natureza. O horizonte do mar, e ela ainda pensava que aquilo era o infinito, a água em sua soberania se dobrando ao continente só porque Alguém pediu. Ela ainda acreditava, e acreditaria sempre. Pensava que a vida era um musical, e que a todo momento estava sendo assistida, e que no maior e mais complexo reality show já inventado, as pessoas podiam assistir não exibições vazias e patéticas, mas a verdade de um sonho, de um poder humano digno de um gibi marvel. Ela acreditava no amor, na satisfação de ter uma pessoa nesse mundo a quem podia se entregar sem restrições ou limite de idade. E como seria o mundo se ela não acreditasse? Talvez ela viesse de outro mundo, desse de sonhos, para ser uma super heroina nessa terra perdida! Ela podia sofrer, tanto, que ás vezes achava que era o seu fim, mas suas dores confirmavam sua história. Suas dúvidas a faziam aprender mais, e ainda que se sentisse prostada e incapaz, sabia que aquilo iria durar até a próxima página, até a próxima cena. E esse acreditar era sempre mais forte que ela e seus bracinhos finos querendo pegar o mundo todo pra dar um abraço em família. É por isso que chorava, por isso que ás vezes queria só ficar no seu quarto, só com o peso do seu edredon sobre o corpo, ele sempre era mais leve que seus anseios. A vontade de viver tudo era tanta, e o desejo de sentir a intensidade da vida era tamanho que ela ás vezes preferia ficar deitada, sozinha, pegando fôlego, depois de engasgar o mundo. Mas sempre acreditava, continuava a sorrir na companhia de seus sonhos de menina e desejos de mulher. Era tudo real e ela sabia que um dia seus sonhos iriam ser assistidos numa tela que não a do seu pensamento, suas idéias seriam lidas em outras páginas que não as de seus olhos, e que seus desejos exalariam tanta vida que muitos iriam acreditar também.

Tem alguém me ovindo?

Eu não estou falando, mas tenho certeza que tem alguém me ouvindo. E esse alguém está ouvindo o barulho de cem mil borboletas batendo suas asas, leves no ar. Está ouvindo o brilho de cem mil estrelas de uma luz pacífica. E se esse alguém prestar bem atenção, vai ouvir também o som de cem mil orquestras ensaiadas e afinadas, tocando uma música pra Deus. Junto com a orquestra tem mais cem mil bandas de rock fazendo um som de guitarras dançantes que calam qualquer dor. Esse alguém, que eu não sei bem quem, se me ouvir por mais um tempo, vai escutar o clamor de cem mil corações que pulsam jorrando sangue quente, dando vozes a vida louca de vontade.
E desses corações vai ouvir cem mil histórias de amor...

Thursday, February 08, 2007

Palavra Sublime

Sublime. Nem sei o que essa palavra significa direito, mas foi ela quem definiu a noite. Ela foi soberana e nenhum de seus amigos adjetivos tiveram coragem de dar qualquer palpite para aquele momento. Teve uma outra palavra que é ousada por natureza, mas que estava um pouco desgastada, que invadiu o quarto chutando a porta, rasgando as roupas, derrumbando os pudores, empurrando pra fora do ringue qualquer distração da mente, dando ordens até mesmo á temperatura do ar, para que tudo ficasse perfeito. A palavra era um substântivozinho simples, qualquer, usado, abusado e até banalizado por bocas de todo o mundo, mas naquele momento teve um significado todo dela, dizendo coisas que outras palavras ralés não poderiam jamais conseguir caracterizar. Todas ficaram mudas, assistindo ao espetáculo do Sublime com a palavra cara de pau. Ela parecia renovada, depois de tanto ser dita ao acaso, depois de ser gasta com tanta rotina e lágrimas de cansaço. Outras palavras como Medo e Desistir gozavam dela por não ter ido embora ainda daquele lugar, e gozavam dela todos os dias, mas naquela noite elas se calaram, viraram pó e foram varridas com a ventania que sua atitude provocou. A Alegria, a Felicidade, a Satisfação, o Prazer, a Certeza, a Gratidão, ficaram todas lá, tentando um espacinho para entrar na festa, mas naquele quarto só cabia um substântivo e o Sublime, por isso o AMOR fez questão de mostrar quem mandava na casa.

Wednesday, February 07, 2007

O pesadelo

Acordei com uma vontade de chorar pior do que a que me ninou pra dormir. Além de querer morrer por uma vida ordinária, o único momento de sossego onde eu poderia sonhar que tinha o emprego dos meus sonhos, com o salário dos meus sonhos, com o cartão de crédito dos meus sonhos, eu dei pra ter pesadelos. Tinha uma infeliz de uma garota que me assombrou toda minha infância com os longos cabelos loiros, os brilhantes olhos azuis, e a alma de bruxa da branca de neve. Eu estava feliz reunida com velhos amigos que não via há tempos, apresentando a eles meu namorado lindo (ele pelo menos é de verdade, mas...) e a loira bruxa se exibindo pra ele tentando ganhar tudo que é meu como sempre foi a razão de sua existência. Mas eu nem ligava porque ele era todo meu mesmo, e ela nem fazia o tipo dele. Eu continuava feliz até que ela disse para uma pessoa que eu não sei quem era "Tudo bem, ele me liga sempre!" O céu ficou escuro, as imagens do pesadelo ficaram mais turvas, e eu sabia que estava no inferno. Peguei meu namorado pela mão e o levei onde podiamos conversar a sós, olhei nos olhos dele e disse "Por favor, me diga a verdade, você já teve qualquer contato com ela?" Sua resposta não precisou ser completa porque no pesadelo eu e minhas artimanhas de cineasta demos conta de, enquanto ele falava, montar as cenas pra eu sofrer com estilo. "Eu queria ir embora, mas ela me pediu pra ficar e eu disse que só iria assistir ao filme..." No pesadelo doia tanto que eu tentava abrandar a angústia passando as unhas com força no asfalto. Ele não tinha feito nada com ela, mas tinha dado sua atenção, tinha dado a ela o privilégio da sua voz, do seu respeito, da sua presença, do seu papo... Era a mesma coisa pra mim. Eu tinha sido traida, e então acordei. Senti o calafrio de quando acordo de um pesadelo horrível com mostros e perseguições, queria acender a luz com medo da loira bruxa estar por ali escondida, queria ligar para o meu namorado e perguntar com quem ele andava falando ultimamente. Fiquei insana por alguns bons minutos. Quando o sangue esfriou um pouco pensei em como amo aquele filho da mãe que me faz perder a cabeça com um sonho estúpido. Só consegui dormir de novo quando lembrei da frase de Gabriel Garcia Márquez Não se preocupe, não é a primeira vez que uma mulher fica louca por um homem...

Monday, February 05, 2007

Sonhar

Foi interessante como nos conhecemos, ele apareceu meio do nada mudando toda minha vida levando meu olhar só pra ele, me fazendo sorrir de um jeito novo. Tudo era possível com ele. Eu estava nas nuvens, fervendo o sangue, não podia ficar parada, o mundo tinha cores tão bonitas... Era tudo por causa dele. A gente foi se conhecendo bem, cada detalhe, cada centimetro um do outro, descobrinco as fraquezas, as didiculdades, mas as alegrias e a vida que ele trazia eram maior que qualquer coisa. Eramos nós dois contra o mundo todo. Sabe aquela coisa que tudo ao seu redor pode acabar porque você tem outros olhos pra serem seus cumplices? Era perfeito. Claro que tinhamos nossas briguinhas cotidianas, algumas dificuldades pelo caminho, mas tudo parecia me fazer querer ficar mais perto dele, desejá-lo ainda mais. Por um tempo eu olhava e ele estava tão perto, tão possível, com uma clareza límpida que fazia dele o mais bonito entre qualquer diamante. Eu não queria uma jóia, eu queria ele pra mim. Até que alguma coisa aconteceu... Nossas vidas seguiram rumos tão diversos. Eu o via com uma frequência pouca, ele mal falava comigo, e restou quase nada daquela nossa cumplicidade. Eu fiquei perdida sem ele. Eu fiquei ninguém sem ele. Eu deixei de existir. Nunca mais ouvi sua voz, e por um bom tempo, o tive como morto. Era melhor assim, para que eu pudesse tentar viver um pouco. Ás vezes me vinha uma lembrança rala dos seus olhos me encarando, da sua determinação em me conquistar, e eu apertava os olhos com força pra livrar minha alma de mais aquela dor. As coisas ficaram difíceis pra mim, eu pensava que não ia aguentar, pensava nele ás vezes, mas de que adiantava agora? Olha só onde eu estava, prostada e sem forças, abandonada por ele, não sei até hoje por quê... Talvez fossem interferências externas, outras pessoas entre nós, minhas infantilidades, não sei... Mas hoje resolvi dar um pequenino espaço para a memória. Vasculhei no coração qualquer traço que provasse que ele esteve naquele espaço, e encontrei muito mais do que esperava. Encontrei ele ali, jogado, encolhido, mal tratado, molhado de tantas lágrimas, sem a cor viva dos seus olhos, num cantinho do meu coração que eu nem sabia que existia... E sem saber o que dizer ele falou primeiro "Que bom que você resolveu procurar..." e então eu o reconheci, era ele...Meu maior sonho.

Um vez por mês

Eu queria chorar rios de ilusão, mas estou incapaz de produzir lágrimas. Estou tão cansada das minhas palavras que me dói a alma tentar pensar em alguma coisa boa. Mas eu sempre crio alguma coisa bonita, alguma histórinha de ninar pra me acalmar as queimaduras, e ver se amenizam meus inchaços. Tenho medo de descobrir que além de fé me faltou coragem, além de garra me faltou vontade, e além de uma oportunidade me faltou tentar. Eu queria um colo pra deitar, uma mão afastando o cabelo do meu rosto e aqueles olhos que me entendem sem que eu diga uma palavra. E eu queria um pouco de alguma coisa diferente, que entendesse minha falta de vontade pra isso tudo que é tão normal. Eu queria ter certeza de que não estou morrendo, de que ainda faço parte de alguma coisa importante que não meu próprio umbigo. Eu cansei de falar de você e dos meus personagens criados, no fim das contas eles acabam tão reais que me fazem sofrer como pessoas reais. Meus quartinhos onde eu meu escondo parecem esgotados, eu fico sozinha lá dentro por muito tempo, ninguém vem me ver, ninguém aparece pra cuidar de mim, e eu só vejo um pequenino sinal de existência do resto da humanidade com uma mensagem qualquer do tipo "alguma novidade?" Não, nenhuma novidade, as coisas estão "indo", "caminhando", estamos "aguardando" e toca o enterro porque a gente morreu faz tempo. E eu decido que não quero mesmo essa humanidade idiota, mas não quero mais ficar nesse quartinho sozinha... Eu só queria que um pouco do que tem na minha cabeça viesse pra fora pra brincar comigo... Eu só queria que você se importasse um pouquinho mais e a gente pudesse um pouco mais, e eu queria não querer tudo assim também, pra conseguir entender que está tudo certo e que o que acontece é que eu fico melancólica mesmo, pelo menos uma vez por mês.

Saturday, February 03, 2007

Sua falta

A sua falta é uma música que eu escuto sem entender a letra. É um livro que tento ler sem conhecer a língua. A sua falta é um estrangeiro que me assume sem saber minha história e, que me leva no papo sem que eu enxergue seus olhos. Não é saudade mal tratada, não tem gosto de reencontro esquecido, não me traz pensamentos de lembranças, não é algo que costumo sentir. Posso ligar a TV e te encontrar em qualquer um daqueles manjados atores, uma personagem qualquer, com uma roupa qualquer, e um charme exclusivo. Um olhar altivo que desperta interesse, desafia os sentidos e ferve o suor da pele. Mas essa sua falta eu não entendo, eu não leio, eu não assisto. Ela é quem me assiste, me invade a cabeça, me tira a roupa, me leva de onde eu estiver para onde você quiser. E como isso me confunde é um roubo de momento, é uma jogada de mestre, é a facilidade do meu afeto se entregando a ilusão desse sentimento. É você inexistente existindo com força dentro de mim. É a sua falta incompreensível que eu procuro não aprender pra não me acostumar de vez. É essa musiquinha gostosa que vive repetindo esses dias na minha cabeça...

Friday, February 02, 2007

Em obras

Não sei o que fazer com essa expansão desordenada dentro de mim. Eu arrasto as camas, quebro paredes, mudo as portas de lugar e vou deixando a casa aberta pros sentimentos chegarem. Aguardo por ele, observando os detalhes, arrumando os quadros, limpando as estantes, colocando uma musiquinha ambiente. Essa reforma me deixou mais melosa, mais carente, mais quente de sentir. Mas eu procuro a solidão em alguma sala já pronta, corro de mim pra não cair na real, quero qualquer pedaço de chão que já esteja pronto, que me motive a continuar. Eu já fiquei louca com esse cheiro de tinta, e o resto da casa tá muito, tá chato, tá igual, e meu amigo tédio me olha com uma carinha e me diz "Você ainda tem espaço...". Limpo o rosto com muita água, tento lavar o pó dessa obra... Eu já me acostumei com o barulho das britadeiras, você ainda não percebeu? E pra variar, por trás dos estrondos vem esse som de silêncio que eu to ouvindo há uns dias. Esse sonzinho que vem me ninar, vem me dizer que já chega, que essas paredes precisam ser mais fortes, que essa movimentação já cansou, que eu preciso de um pouco de paz. Então vamos lá, estou pronta pra finalizar essa obra, pra decidir enfim as cores dos cômodos e os móveis do quarto. Acontece que quando vai ficando pronto vem o tal do tédio me dizer que ainda dá pra melhorar o espaço. Eu não quero que ninguém ouça as paredes caindo de novo, que ninguém leia meus projetos, que ninguém venha embargar o que é meu. Eu quero só que o sentimento tenha um lugar bonito pra chegar... E cada minuto de espera é precioso, é doloroso, é o sentimento estranho, estrangeiro em mim, procurando um lugar pra parar, pra comer, pra se hospedar. Cada minuto é o sentimento querendo aprender minha língua, minha cultura, minhas atrações imperdíveis, e eu desesperada. Implorando que ele pare com os galenteios e suma logo da minha terra, porque eu faço tudo pra ele, mas nunca suporto o quanto ele me preenche. E ele me olha com compaixão, coloca as malas no chão, vai em direção ao balcão e fica esperando ser atendido... Eu dou ordem aos pedreiros que sumam dali e me deixem sozinha com ele. Ele sabe que vou atendê-lo bem, essa é a especialidade da casa. Mas eu me arrasto pra recepção, pesada, com medo de quanto tempo essa estadia vai durar, e se ele vai mesmo gostar das reformas que me consomem a alma. E ele lisonjeiro, calmo, sóbrio, olha tudo ao redor admirando meu esforço e me diz que vai ficar o tempo que eu quiser, mas eu sei, que logo ele vai embora, e vai deixar um enorme vão, suspenso apenas pelas vigas das suas lembranças e da vontade que ele volte logo.

Thursday, February 01, 2007

Um pouco de paz

Eu to melancólica desse tanto de mim. Eu to querendo um pouco de silêncio, um pouco de papel em branco, uma pouco de nada na cabeça e isso assim. Eu to querendo tirar essas caras da mente, desencanar das histórias, esquentar o friozinho na barriga e não sentir mais nada. Eu quero um pouco de paz dessa espera incessante, dessa dúvida maldita e dessa falta de fé que eu nem conhecia. Eu to querendo mais que palavras, menos ansiedade e um sussurro que diz tudo que eu queria ouvir. Eu queria menos de vocês e menos de mim, eu queria o vazio por um pouco pra ver se eu encho com alguma coisa que vale mesmo a pena. Eu queria menos vontade disso tudo, menos minha pele, menos loucuras e brincadeiras. Eu quero descansar um pouco.