Monday, November 19, 2007

Estórias

Estava longe de casa há tempo suficiente para esquecer o nome da sua rua. Havia saido para um passeio e resolveu olhar o mundo, cidade por cidade, pessoa por pessoa, para ver se reconhecia alguém. Procurou em mil olhos o mesmo brilho que tinha deixado pra trás. Vasculhou bocas e mais bocas atrás do gosto que satisfazia sua alma. Percorreu as ruas charmosas, os caminhos mais cultos, as vilas mais lendárias e encontrou histórias e mais histórias em terrinhas cheias de gente.


Por um tempo esqueceu porque tinha saído. Esqueceu de onde vinha e se batizou com outro nome num outro templo. Virou qualquer pessoa diferente, inteligente, viajada, com aquele olhar de cidadã do mundo. Por um tempo caminhou atrás de sua sombra pra ver aonde ela a levaria.


Acordou num quarto de uma cobertura numa metrópole européia. Se assustou com a altura do prédio e mais ainda com o mordomo trazendo seu suco preferido. Resolveu aproveitar o sonho maluco e usar um dos casacos de lã da índia que lotavam o mega closet. Tentou e tentou, mas não teve como não se perguntar em que momento tinha conseguido tanto dinheiro. Tropeceu na escadaria do prédio.


Sentiu um carinho gostoso, um toque de pele que a fez despertar devagar. Ouviu um sussurro "Está tudo bem meu amor...descance." E voltou a dormir.






Sunday, November 18, 2007

Essa nossa vida

Quando eu vou falo sério eu falo de você. Quando escuto uma música que amo e me faz pensar, penso em você. Quando a coisa é pé no chão, de verdade, coisa pra levar a sério e cuidar mesmo, é você que está no assunto. E eu não sei como a gente se envolveu tanto, assim como quando eu não consigo falar com você no telefone e fico vazia, sem ouvir a sua voz que me acalma e me preenche. Não sei quando foi que aconteceu que, quanto mais eu sou independente de você mais ligada eu fico a sua pele, mais saudade eu sinto num espaço ridículo de tempo. Ridículo porque todo e qualquer tempo longe de você é ridículo, assim como qualquer pessoa que eu pense em colocar no seu lugar, todo mundo é ridículo e chato e vazio. Eu não acredito que quando não falo com você minha cabeça, tão resolvida, tão treinada com livros e livros de terapia cognitiva, consiga pensar tantas situações em que você poderia estar. E eu fico louca de imaginar que você poderia estar sorrindo pra outra pessoa, que você poderia estar ouvindo e olhando com a sua cara de vontade pro corpo de outra mulher. Eu fico louca com a idéia da sua existência longe da minha. E eu não sei se isso é doença de posse ou amor engasgado, mas é o que eu sinto. Como nossas mentes seriam injustas se não deixassem que nossas vidas ficassem juntas, assim mesmo, misturadas, meio sem saber o que é de quem, mas tudo arrumado num espaço lindo. Sem você ia ser tudo muito chato, mesmo com a terapia cognitiva funcionando neste momento e eu entendendo que talvez você quisesse outra vida e que eu teria que respeitar isso, eu não poderia aceitar. De teimosa que eu sou ou de justa que sou com o que acredito. Eu prometo não contar esse texto pra ninguém, prometo que não conto pra ninguém o homem que você é quando fica comigo sem nada pra interferir. Prometo ouvir tudo que você quiser me dizer na mesa de um restaurante depois de um vinho ou um suco de laranja, e prometo ouvir e não contar pra ninguém o que você me disser no ouvido, puxando meu cabelo e enlouquecendo todos os pelos do meu corpo. Eu prometo, meu amor, cultivar essa nossa vida e eu não quero que o mundo saiba da gente, dessa parte nossa que é minha e sua e que ás vezes enlouquece até as palavras. Eu quero ser sua pra sempre.

Estacionamentos

A primeira vez foi no do supermercado. Logo ali, naquela vaga perto do poste de luz, atrás de um corsinha verde, tá me vendo? Tô parando atrás de você. Teve aquela no estacionamento do Macdonald´s, acho que era começo de tudo, a gente tava com fome. Um monte de gente passando pra comprar lanche e a gente comendo coisa muito melhor no estacionamento. No do shopping deu um pouco de medo, muito movimentado, tinha que interromper seus movimentos pra ficar de olho. Daí foi na frente daquela Igreja...até na Igreja. Depois do horário comercial paramos em uma empresa meio afastada, ali era seguro, o que não era mais seguro era você e eu. Teve uma vaga perto de uma faculdade, a gente falou mais do que outra coisa, acho que era o ambiente educacional, eu precisava aprender a não te beijar. Mas aquelas vagas foram ficando cada vez mais apertadas e difíceis de encontrar. Seu farol nos meus olhos começaram a irritar, eu queria ver mais você, mas ás escondidas nunca conseguia e resolvi estcionar com a gente de vez.

Sunday, October 14, 2007

Olhar

Fica mais difícil depois de algum tempo. Começar uma frase costumava ser se não mais natural, mais inspirador. E são tantas coisas pra transcrever que se misturam numa bagunça de pensamentos e todas as palavras parecem repetidas. Será que eu já escrevi esse texto? É tudo novo, mas com um perfuminho de uma história já conhecida. Eu não sei se as coisas se tornam difíceis porque é assim mesmo que tem que ser ou porque de alguma forma nos tornamos mais preguiçosos. Resolvi escrever esse texto sem olhar para as primeiras linhas, assim mesmo que não faça sentido. São essas coisas novas que acontecem que deixam pra trás coisas tão importantes em outros momentos. Mas é tão difícil não olhar pra trás! Se tudo que agora é tem um pouquinho do que foi não posso deixar de dar ao passado esse crédito e olhar com vontade para o futuro que me dá um pre-view excitante. E meus olhos querem enxergar tudo de uma vez só, querem muito mais do que podem num raio de visão, e quando eu estou quase convencida de que não dá pra enxergar mais nada além, eles se fecham, me mostrando que não há limites. Eu possso enxergar o que eu quiser.

Sunday, September 09, 2007

Se ela soubesse

Se ela soubesse que a vida tinha tantas faces teria trazido mais roupas pra se apresentar. Teria mudado o cabelo pra parecer um pouco mais madura e menos inexperiente pra esse monte de situações que apareciam em filas pra ela resolver. Mas tudo bem, ela atendeu a porta assim mesmo, do jeito que estava. Abriu as janelas pro vento correr e a vida saber que estava em seu território, e ali quem mandava era ela. Quis fazer pinta de dona de si, tipo dona da história, mas quando o papo começou, desabou em seus sentimentos largados todos em cima do sofá. Do mesmo jeito que tinham ficada da última vez que usados. Jogados por todos os cantos da sala, caidos pela escada, escorrendo pelas paredes. E a vida lhe deu um abraço querido, olhando triste praquele monte de amor querendo sair pela porta, escondido no quartinho dos fundos. Foi ao banheiro se recompor, lavou as vergonhas do rosto mas nos olhos ficaram os brilhos do desabafo. Voltou pra sala um pouco melhor, mais certa de que a vida entenderia sua dúvidas, afinal ela era apenas humana. Foram esses pensamentos e esse momento de baixa guarda que a fizeram ficar tão supresa ao não encontrar mais a vida em sua sala. Reparou na bagunça que estava sua casa, e como no final de uma festa começou a recolher seus sentimentos do sofá. Limpou as paredes de todas as mágoas, tirou os tropeços das escadas, os restos de saudades de cima da mesa de centro. Jogou no lixo as discussões que tumultuavam a pia da cozinha, guardou em seus devidos lugares as lembranças que estavam empatando o caminho em seu quarto e assim foi organizando sua casa...sem entender porque a vida encurtou a visita bem quando tinha ficado á vontade pra falar. Quando terminou, estava exausta, caiu no sofá com o corpo suplicando por descanso. Alguém bateu na porta, ela mal acreditou porque não queria levantar daquele sofá por nada! Mais algumas batidas e a porta se abriu, era a Satisfação, que aparecia tão pouco por aquelas bandas... Não disse nada, foi até o quartinho dos fundos e abriu a porta. Pronto, agora eles tinham espaço pra circular.

Sunday, July 29, 2007

Criações


Invenções descabidas e mentes que não se cansam de pensar e pensar e pensar nessa vida louca. Inventamos primeiro com jeitinho, meio tímidos, com um medo gigantesco de expor qualquer idéia defronte das máscaras. Então a coisa começa a se mostrar interessante, desafiadora, tentadora e proibida. Inventamos mais coisas, mais palavras, modos e modas, mas ainda dentro de particularidades para se manter seguro no mundo das invenções. Daí vem o tédio, um tédio enorme de mesmisses e repetições, e pessoas brigando por bobagens, e pessoas esquecendo que liberdade é aquilo que funciona pra cada um, e você tentando inventar um meio de acabar com o tédio do universo. Então sua mente explode. Explode em um bilhão de invençõeszinhas, pequenas e loucas pra fazer alguém feliz. Elas pulam por aí, em forma de letras, de sons, de olhares, de sorrisos, de gestos e imagens. Elas estão completamente livres e expostas, e daí? O medo faz você querer muito mais dessas explosões, já que é pra inventar que invete muito mais do o que mundo! Sem controle, sem pretesões, mas com um único objetivo de ser e fazer feliz. Talvez piegas diante de um mundo tão destruído? Talvez lindo diante de olhos esperançosos... Talvez tudo diante de quem não se cansa de inventar moda.

Saturday, July 21, 2007

Moda de escrever

Dei um passei pelos blogs do mundinho fashion pleno sábado a noite. Namorado doentinho, frio, cansaço da semana e da noite de sexta...vamos dar uma olhada no mundo da moda. Muita coisa boa, muita coisa repetida, muita coisa incrível e muita, mas muita mesmo, gente interessante com algo a dizer. Não costumo escrever sobre moda no blog, uso o espaço pras minhas viagens e histórias sem fim, mas dessa vez não resisti, mesmo porque, mais envolvida com o mundinho, é até minha obrigação fazê-lo. Mas como já existem centenas de ótimas opção para saber das notícias das últimas da moda resolvi escrever um texto mais reflexivo e que combina mais comigo. O que me pega na Moda é essa mistura de idéias, costumes, atitudes, sons, tudo muito rico de pensamentos. Tudo na Moda têm algo a dizer, não vem a toa. Por mais fútil que pareça tem uma história por trás de tudo! E são essas histórias que me fascinam. São as possibilidades de relacionamentos, de trocas humanas, que a Moda proporciona de uma forma dinâmina e divertida. Vamos falar a verdade: Ninguém resiste ao mercado de moda. O meu lance sempre foi mais o business, o backstage, a construção da história. E esse mundo continua a me surpreender todos os dias, a me decepcionar todos os dias, e me faz muito feliz com a escolha que fiz de trabalhar na área. Novinha ainda minha carreira, o que acho muito bom, porque quer dizer que ainda vou descobrir muito, aprender muito, me decepcionar e me surpeender muito. Cruzar com muita gente boa e como diz Erich Fromm "Todo contato humano gera uma mudança", muita gente pra conhecer como coisas pra mudar e eu adoro todas essas possibilidades de viver mil histórias nesse mundinho que de pequeno não tem nada.

Sunday, July 15, 2007

Protagonista

Não se trata de pudor, moralismo, imagem social e muito menos educação. Se trata de uma hipocresia insana e tediosa que me afronta todos os dias. Um tédio dessas coisas manjadas e cansadas, palavras, roupas, atitudes, textos, histórias e situações que se repetem, repetem, repetem e me deixam completamente louca de raiva da mesmisse da sociedade. Mas o que a linda aqui faz pra mudar?? NEWS FLASH: Nem 1% do que poderia fazer. Afinal sou um ser humano como todos e sofro das minhas mesmisses eu mesma, e tenho que lidar com elas todos os dias, correndo pra um lado e pro outro tentando ser uma pessoa melhor porque acredito que isso é missão básica de qualquer um. Então fico com as minhas neuras e sonhos, me dizendo que qualquer dia eu faço tudo que tenho vontade e me torno uma pessoa mais disciplinada e compromissada e também mais livre e independente. Mas daí como é que eu faço isso tudo sem magoar pessoas que amo? Taí meu desafio, porque a vontade as vezes é de tentar essa história de viver sem laços pra experimentar sabores e cores sem dever nada pra ninguém, mas eu sei que a verdade é que sou daquelas pessoas que ama histórias com começo meio e fim, ou seja, não posso viver sem laços, relacionamentos e casamentos. Tudo na minha vida tem que ser envolvente, se alguém passar por mim tem que se envolver com a minha história, se não, melhor que nem apareça. Qualquer história que eu começo, faço com o maior cuidado, pensando nos três atos, mas o final eu nunca sei. Porque gosto mesmo do processo, da dúvida e expectativa de como vai ser. Gosto mesmo do mistério, da descoberta, do sentimento gostoso de experimentar pela primeira vez uma coisa com a qual eu já sonhava a tanto tempo. Eu gosto dessas peças se encaixando, dessas palavras formando frases, parágrafos, textos, livros, lendas. E me irrita que exijam tanto de mim quando eu ainda estou no meio da história. Me irrita que julguem meu personagem assim logo na primeira cena e me tachem de cinderella sem saber o que eu visto por baixo. E se eu fizer como as celebridades ou aspirantes ao cargo e mostrar um pouquinho da intimidade em um editorial de uma revista legal as pessoas me olhariam de outro jeito me dariam mais respeito por eu fazer a mesma coisa que elas. É isso que me irrita, nem as pessoas que mais me conhecem deixaram de fazer esse julgamento! Assim, no início do ato? Assim sem esperar o clímax e o desenrolar das coisas? E eu estou fadada a ser a cinderella numa história que termina com "E viveram felizes para sempre"?? Como assim? O que foi que aconteceu depois? Não me prenda nessas páginas que todo mundo conhece de cor! Eu quero saber depois que a cinderella tirou o vestido e o príncipe mostrou a espada. Quero saber se eles aproveitaram todos os cantos daquele castelo! Sem hipocresia, o que interessa é o que vem depois. A história bonita, o ultrapassar obstáculos, crescer, se desenvolver, é assunto individual de cada um, é o que temos que fazer todos os dias, a moral da história é de onde se começa a escrever! A coisa fica interessante no meio, no processo, nos deslizes de sentimentos, de emoções, de tesão. A coisa fica boa quando no meio da dificuldade você tem coragem de esquecer de tudo e se trancar num quarto com alguém que ama e ficar lá pelo tempo de durar o calor do sangue! E depois conquistar novas terras. Mas não, a cinderella não pode assistir filmes pornôs, ela pensa que aquelas meninas são muito más e filhas da bruxa do castelo do lado. Faça me o favor... A minha cinderella é muito mais esperta pessoal. E o que é difícil de entender é que é possível ser as duas coisas. Mas eles não entendem...eles preferem falar besteiras com mulheres que julgam serem aptas para o trabalho. Enquanto isso a cinderella fala besteiras no ouvido de outro e a história vai ficando triste e mais triste com tanto tempo perdido com pré-julgamentos. Mas se você prestar mais antenção, vai ver que o livro não acaba no óbvio, que a personagem principal é aquela que é passível de mudança e o escritor pode usar toda sua criatividade com ela. Muito prazer...essa sou eu.

Sunday, July 01, 2007

Uma carta do presente futuro

Se você me dissesse que isso aconteceria talvez eu desse risada na sua cara. Talvez ficasse muito brava pela sua pretensão, mas jamais, jamais acreditaria que nosso mundo fosse virar o que virou. Se há um tempo atrás eu te dissesse que seriamos tão felizes, você daria aquela sua risadinha gentil de quem não acredita, mas se sente lisonjeado por eu gostar tanto de você. Ou talvez você me desse um dos seus discursos de como as coisas não são assim e como tenho que me contentar com a realidade. E há um tempo atrás eu te olharia com outros olhos, olhos de meninas, de curiosidade, de vontade, de uma carência do tamanho do mundo e um monte de sonhos de fadas na cabeça. Meus olhos agora se comportam um pouco mais, te olham com outras vontades, com outras verdades, e muito mais certos do seu carinho. E você poderia me desvendar como o maior mistério o mundo, me descobrir como o segredo que o universo guarda a sete chaves, mas sua carinha desprentensiosa, de que tudo no mundo é de um jeito só e não tem como mudar, acabava com todas as suas oportunidades de me ter mais do que já tinha. E há algum tempo atrás eu ficaria bem triste por isso, brigaria com você, derramaria minhas lágrimas de desconforto que conquistam qualquer um. E se eu te dissesse nessa época que tudo mudaria e que nós seriamos um daqueles casais mais felizes do mundo, você baixaria os olhos com pesar, por não acreditar em mim. Mas o tempo sempre surpreende o que o estômago espera. E a ansiedade de viver intensamente acaba explodindo em mil histórias que confundem sua cabeça, e te deixam cada vez mais louco por mim. Eu sei, se me dissessem que isso seria assim, eu ficaria desconfiada, envergonhada, e não acreditaria nunca que alguém perdesse totalmente o rumo e só conseguisse sentir o meu cheiro. E se você me dissesse que eu me tornaria assim tão irrestível, eu com certeza daria muita risada com aquele meu olharzinho de vontade pra você. Mas como diziamos no passado, a vida é assim mesmo, linda, sempre pronta a aprender, a arriscar, a mudar, a se tornar o melhor que pode ser. E aquele seu medo enorme de se envolver comigo, de se perder em mim, deve ter diminuido um pouco, porque a cada vez que nos falamos eu ouço sua voz um pouquinho mais alto, um pouquinho mais fofa, um pouquinho mais grudada em mim. E nossos mundos continuam a se envolver, a se cruzar, e a entrar um no outro daquela nossa maneira louca que faz tudo ter sentido por alguns momentos. Mas se nós tivessemos que adivinhar que daria tudo tão certo pra nós dois, que as coisas ficariam assim tão mais gostosas do que nunca, mais apaixonados do que nunca, mais loucos e mais vivos, nós com certeza ficariamos irritados um com o outro pela pretensão um do outro de se achar tão irrestível assim. E depois de mais uma longa discussão, aquele beijo nos daria a esperança que precisávamos pra chegar até aqui.

Sunday, June 03, 2007

Nos próximos vinte e cinco anos

"Perguntaram-me uma vez se eu saberia calcular o Brasil daqui a vinte e cinco anos. Nem daqui a vinte e cinco minutos, quanto mais vinte e cinco anos. Mas a impressão-desejo é de que num futuro não muito remoto talvez compreendamos que os movimentos caóticos atuais já eram os primeiros passos afinando-se e orquestrando-se para uma situação econômica mais digna de um homem, de uma mulher, de uma crianaça. E isso porque o povo já tem dado mostras de ter maior maturidade política do que a grande maioria dos políticos, e é quem um dia terminará liderando os líderes. Daqui a vinte e cinco anos o povo terá falado muito mais." Clarice Lispector em 16 de Setembro de 1967.
Quarenta anos depois de escritas estas palavras o cenário brasileiro de Clarice ficou longe de sua impressão-desejo. Os movimentos a que se referia reuniam jovens cheios de vontade de mudanças, cheios de garra para lutar pelo que acreditavam. Envolvidos em uma batalha política pelo país, independentemente de que lado estavam, cada um tinha um motivo e um sentido para agir como agiam. São alguns dos nossos líderes de hoje, nisso Clarice estava certa. Mas como mudou o cenário e os motivos é que é a questão. A sociedde se desenvolveu de uma forma diversa, e arrisco dizer, de uma forma perversa. Os líderes que temos hoje sabem o que a educação, a informação e a cultura podem fazer a um governo. Eles usaram destes artifícios para chegarem onde estão, mas junto nesta conquista, fecharam o cerco pra futuros contestadores. Os Universitários pela primeira vez em anos se reunirão e organizaram uma manifestação digna dos ouvidos do governo e do povo. Mas por quais motivos? Moradias estudantis, melhores condições para os professores, "autonomia universitária"? Enquanto isso o congresso aprovou o aumento de 28% dos próprios salários, enquanto isso o Presidente do Senado não explicou nada das inúmeras acusações, sem contar o vexame sobre o relacionamento extra-conjugal. Enquanto isso a Polícia Federal indicia mais e mais personalidades que gerem nosso país e Cpis e mais Cpis são instauradas, mas os universitários continuam ocupando a Reitoria por sua "autonomia" e moradias. A iniciativa é um sinal de que ainda há vida nesse país. Os motivos mostram que a maturidade política que Clarice acreditava estar se consolidando, sumiu de dentro de nós há muito tempo. A rádio Joven Pan tem mostrado em uma série de reportagens o nível da educação brasileira, onde crianças cursando a quarta série dizem que o Presidente do Brasil é Pedro Álvarez Cabral. Duda Mendonça não conseguiu comunicar Lula pra elas. A situação caótica não é só no Brasil, em muitos lugares do mundo a educação é falha, em muitos lugares a fome é regra de sobrevivência, a pobreza é rainha e os governantes vivem com muito mais dinheiro que seus salários. Minha intenção aqui não é jogar pedras no povo brasileiro, mas é chamar um pouco a atenção de alguns seres humanos, independente de sua nacionalidade, para que olhem pra dentro por um segundo. Olhem para si mesmos, porque olhar pro mundo é desesperdor mesmo. Olhando pra si, cada um entenda que tem responsabilidade sobre a pessoa que é, e que lutando para que seja alguém melhor, no sentido humano, o mundo passa a não ser tão assustador assim. E a pessoa do lado passa a ter uma importância, e todas as suas atitudes passam a não serem isoladas e egoístas, mas têm um motivo, um sentido. E então é podemos perceber que a vida é muito mais possível do que parece, e poderemos falar e agir muito mais, e o texto de Clarice pode voltar a ter validade.

Wednesday, May 16, 2007

No quentinho do silêncio dele

Não fazia muito tempo. Ela ainda tinha na pele a sensação do corpo dele. Ele estava em qualquer outro lugar, com certeza sozinho, porque não era desse mundo. Ela lembrava dele como se lembra de um filme que assistiu, um conto de fadas que ouviu a avó contar ou uma dessas histórias que a gente dá um leve sorriso no final, como que dizendo “que bom se fosse assim de verdade”. Não tinha lugar na casa. Já tinha tentado a cama, a cadeira de sol na varanda, a cozinha pequenina e aconchegante, o banheiro quentinho e cheiroso do banho que acabara de tomar, acabou no sofá. Esparramada. Até meio torta e desconfortável, procurando fazer algum músculo doer que não fosse o coração. Ligou a TV pra mergulhar a cabeça num seriado desses que tem tudo perfeito, até nas tragédias eles são perfeitos! É impressionante... O mocinho bonito não lembrava ele, mas ela ainda pensava no que ele estaria fazendo naquele momento. Provavelmente conversando um papo muito bom com alguém, regado a um bom vinho num restaurantezinho que poucos conhecem e com pouca luz. Uma amiga talvez? Poderia ser uma prima... Uma amiga de infância que ela adoraria conhecer! Quem será que é a vaca que está com ele agora? A mocinha dá um tapa na cara do mocinho, que não lembra ele em nada, e sai de cena segura de si, para aparecer choramingando numa cama enorme e fofa num quarto cheio de coisas caras de decoração. Ela olha de novo pro celular, pensa que ouviu um barulhinho, ou foi uma vibração, ela sempre deixa o celular pra vibrar e muitas vezes perde as ligações ou mensagens. Mas era só seu estômago, vibrando de ansiedade de uma coisa que ela nem sabia se existia mesmo. Foi pegar alguma coisa pra comer, pra fingir que o que o estômago tinha era fome e não saudades. Olhou no armário em cima da pia, nas prateleiras no canto da geladeira, nas gavetas ao lado do fogão. Nada. Ela tinha acabado de fazer compras, mas não tinha nada que tivesse o gosto dele. Preferiu tomar um chá, sem açúcar, pra protestar a insipidez do mundo. A música da vinheta do seriado tocou e ela sentou de novo, um pouco mais confortável, pra aguardar a outra séria que iria começar, um pouco mais disposta a fingir que aquilo ajudaria. Refrigerante Light e uma gostosa na praia; carrão que anda em qualquer terreno; mulher voadora que usa o perfume das nuvens; “escreva o que você mais gosta na Melani e no Jack e vá conhecer as estrelas em Los Angeles com direito a um acompanhante!” Não ofereceram a ele como prêmio praquela que conseguisse acreditar em amor nos dias de hoje. A TV hoje em dia não oferece nada de bom. Levantou impetuosa, com pose de decidida, e quem a assistisse acreditaria que ia sair de casa com um objetivo. Deu o primeiro passo e a pose escorregou pelo piso de madeira. Talvez fosse sua pressão, não estava se alimentando direito nos últimos dias, ou então fosse a pressão da vontade dele espremendo seus órgãos e sugando seu vigor. Sentiu algo úmido no rosto, passou as duas mãos na pele e tentou não se desesperar quando percebeu que seus olhos estavam derramando lágrimas de amor. Mas quem poderia diagnosticar que era disso que sofria? Uma doença tão rara, não podia acontecer com ela. Ainda mais nos dias de hoje! As pessoas fingem estar contaminadas pra conseguirem os poucos benefícios, que os mais velhos, que presenciaram a verdadeira epidemia, dizem que a doença traz. Ela não! Uma mulher jovem, moderna, independente. Não acreditava em contos de fadas há muito tempo! E pensar que a última coisa que ele lhe disse foi para que nunca deixasse de acreditar no que a fazia viver. Entregou-se ao chão frio. Abraçou as pernas e permitiu-se sentir tudo que fosse oferecido àquele momento. Fechou os olhos com força e obrigou o cérebro a mostrar todas as imagens dele que escondia atrás das desculpas e argumentos. Ela só queria ver seu rosto mais uma vez. Ela só queria se permitir acreditar por alguns segundos antes de voltar ao mundo cruel e real, que lhe chicotava verdades nas costas criando feridas incuráveis. Ela só queria acreditar com muita força que ele poderia existir, em algum lugar, levando sua vida numa boa e feliz como alguém desenvolvido e humano sabe fazer. E deixou seus músculos relaxarem naquelas imagens, deixou sua mente ser feliz com coisas que não podia tocar com as mãos. Deixou a felicidade invadi-la como uma tempestade que muda tudo. Sentindo-se confortável naquele chão duro, frio e solitário. Eram as alucinações da doença. Ele se importava. E era isso que tinha mudado tudo nela. Uma autenticidade que ela desconhecia nas plásticas dos rostos que encontrava todos os dias. Uma vontade de relacionar-se e idéias de mudar o mundo na cabeça coberta pelos cabelos mais lindos que ela já vira. Ele não podia ser deste mundo. Amava-a com a sinceridade de sua existência, mas ela não acreditava que ele era real. Ela sabia que ele devia ter outras mulheres pra se distrair. Sabia que ele navegava por sites pornôs atrás de loiras enquanto ela era morena. Sabia que devia distribuir suas atenções a menininhas encantadas com a vida bem sucedida e as idéias de um mundo melhor. Ela pensava que sabia de tudo. E por mais que ele insistisse em ser fiel e em não fazer coisas que pudessem magoá-la a este ponto, ela não conseguia acreditar, já estava magoada. Ela foi obrigada a desacreditar no amor. Foi obrigada por tantas coisas ruins do mundo a não crer mais que tudo isso de tão bom pudesse existir em um mesmo ser humano. Ela não acreditava em contos de fadas, por mais que estivesse jogada no chão do seu apartamento, esperando que o príncipe a resgatasse de seu calabouço emocional. Esperou até ele não vir, e levantou com a dor de mais uma chicotada. Lavou o rosto, e lá se iam mais algumas de suas esperanças e sonhos, pelo ralo abaixo. Será que dependia dela? Será que estava fadada a morrer com aquela doença horrível e tão gostosa? Será que ele estava pensando nela também? Será que amanhã acordaria viva? Talvez amanhã ele ligasse. Talvez amanhã ela ligasse. Ficou no escuro pensando em coisas horríveis que podia fazer para se convencer de que estava mesmo doente e que doença nenhuma serve para bem algum, e portanto, ela estava certa, ele era igual aos outros e nada de especial havia naquele conto besta que ela inventava na cabeça. Foi até a casa dele. No meio da noite. Louca para encontra-lo na cama com outra e todas as suas esperanças serem assassinadas pelo óbvio mundano. Ele atendeu com uma cara de bravo, nunca gostou de surpresas. Ela não sabia o que falar, e seu discurso se esvaiu na visão dele ali na sua frente. Ele a pegou pela mão e colocou-a pra dentro. Fechou a porta e coçando os olhos ofereceu-lhe um leite quente. Ela só disse “não” com a cabeça, ainda muda e não sabendo o que esperar. Ele foi sonolento pra cama desarrumada e deitou. Ela ainda sem saber o que fazer. Ele levantou de novo, pegou-a novamente pela mão e a fez deitar com ele. Abraçou-a e colocou sua perna sobre o quadril dela, como se ela fosse um ursinho de pelúcia, e dormiu em menos de um minuto. Ela ficou lá. Embaixo dele. No quentinho de um amor verdadeiro que ela acabara de aceitar pra sempre.

Sunday, May 13, 2007

Visitas periódicas de uma paixão á um amor verdadeiro

Não tem nada pior do que magoar alguém que se ama. Não tem nada pior que o olhar vago, vazio, insensível, decepcionado. Triste como as cores que se apagam com o tempo. Dolorido como uma lembrança ruim que não vai embora. Você sempre me disse que não tem nada pior que isso. Você sempre tentando tratar a todos o melhor possível e não magoar ninguém. Você sempre preocupado em fazer a coisa certa e ser desse seu jeitinho amável com todo mundo. Mas não está em suas mãos. Você não sabe que me magoa nas coisas que não me diz e pensa que eu não vou saber. Está no cheiro da sua pele, esta no seu olhar diferente, esta na falta do seu toque, esta na raridade do seu desejo. Está impregnado no silêncio dos seus atos, que acreditam tão convictos que não me magoam, porque acreditam convictos, que eu não sei. E a dor está no ciúmes que eu sinto de saber da atenção que você dá por aí, uma atenção que eu egoísta e mimada queria só pra mim. A dor está no seu silêncio que eu tenho que assumir, pra que as coisas continuem assim. A dor está na sua falta de cuidado, alienado em não magoar ninguém, enquanto distribui cuidado afora, certo de que eu sempre vou estar aqui. Está na sua falta de atenção. Enquanto gasta suas letras com outras mensagens do seu celular, esquece de mim. E tantos querendo chamar a minha atenção que só tem olhos pra você. E eu brigando com esse mundo imbecil com toda força que tenho e que não tenho, pra provar que o amor e o relacionamento ainda existem sem interferências dessa loucura. Eu caindo e levantando, sozinha, sem você saber, pra não te magoar. Eu ouvindo histórias mal contadas e segurando meu estômago, e cuidando da minha mente, pra não te magoar. E eu com a minha vontade louca e com as opções nas minhas mãos, sempre escolhendo você, você e você. Solta... como não deveria estar, mas grudada no seu amor. Acontece que você sempre tem razão, você sempre sabe melhor, e o erro deve ser meu. E eu devo estar louca, devo ser neurótica, sempre quero mais do que qualquer um pode me dar. E sou eu quem sempre te decepciono, sou eu quem sempre falo na hora errada e quem estrago o curso natural das coisas. Mas também sou eu quem carrego o peso da decepção nos ombros, em cada olhar que vocês desvia, em cada mentira que você conta e eu não posso questionar pra não te envergonhar, em cada vez que você foge de ser homem. Mas a menininha sou eu, dependente e indefesa, com o estômago fraco, com os pés nas nuvens cor de rosa, dando o sangue pra não sucumbir num mundo que insiste em me dizer que tudo que acredito não existe. Que homem é tudo igual, que ser única pra alguém é ilusão, que ser fiel é ingenuidade porque o relacionamento fica até melhor quando você se solta com outra pessoa. É preciso experimentar, fazer o que tem vontade... se perder nesse mundo ao invés de se perder com alguém que ama. E eu sempre procurando um espacinho pra me perder com você, e você sempre moralista, sociável, mantendo a pose de bom rapaz. E o nosso amor, que já é tão certo, sem nenhuma visitinha da nossa paixão. Esta, prefere se exercitar pelo mundo afora, dando atenção por aí, e deixando um enorme vazio por aqui.

Thursday, May 10, 2007

AQUELES

Eles pensam que podem tudo. Eles têm alguma consciência de mundo, mas parece ser pouco perto da vontade de satisfazer o próprio ego. Eles são muitos, são bonitos, são feios, são bem vestidos e educados. Eles param na calçada e rasgados fazem suas necessidades na rua. Eles querem loucamente ser diferentes uns dos outros, e eles morrem de medo de não fazer parte da roda por ser diferente. Eles acreditam em Deus, em imagens, em Mitologia e ciências ocultas. Eles fazem macumba, eles intercedem pelo próximo, gritam o nome do novo papa e se apunhalam pelas costas. Eles são políticos, são inteligentes, são negociantes, falam bem. São analfabetos, são manipuladores. Eles se divertem, eles têm prazer, eles matam por prazer. Eles interagem entre si e com a natureza. Eles brigam uns com os outros e queimam seu próprio mundo. Eles riem com sinceridade, eles olham com amor, eles esquecem rápido do que importa e lembram rápido de reagir á dor. Eles fingem, atuam, inventam, se iludem, gritam todos os dias pra si mesmo que é assim que deve ser, porque não escolhem ser diferentes. Eles procuram em todos os lugares, eles se conformam, eles são curiosos e o que a TV disser é verdade. Eles escrevem, cantam, dançam, pintam, esculpem, praticam esportes. Eles são deuses. Eles são demônios. Eles moram no espelho do banheiro da sua casa.

Tuesday, April 24, 2007

A luz no escuro

Quando tudo parecia igual ao tudo mais e minhas esperanças de realização fugiam correndo doidas por todas as portas, todas as minhas luzes se apagaram. Desse jeito mesmo, repentinamente. Um apagão de ilusões que fez todo mundo em mim parar pra entender o que estava acontecendo. Ficou um tempo sem luz. E já que estava tudo uma bagunça mesmo, resolvi deixar assim, pra ver se conseguia descansar um pouco dos projetos não terminados que gritavam na sala ao lado. Meu escritório parou por falta de luz, e de onde vinha o problema ninguém sabia. Só quem gostou foram minhas emoções que ficaram deitadas acostumando os olhos ao escuro enquanto todo o resto de mim brigava e se pervertia nos cantos escondidos. A luz começou a piscar, ia e vinha, como numa provocação me dizendo que talvez eu nunca mais teria por completo a dádiva da claridade. Me acostumei com o escuro. Aprendi a andar sem bater as canelas ou tropeçar nas minhas intenções jogadas por aí. E quando os olhinhos das emoções finalmente puderam ver no escuro, a luz se acendeu. E eu observei o ambiente diferente... com cores novas, formas que eu tinha esquecido...coisas que eu gostava tanto logo ali, ao alcance das minhas mãos. Percorri aquela área tão familiar e tão absolutamente nova, com a sensação de estar voltando pra casa, pro me quarto e minha caminha gostosa. E estranho saber que estava tudo sempre ali. As minhas esperanças estavam sentadas na sala de espera, como se tivessem sido atraídas pela luz. A loucura que tinha bagunçado o lugar aproveitou a escuridão pra fazer uma limpeza, e as salas tinham até novas pinturas. Ainda restavam algumas discussões na mesa de reuniões, alguns sonhos na caixa de pendência, mas estava tudo tão organizado que eu mal reconheci aquele espaço. Mas isso foi por pouco tempo, porque já que estava claro consegui ver de onde tudo aquilo vinha, e pedi pra que a luz não me deixasse mais, que eu seria mais cuidadosa e grata a ponto de valorizar aquela história que ela me proporcionava. E não senti raiva pelo tempo do apagão, porque agora mesmo no escuro, eu estava preparada pra enxergar.

Monday, April 16, 2007

Sociedade de Merda

"É mil reais por mês que vou ter que tirar do meu bolso pra pagar as contas!" disse a proprietária de um dos bares do Rio de Janeiro que teve as máquinas caça-níqueis recolhidas de seu estabelecimento. "Ele é Ministro, tem poder para assinar a liminar que quiser. É um homem bom, um homem direito. Agora, seja quem for que esteja envolvido nisso vai ter que pagar!" disse o advogado do Ministro, irmão de um dos indiciados na máfia da jogatina. "Alguns moradores jogam o lixo onde passa o caminhão, mas a maioria joga aí no corrego mesmo!" disse a moradora do bairro onde o corrego foi apelidado de "Arco-Íris" por receber cada dia uma cor diferente da fábrica de tintas que não quis atender a equipe de jornalismo. "Os carros agora serão equipados com alarme para quando crianças forem esquecidas no banco traseiro..." anunciou uma matéria no jorna na televisão. Não sou socióloga, e aliás, graças a Deus, porque se fosse estaria numa cama de hospital com pane no meu cérebro tentando entender e explicar a selva que surpreende a cada dia. Não vou escrever um texto daqueles "O que virá a seguir? " "Onde vamos chegar?" " O mundo está acabando!" porque a verdade é que nada adianta. O ser humano não quer fazer nada, escolheu o caminho mais fácil. Escolhe a cada dia não pensar, não criticar, não se dar ao trabalho de individualmente ser uma pessoa melhor para no mínimo fazer a sua parte em seu ambiante. Estamos ocupados demais vendo qualquer coisa na TV, comendo qualquer uma no Motel, matando aula pra fumar qualquer coisa, ocupados demais pra assumir que somos covardes, medrosos e patéticos. O ser humano clama ser livre, e se amontoa em grupos de estatísticas e tribos que dizem com convicção serem orginais, pertencer a algo é mais seguro. Tem medo de ser um indivíduo, de usar um pouquinho a mais da capacidade de seu cérebro e descobrir a merda em que deixou seu mundo. Pensa que seus pensamentos são seus, pensa que suas atitudes são livres, pensa que tem opinião e finge que pensa. Pensa tristemente que vive, durante a sobrevivência deseperada de todos os dias. Desesperada por um significado, um motivo, uma frase que lhe venha a mente que lhe seja original, não é preciso ser verdadeira, contanto que seja sua. Mas não, nem seu corpo é seu, é de alguma empresa que tem todo o poder sobre sua imagem e estampa seus medos e seus vazios na capa de revistas para voyeristas sedentos. Não temos mais nada. Os pensadores morreram, os filósofos viraram artistas da TV, os jornalistas reinvindicadores respondem como ministros, os revolucionários estão no poder e não querem sair de lá tão cedo, os artistas estão escondidos nas lembranças de uma época de luzes que mais parece sonho, os escritores dissertam sobre o "Lemão", os jovens estão hiptonizados com a imagem do espelho, as crianças estão esquecidas em carros parados e em movimento... não nos sobrou nada.

Sunday, April 08, 2007

Sexo Casual -Começo, meio e fim.

É possível sim. Descobri que é totalmente possível essa história de não sentir nada. De viver um rolinho aqui outro ali, de ter pessoas na sua vida que não passam da porta da frente, apesar de já terem visitado todos os seus cômodos. O polêmico assunto do sexo casual. Os homens fazem desde sempre, as mulheres aprenderam a brincar, mas na cabeça de alguns é simplismente inconcebível a idéia de tal assassinato da alma. Porque é isso que acontece sabiam? Você faz sua alma dormir por algumas horas, enquanto dá conta dessa moda pra ficar na moda. Ou não, ou só porque o sexo é bom mesmo e pronto. Assim sem motivo, sem sentir nada. Porque somos seres capazes de qualquer coisa, até de sentir nada. Mas como as pessoas fazem isso com facilidade é que me intriga. Como funciona esse jogo de largar pessoas pelo caminho? Quais são as regras dessa brincadeira de não sentir nada, e ver as coisas boiando sem vida? É tão pouco... TÃO pouco! E a pessoa consegue não se preocupar se ela chegou bem em casa depois da noite sem significado mas cheia de prazer. Consegue não ligar pro que ela esta passando na vida, se está feliz ou triste, se tem alguma coisa a dizer ou não. É impressionante essa gula pra satisfazer o corpo, não importa o quanto os olhos dela digam, não importan quanto seus beijos sinalizem, ele está ocupado demais com coisas clichês. E sabe o que eu penso de verdade? Que quando a alma se envolve, não há prazer maior. Não tem como competir com a explosão de emoções! Mesmo sendo possível não sentir nada, não vale a pena. É uma escolha, você pode querer sentir ou não, pode encarar a situação como uma pessoa moderna que sabe dividir as coisas, mas o se envolver com pessoas é tão melhor, o desenvolvimento é que é o interessante! Ouvir histórias, saber dos gostos, reparar nas manias, dar risada dos gestos e jeitos... É tão melhor aproveitar a pessoa por inteiro e não só a embalagem! Tudo bem, eu concordo que as coisas podem ficar complicadas, que a paixão pode crescer e perder o controle, mas aí sim é hora de ser uma pessoa ultra-moderna e saber dividir as coisas, saber tomar a decisão de dar o próximo passo. É tão bom conhecer alguém de verdade, prestar atenção no que ela tem a dizer, prestar atenção em como ela faz isso, deixar as histórias se misturarem, as emoções mostrarem as caras, curtir essa coisa incrível de se misturar dois mundos diferentes. Entender que existem muitos níveis de relacionamento é que é a grande questão. Se for pra entrar na vida de alguém, não se limite ao quarto do motel, seja marcante. E o que marca não é a calcinha provocante ou se você faz exatamente do jeito que ela gosta, são os detalhes. São os momentos não calculados, um sorriso no meio das caras e bocas, um beijo não esperado, um olhar de cumplicidade, uma conversa depois dos corpos suados. É o envolvimento que faz essa coisa toda ser tão boa. O casual só vale a pena se tiver o envolvimento depois, se não, não passa de uma história com começo, sem meio e sem fim. Completamente sem sentido.

Thursday, April 05, 2007

Os sinais do teu sorriso

Eu olho tanto pra tentar ver o que você está pensando. Encaro seus olhos castanhos que me engolem. E são poucos os momentos que consigo conversar com eles, que tento arrancar qualquer coisa que me diga o que passa dentro da sua cabeça. Vou sempre querer muito mais do que você possa me dar, por isso fixo meus olhos nos seus pra ver um sinal de que seus pensamentos estão se rendendo. Mas você me engole antes que eu possa ver. Você me possui com o cheiro que vem do seu cabelo. Me abraça e eu fico totalmente sem forças pra reagir, só peço bem baixinho que venha mais de você em mim, muito mais. Eu perco seus olhos quando você me beija, porque tudo que consigo sentir é a pele macia da sua boca, e tudo que sou capaz de enxergar é como isso devia ser mais certo pra nós dois. Eu demoro pra ir embora pra ver se o tempo congela e eu possa ficar mais uns minutos te olhando. Falo demais pra gravar seu som na minha mente. Quem sabe no timbre da sua voz eu ouço alguma mensagem da sua alma. Talvez na sua risada eu decifre um sinal do seu coração e consiga cuidar dele um pouquinho melhor. E é assim, eu fico procurando te descobrir aos poucos, nos detalhes, nas entrelinhas e até no teu silêncio que me desafia os pulmões da ansiedade.

Tuesday, April 03, 2007

O que diria George Orwell sobre o Big Brother Brasil?

Li inúmeras reportagens e textos de pessoas de opinião. Conversei com amigos, pessoas no elevador e pessoas inteligentes que admiro. Todos tinham um compromisso marcado para esta terça a noite: Assistir a vitória do Diego, Alemão ou ainda do "Lemão" como diziam linhas afora. Não é de hoje que se sabe da capacidade de produção, criação, técnica e qualidade que a Globo tem, e o mérito é todo deles mesmo. Até a Igreja Universal assumir a Record e investir sem limites na nova aquisição, a Globo não tinha concorrentes que lhe preocupassem muito, mas ainda assim renovava seus padrões de qualidade constantemente, mostrando que é uma empresa séria e com visão estratégica. Com a súbita transformação da Record, a indústria de comunicação brasileira começou uma nova fase, com maior competição e mais espaço de trabalho para os profissionais da área. Nada mais saudável. Mas acontece que as pessoas insistem em culpar a Globo pelo fenômeno banal do programa Big Brother Brasil. O programa, que não é idéia da Globo, foi inspirado no livro 1984 (1948 ao contrário) de George Orwell, que escreveu o romance com a intenção de criticar os sistemas totalitários do governo e da mídia. O protagonista do livro era responsável por reescrever e alterar dados que não eram de acordo com os interesses do partido que representava. O Big Brother, era o governante soberano, e não havia lugar onde qualquer pessoa pudesse se esconder de suas câmeras de vigilância. A grande crítica de Orwell era quanto á redução do indivíduo e do pensamento em peça á serviço do estado ou do mercado. Mas o mercado soube bem o que fazer com a obra do autor, transformou-a em aliada e criou o Reality show. Arlindo Machado em seu livro "A televisão levada a sério" (Ed Senac, 2001) aponta a banalização do entretenimento como um processo geral da cultura. Não é só a televisão, são as músicas, as peças de teatro (estas menos por seu teor artístico), os shows, enfim toda a indústria de entretenimento que, também, não é culpada! Esses meios são um reflexo da sociedade em que se veiculam . Já não é novidade também que existem produções no programa Big Brother, que de Reality só tem mesmo o formato e conceito, ainda que o povo insista em dizer que "Nãããão! Não é combinado!" como se isso fosse quase uma blasfêmia. Mas enfim, acreditar ou não, não muda o fato. É triste que esse seja o único escape do nosso povo, que este seja muitas vezes o único momento em que tantas pessoas têm de relaxar, esfriar a cabeça e se divertir. Em seu livro "Vida, o filme" (Ed. Cia das letras 2000) Neal Gabler trata deste fenômeno mostrando como a arte exige um processo mental, e com o tempo, perdeu seu caráter de "puro prazer" porque as pessoas não queriam forçar o pensamento, queriam apenas se divertir sem compromisso. E foi assim que se originou o entretenimento, que nada mais é que a "pura diversão" descompromissada. O nocivo nisso tudo, não é a diversão sem raciocínio, é a falta de equilíbrio. É um programa de uma hora não ter absolutamente NADA para ser aproveitado pelo cérebro, quando 57 milhões de pessoas estão assistindo e tantas coisas poderiam ser ditas... É a falta de aproveitamento dos programas de entretenimento como comunicadores sociais, que prestam efetivamente serviço á sociedade, tanto entretendo, como informando. Um exemplo muito conhecido de grande sucesso é a série Chaves, que entretêm e ensina crianças a falar corretamente e outras curiosidades que com certeza elas vão se lembrar porque estavam se divertindo quando aprenderam, estavam relaxadas, mas continuavam pensando. Enfim, o contrato entre Globo e Endemol foi renovado até 2012, o que espero é que até lá a população tenha menos preguiça de pensar e obrigue a Globo a fazer o que ela faz de melhor, se renovar e dar ao público programas com uma qualidade mais completa: Criatividade, técnica, diversão e conteúdo real.

Monday, April 02, 2007

Se ao menos, menos desencontros.

Você me pegou de surpresa com essa vontade de me ter por mais tempo, e eu não soube o que fazer com a minha vontade esquecida de você. Tive que assumir que as coisas na vida nem sempre tem o tempo perfeito, na maioria das vezes é esse rolo e a bendita decisão pra tomar, de novo e de novo. E eu confesso que penso em você, que penso como seria diferente minha vida, e que as opções são tantas que ás vezes me assusto com as possibilidades que antes me atraiam. É a grande responsabilidade de crescer, olhar de frente e assumir que a juventude não me avaliza ser livre das conseqüências. Mas essa minha dificuldade de largar pessoas me impede de me afastar de você. Eu preciso me certificar que você está feliz, o mais feliz que pode, e não sei de onde veio essa minha idéia de que tenho que fazer as pessoas felizes. Mas eu tenho... tenho que ver quem eu amo sorrindo de verdade. Sim, eu te amo sim, de um jeito que você talvez não consiga entender agora, mas espero que um dia entenda e se lembre desse meu amor como um presente pra você. Existem muitos tipos de amor, e esse que eu sinto por você é aquela vontade de saber tudo da vida, como espectadora, de ouvir suas opiniões sobre tudo, de te ver dando risada e fazendo o que gosta. É esse amor sincero, um pouquinho maior do que de uma grande amiga. É um olhar de admiração, de orgulho de te ver sorrindo pra sua vida. E é por isso que eu não posso ser sua. Porque o que a gente tem é muito mais desenrolado que um relacionamento sério, é uma cumplicidade descompromissada e ainda assim eu sei que você não se mostrou por inteiro, mas também sei que não posso te dar essa liberdade porque posso confundir os amores. Eu queria poder mostrar mais o que sinto, mas não posso mudar nossas regras. E eu penso como seria se fosse diferente. Como seria se ao menos o tempo fosse outro, as pessoas fossem outras, e as conseqüências menos arrasadoras. E isso é uma coisa que nós nunca vamos saber. Você nunca vai conhecer meu quarto e eu nunca vou poder dormir onde você dorme. Você nunca vai ver meu armário e minhas gavetas bagunçadas, e eu nunca vou encontrar sua coleção de revistas de mulher pelada. Se ao menos a gente pudesse viver isso tudo um pouquinho mais, e se ao menos a gente tivesse a chance de assumir a gente um pouquinho mais.

Thursday, March 29, 2007

Retrato do Brasil

Autor da proposta de reajuste, Guimarães disse não temer críticas pela decisão
de colocar a matéria em votação. "Quem votou em mim sabe a minha maneira de
colocar esses assuntos sem o menor subterfúgio."
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u90540.shtml

O ditado diz: "Cada povo tem o governante que merece." Será que temos que ficar calados diante de um parlamentar ELEITO em eleições recentes, que detalhe: seguiram escandalos intermináveis de corrupção e ainda assim elegeram muitos dos envolvidos direta e inderetamente nos casos. Será que temos que resevar nossos argumentos inconformados para as mesas de almoços de domingo? Recentemente quando a proposta era de uma aumento muito maior, fomos convidados via internet para uma manifestação contra a votação que aconteceria na Paulista. Fomos meu namorado e eu. E só. Não havia mais NINGUÉM lá... Aconteceu que o aumento não foi aceito e colocaram panos quentes no assunto. Agora o aumento é mais modesto, com bases em reguladores e coisa e tal. Mas será que nosso país está tão correto e livre de outros assuntos relevantes para que esta medida seja colocada como prioridade? Todas as nossas crianças estão na escola, inclusive com um método de ensino invejável! Sem contar que emprego não é problema pra ninguém, todos estão ganhando um salário justo e as oportunidades batem na porta! E a segurança então??? O tal deputado autor da proposta deve passear a pé nas noites de São Paulo, e passar os fins de semana no Rio com a família onde todos podem curtir a paisagens da linda praia sem medo de coisas como balas perdidas, porque essas coisas todas já foram resolvidas pela nosso integra e eficiente polícia. Enfim, eles merecem mesmo o aumento... Já o Sr. Jorge Antonio que sustenta a família de 5 pessoas com um salário de 300,00 (que por coicidência é o mesmo valor gasto semanalmente por algumas mulheres no salão de beleza) não merece um aumento. Porque afinal de contas, ao invés de acordar ás 5 da manhã e muitas vezes ficar sem almoço pra não perder tempo, Seu Jorge Antonio devia trabalhar apenas alguns dias da semana, inventar projetos que nunca saem do papel, fazer promessas infundadas e utópicas. Não, o Seu Jorge não devia ter feito nem o segundo grau, devia ter se acidentado no primeiro trabalho que teve na vida e viver disso depois! Enfim, o Seu Jorge Antonio não sabe aproveitar as grandes oportunidades que nosso lindo Brasil proporciona, é óbvio que ele não merece um aumento, e sim nossos parlamentares...esses sim...grandes homens...RETRATO DO NOSSO POVO. Ainda não passou no Big Brother o episódio que conta que estamos acabados...por isso ninguém sabe.
E nós fazemos o quê? Admiramos...pasmos e impotentes.

Wednesday, March 28, 2007

Trombadas

Foi quase sem querer que eles se encontraram. Numa sala de aula, ela tinha ido acompanhar uma amiga na faculdade e ele estudava no mesmo prédio. Se toparam no correrdor, irônico, porque assim seriam todos os seus encontros, topadas de paixão. Ele pediu desculpas, mas quando olhou nos olhos dela alguma coisa aconteceu porque o ar mudou de cor, e tudo ficou mais quente. Ela não ficou alhei a esta mudança de temperatura, mas esfriou logo as coisas com uma resposta mal educada. Ele virou as costas decepcionado, ela não devia ter procovado aquela mudança no mundo, era muito metida. Mas tinha sido ela sim, ela causava isso nas pessoas. Algumas semanas e ela acompanhou a amiga em um churrasco do curso, se esbarraram de novo. Desta vez ela deu risada e foi ele quem não levou na brincadeira. Ela entendeu que tinha exagareado da última vez, esperou que ele ficasse sozinho e foi quebrar o gelo que ela mesmo construiu. Ele sentiu o calor de novo e as cores voltaram, então deu a ela uma chance de provar se era mesmo tudo aquilo. E provou. Conversaram e riram muito, contaram histórias picantes e parecia que qualquer coisa poderia ser dita naquele espaço pequeno entre os dois. Telefones trocados e beijos de adeus. Um longo adeus que durou o tempo de se lembrarem da conversa gostosa, dos olhares e risadas que desejavam algo mais. Ela estava sozinha, pensando em nada, resolveu ligar. Brincadeiras disseram tudo que eles tinha vontade e a noite provaria se tinham coragem. Trocaram mais que telefones desta vez. Foram beijos, carícias, risadinhas no ouvido, foram palavras perfeitamente excitantes. Foram momentos que eles não iriam esquecer. O adeus foi um pouco estranho, não sabiam o que seria a seguir, estavam perplexos por aquela cama. Recadinhos no dia seguinte, um rápido telefonema, e ainda não tinha idéia se a noite anterior tinha sido verdade ou sonho. Tudo ficou quieto por um tempo. E enquanto ele nem pensava mais, ela não sabia mais no que pensar. Ele ligou. As conversas e outras coisas boas rolaram de novo, mas por que não faziam disto uma coisa certa? Se podiam... Mas parecia existir uma medo mais forte do que o desejo que os tomava. Talves fossse medo do amor, mas não achavam que a coisa era tão séria. E se encontraram outras vezes, em trombadas de sentimentos loucos, trombadas de movimentos insanos e a paixão fazendo deles o que bem entendia. E devia ser assim, raro, temporário, ainda que ela se sentisse um pouco sozinha com tudo isso, e ele pensasse nela o dia inteiro. O lance deles eram as trombadas e não tinha outro jeito. Indas e vindas suadas, cantadas, armadas, e totalmente sem sentido.

Suicídio ao contrário

Abri meu coração pra ele poder sangrar em paz. Sangrar minhas dores, minhas dúvidas, minhas falhas, minhas conquistas, meus amores. Sangrar até que isso signifique algo. Até que esse sangue todo dê uma coisa só. Onde eu consiga ler minha história nas células perdidas dentro de mim. Porque o mundo me parece tão possível e insistem em me dizer que eu não sei de nada, que eu não faço nada e que eu vivo sem os pés no chão. Então resolvi mostrar o coração que pulsa, com o sangue jorrando na cara desses imbecis que não sabem o que é viver de verdade. O meu sangue é mais vermelho, é a cor da vida. É cheio das minhas histórias, é quente como eu. É intenso e consistente como tudo deve ser. É a realidade expressa em matéria, gerando vida de um líquido gosmento. E eu aperto meu coração com força, sinto doer, mas faço sair mais sangue, me espalho pelos cantos para os vampiros dessa terra não terem mais o que sugar de mim. Encontro a paz nesse rouge do mar, encontro a paz nesse desabafo do meu corpo. Encontro a vida escorrendo pela minha pele. Esse sangue carrega todos os sentimentos já experimentados. Carrega as emoções, se esvaindo da alma. E toda essa experiência só é possível porque vivo. A morte fica longe, a vida toma o palco.

Tuesday, March 27, 2007

O parque

Dancei muitas músicas sem você. Corri quilometros com alegria e disposição. Assisti cem balões subirem aos céus, dando cores às nuvens e ao meu coração. E fiquei lá sentada naquele parque te esperando. Esperando que você aparecesse com a sua cara de deboche e a gente desse muita risada. Esperando que você não me trouxesse flores nem chocolate, mas me trouxesse muitas histórias legais pra contar sobre você. Fiquei esperando. Tentei ouvir a sua risada no fundo de mim, mas não tinha nada de engraçado. Então tentei chorar a sua ausência, mas nada tinha de tristeza. Fiquei naquela grama, sentada, deitada, esparramada, com um sorriso não sei de que, mas de você não era. Fechei os olhos numa última tentativa de te trazer pra mim, e você apareceu meio transparente, com um som baixinho, e muito mais forte vieram outros olhos, e uma boca que te fez sumir de vez. Levantei e olhei pros lados, pra ter certeza de que você não viria. Confesso, ainda esperei alguns minutos porque pensei que se você viesse, eu iria me lembrar de tudo de bom que você tem, ou deve ter. Esperei quem sabia que não chegaria nunca. Dei mais um sorriso acompanhada das suas lembranças, mas elas logo me deixaram já que você não se importou em cultivá-las. E eu fiz questão mesmo que elas fossem embora porque afinal, não foi por elas que esperei a tarde toda. Estava meio perdida, meio estranha, talvez triste porque no lugar de me contar suas histórias você acabou com a nossa. Então pensei em tudo que passou e percebi quão pouco fomos um pro outro, percebi o desperdício de beijos e toques pra nada. O desperdício de palavras, de olhares, de sons sedutores, isso devia ser proibido! E até de falar de você eu cansei, até de pensar, porque a superficialidade dessa nossa história me violenta a alma. E vou matando isso aos poucos, percebendo que não tem mais nada de nós, e que os momentos foram tão raros que não deu tempo de manter nada, de guardar nada. E o que me deixa triste mesmo é justamente porque ficamos boiando, dando mergulhos em outras pessoas e nos deixando de lado por um motivo qualquer. Essa espera me fez mais calma, mais consciente, de que passou, assim como os balões que sumiram no céu.

Monday, March 26, 2007

A solidariedade e a carteira de couro.

Ele estava na minha frente no caixa do supermercado. Uma garrafa de fanta, um quilo de feijão, dois pacotes de fumo, uma garrafa de pinga e um cigarro. Nove reais e setenta centavos. Camisa xadrez rasgada nos ombros, os botões errados, barro que sujava também a calça jeans dois tamanhos maior. Os olhos vermelhos entregavam sua história. A pele rachada do sol, as mão tremulas buscaram um cigarro e uma caixa de fósforo no bolso desmazelado da camisa. Eram olhos tristes. A mocinha do caixa e o empacotador esperavam a finalização da compra com o pagamento, o senhor se limitava a acender seu cigarro. Perguntou pela terceira vez "Nove e setenta?" e pela terceira vez a moça respondeu "Nove e sententa senhor." Alcançou a carteira de couro preta no bolso da calça, abriu uma parte, nada, abriu outra parte, nada. Fechou a carteira, guardou no bolso de novo. Colocou a mão no outro bolso da calça e depois no bolso da camisa. Nada. Deu mais um trago no cigarro "Não tenho dinheiro." A moça do caixa paciente "Deu nove e setenta senhor..." Um silêncio esperava a boa ação de alguém da fila que aumentava com a demora, ou então um gesto de solidariedade do pessoal do supermercado em fazer aquela compra essencial sair de graça. Mas o silêncio continuou. Fiquei pensando se ele esperava mesmo que alguém pagasse ou que saisse de graça aquela compra. Cachaça não mata a fome, mata a realidade isso sim, mas quem é que patrocinaria tal assassinato? O senhor pegou a carteira novamente, abriu uma parte, nada, abriu outra, nada. Então abriu de novo a primeira parte e tirou algo embrulhado em uma folha de caderno. Era dinheiro. E bastante. Pegou uma nota de dez e entregou para a moça que já tinha perdido a paciência mas mantinha a postura. O empacotador entregou-lhe a sacola enquanto a moça lhe dava o troco. Ficou lá ainda mais uns segundos, esperando não sei o que, até que a moça do caixa me chamou para passar as minhas compras e ele se foi. Para mais uns dias de sobrevivência com uma fanta, um quilo de feijão, dois pacotes de fumo, uma garrafa de cachaça e uma maço de cigarro, mas com dinheiro na carteira de couro.

Monday, March 19, 2007

Choveu no fim de semana

A chuva lavou os meus olhos e então eu pude enxergar o quanto tenho de mim mesma morando em você. Eu fiz de tudo pra ficar no meu mundinho, pra que nada mudasse. Fiz de tudo pra não me encarar no espelho e pra não ter que perceber que sou muito mais forte do que me fazia. Mas as suas mãos não estavam lá pra me segurar, e eu tive que escolher. Tive que escolher me olhar de frente. Tive que enxergar tudo que sou e confesso que tive medo da minha própria pele. Porque nos seus braços eu sempre pude estar segura sem ter muito com que me preocupar. Eu sempre tive tempo de me inventar como quisesse e ignorar minhas verdades. Até que você me abandonou. No momento em que eu mais queria seu colo. No momento em que eu podia me acomodar de vez nas suas costas macias. Eu tive que sentir o duro do chão contra o meu rosto, e pensei, sozinha naquele piso frio e sem coração, que nunca mais iria viver algo assim na vida. Você sempre teve suas razões, e eu sempre corri atrás para ser um ser humano tão bom quanto você. Quando eu pensava que tinha tudo resolvido, argumentos revisados, meus motivos e razões em seus devidos lugares, você me surpreendeu com a sua ausência. E disse que eu precisava de espaço. Mas quem é você pra saber o que eu preciso? Não sei, mas você sempre sabe. E nesse espaço escuro e vazio eu tive que bater um papo comigo. E tive que aceitar todos os sentimentos que vinha rejeitando, as decisões que vinha protelando, e foi muito melhor do que pensei que seria. De novo, você sempre sabe o que eu preciso. E veio o fim de semana chuvoso, e veio todos os meus amores por você numa nuvem enorme e carregada. E veio você com a sua atenção sem fim e seus carinhos constantes. E o nosso espaço nunca existe porque a gente mora um no outro, com direitos garantidos. Ainda que eu fizesse de tudo pra te tirar de mim, pra me esconder da gente, pra fingir um sentimento sem importância, essa chuva ia chegar de um jeito ou de outro e iria nos fazer ficar debaixo daquele edredon azul clarinho, abraçados, satisfeitos de que o mundo cabia naquele quarto.

Tuesday, March 13, 2007

Lembranças

Lembrei de um parque que conheci quando criança. Era tudo colorido, tudo sorria, tudo era feliz. Lembrei de uma paixão que tive por um garotinho de olhos verdes, lembrei também que ele me trocou por uma amiga minha que deu em cima dele insistentemente. Eu chorei, e foi a primeira vez que me decepcionei com um homem e com uma grande amiga. Lembrei da primeira vez que beijei alguém que amava, ele era um amor enorme, mais velho, experiente, cheio de histórias pra contar aos 18 anos. Eu não senti tesão. Só um friozinho na barriga de que aquele beijo era tudo que eu esperava por longos meses da minha vida curta. Mas a história de como aconteceu é que me realizou mesmo. Lembrei de gritos na minha casa. Meus pais descontrolados brigando sempre pelas mesmas coisas. Lembrei do escuro do meu quarto nesses momentos e de como eu pedia pra Deus pra dormir logo e não ouvir mais nada. Lembrei de um acampamento da Igreja. Eventos da Igreja. Amigos da Igreja. Era tudo tão sincero e puro, era essencial. Lembrei de uma briga na Igreja. Foi a primeira vez que eu me dei conta de que o ser humano sempre falha. Lembrei de quando meu namorado terminou comigo por motivos tão pequenos. Foi a primeira vez em que eu me senti realmente sozinha. Lembrei de quando ele me pediu pra voltar. E foi a primeira vez que eu tomei uma decisão feliz na vida. Lembrei de caminhos tão errados que tomei, de tantas coisas que aprendi vivendo. Tantos livros que li, conselhos que escutei, cenas que assisti. Foi a primeira vez que me dei conta como o tempo passa e como a gente vive. Lembrei de mim. Dos olhos que viram o parque, o garotinho e a amiga, a beijo, a essência, as coisas ruins e as coisas boas. Os olhos eram os mesmos e eu fiquei feliz em saber que sou tudo aquilo que me lembro.

Monday, March 12, 2007

Existência

Meu corpo colocava pra fora o que minha alma não podia engolir. Devia conseguir vomitar sentimentos, vontades, sensações, pensamentos. Só saiam coisas que eu comi, ou nada. E eu tentava mais forte, enfiava o dedo na garganta, fechava os olhos pra expelir os pensamentos e aliviar as emoções. Nada parecia adiantar. Meu corpo se contorcia em angústia e um aperto indescritível. Eu não estava cabendo na minha pele. Tive sonhos que me avisaram. Tive sinais da vida me gritando que aquele caminho não era meu. Mas envolvida numa dança de hormônios e de paixão natural eu fazia o que a situação pedia sem saber o que iria me acontecer depois. Meu estômago não me perdoava mais. Chorava dentro de mim, se mordendo de raiva por causa da minha mania de achar que as coisas não têm conseqüências. Mas quem me puniu mesmo, foi minha alma. Entrou chutando a porta da minha mente, jogando meus pensamentozinhos iludidos todos na parede. Sacudindo meus sentimentos pelo pescoço e puxando os cabelos dos meus desejos imbecis. Ela não teve pena de nada, porque sabia que se não fizesse isso eu poderia acabar comigo em uma outra noite de negociação com o mundo. A alma gritava, berrava feito dona do lugar com um ar insano de uma sabedoria essencial. Questionava cada centímetro das escolhas e tudo se calou para ouvi-la porque sabiam que ela tinha razão. Cansada de ser negociada, de ser entregue a toa, ela deixou bem claro que estava lá. Não alheia ao que acontecia naquele corpo e naquela mente, mas atenta, aprendendo a aumentar sua força, a ler sua essência e a usar suas vontades. Por isso quando percebeu uma movimentação diferente, um ambiente onde ela não podia ficar, resolveu deixar a formalidade de lado e mostrar que existe. Do lado de fora eu fazia uma força enorme pra que minha alma tivesse tempo de fazer tudo que precisava dentro de mim. Fazia força para apoiá-la até que tivesse colocado ordem naquela bagunça de sentimentos. Forçava pra fora as imagens, cheiros, gostos, frases, tudo que levava minha mente pra tão longe de onde ela deveria estar. A alma chorava compulsivamente com o árduo trabalho, e eu a acompanhava por entendê-la. Meu rosto estava encharcado com a vontade da pele de ser mais sua e os olhos desejavam dormir em paz, sem enxergar as cenas que lhes violavam os sonhos. A mente já não entendia sua existência, afinal de contas as emoções estavam tão crescidas que mandavam nela como queriam. A alma apareceu para mudar tudo. Deu a mente seu posto roubado durante as brincadeiras dos pensamentos e sensações e mandou as emoções se colocarem nos seus devidos lugares. Estava tudo tão enorme que o ambiente tinha um motivo circense, com ilusões penduradas em trapézios, paixonites correndo enfileiradas num trenzinho de curiosidades. Vontades coloridas fazendo a intimidade rir com suas palhaçadas, e desejos pintados dando shows de contorcionismo. Os hormônios surpreendiam com seu número de mágica, sempre tirando um bicho diferente da cartola do animal humano. Mas o espetáculo da existência que devia ser maravilhoso e único, se tornou uma cena de terror porque as ilusões penduradas se espatifaram no chão em cima do trenzinho das curiosidades. As vontades se tornaram aqueles palhaços assustadores e corriam gargalhando atrás das intimidades desesperadas. A tinta dos desejos escorreu deixando a mostra músculos contundidos e os bichos que saiam da mágica dos hormônios mordiam as expectativas inocentes que assistiam com os olhos arregalados. Foi aí que eu vomitei. E foi aí que a alma entrou como mestre de cerimônias, aos gritos, mandando todo mundo voltar aos ensaios, enquanto as expectativas aguardavam sentadas, a próxima seção.

A lágrima

É a superficialidade dos meus vícios rindo da minha cara de vontade. São as possibilidades presas, enjauladas, tristes em um canto qualquer. É o ralo do meu raciocínio domando o leão, domesticando a fera e matando a perfeição da natureza. É a música certa que trilha o momento que não vai acontecer. São as minhas células decepcionadas e só. São os meus olhos desentendidos, procurando algum sentido que valha a pena. É a possibilidade escorrendo nos dedos. São as suas sensações se armando enquanto você se morde por dentro. É a sua intensidade com medo da minha. São as nossas mentes em duelo. É a vida me pedindo trégua.

Friday, March 09, 2007

O Sorriso

É a intesidades dos meus vícios. São as possibilidades loucas, soltas por aí fazendo festa. São essas sensações que sairam da jaula e estão causando arruaças por onde passam. É essa intensidade comandando o circo dos meus pensamentos e domando meu corpo feito leão. É a música que não termina e obriga a dança constante. São as minhas células descontroladas, famintas e sedentas, se encostando em outras peles só pra se divertir. São os meus olhos a procura dos movimentos dos corpos entregues numa cena impossível de negar. É a possibilidade de conquista crua. São as suas sensações se despindo enquanto você tenta manter tudo em ordem. É a sua intesidade aprendendo a minha. São as nossas mentes fazendo amor. É a vida sorrindo pra mim.

Experiência

Fique parado. Se limite a respirar e sentir. Me olha tomar o seu mundo e fazer dele uma intesidade desconhecida. Me olha mudar tudo até que você não reconheça nada ao redor e se encante com o que encontrar. Mas fique calmo, porque eu vou te trazer de volta. E a vontade que vai ficar vai te consumir a alma até o último suspiro. Feche os olhos e apenas sinta. Meu corpo, minha saliva, meu ventre. Sinta que não existe nada mais certo nesse mundo pra você. Abra os olhos e veja que não está sonhando, que o quente que te abraça é o calor que te faz viver de verdade, é a temperatura das essências que só se encontra uma vez na vida. Fique quieto, cale seu discurso aprendido. Ouça o meu som de doçura, de sabor, de loucura. Vem me ouvir aqui dentro. Sons que calam sua espera, que calam tudo em você porque está terminado em me ter. Assiste minha dança na sua pele. Assiste minha dança na sua cabeça, mas não esqueça de acordar, porque deve ter alguém te esperando em algum lugar. Seu ar vai sumir por alguns segundos, seu coração vai parar um pouco e voltar a bater devagar ou no rítmo que eu quiser. O que está acontecendo aqui é um experiência de você. Eu quero ver até onde você sobrevive e em que momento passa a viver. Porque quando isso acontecer, eu posso ir embora.

Tuesday, March 06, 2007

Sonho de guerra

Lançou um olhar ao tempo e ousou sonhar. A batalha do século acontecia dentro dela num ímpeto de coragem que lhe tirou os pés do chão. Voava com a destreza de mil águias e não vacilava os pensamentos nas trocas do vento. O tempo matinha seu nobre desafio. Armas e olhares a postos, as sortes estavam lançadas. Ousou acreditar que as terras obedeceriam a força do seu desejo. Não mudou a feição, nem uma ruga de esforço sequer, mas os músculos de seu espírito estavam rígidos em guerra. As horas, os dias e os meses faziam parte do time adversário e cumprimentava-os conforme se apresentavam, conquistando-lhes a confiança e trazendo um a um para o seu lado. Não podiam dizer pelo semblante sereno e pacífico que travava uma luta tão devastante. Os lábios pintados, a pele exalando um perfume dos céus e a mente fixa nas estrategias que a levariam a conquista. O olhar queimava as investidas do inimigo e a firmeza do coração envergonhava os oponentes. Riam-se de sua insistência em acreditar, como que numa atitude desesperada de fazê-la parar, riam-se para não cair em desgraça. Mas o brilho dos olhos continuava a crescer, como que formando a imagem que começou como uma sombra leve na mente. E podia ser visto nas meninas dos olhos que aquela não era uma menina qualquer. Podia ser visto a dureza de sua essência em entregar ao tempo o que tinha de melhor. Iria brigar até o fim. E no fim não tinha espaço pra dois, mas o dela estava garantido por sangue. Escutava uma música constante, uma melodia de anjos e arcanjos que a embalava em seus golpes e ensurdecia os desafortunados que se levantavam contra. Enquanto riam, fechou os olhos, e se calaram num súbito entendimento de que a derrota lhes era certa. E assim mesmo, de olhos fechados, foi que ela provou também pra si mesma, que seus sonhos tinham poder.

Monday, March 05, 2007

Estranhos

E acabou assim. Sem se falarem, sem um telefonema, sem uma recado, sem nada. Acabou porque essas coisas tem que ter um fim. E foi assim mesmo, de uma hora pra outra, quando ela menos esperava. Um dia acordou com uma vontade estúpida de falar com ele, de se entregar mais uma vez, de fazer o que tinha vontade e respirar o mesmo ar que ele. Mas com o mesmo ímpeto que a vontade veio, se foi. Se foi todo o encanto, todo o tesão, todo desejo insano de se grudar na parede com ele. Tudo passou como um vento devastador, e tão rápido que o que ficou foi só uma lembrança de um toque diferente e quente. Ela não ligou pra lhe dizer que não se interessava mais. Ele não a procurou porque tinha seus motivos, sempre misterioso. Acabou assim, sem fim, mas com um enorme ponto final. Ela nunca iria dizer pra ninguém o que foi que aconteceu. Que neste dia de tanta vontade ela o assassinou dentro dela pra que o estrago não fosse maior. Ela nunca iria dizer que não saber o que ele pensava de verdade lhe trazia um desespero angustiante, e que como nunca confiara nele, sempre estava na dúvida. Ele nunca iria dizer pra ninguém o que sentia, se era puro tesão ou se gostava um pouco mais do que o permtido de toda aquela situação conveniente. Ele também não confiava nela. Mas se desejavam com uma intesidade perfeita, que sempre fazia dos encontros momentos de uma realidade iludida com a possibildade de que aquilo poderia durar. Nas horas que durava não tinha fim, enquanto se tocavam não tinham limites, queriam ser um só. E ele nunca iria conhecê-la de verdade, porque neste jogo de desconfiança eles não faziam mais parte da mesma equipe, tinham passado para times adversários sem nem perceber, e passaram a se proteger um do outro. Mas foi assim, numa ventania de sentimentos confusos que tudo mudou. Que tudo acabou. E ele não existia mais dentro dela, em lugar nenhum. E ela era mais uma pra ele, como tantas que haviam passado pela sua cama. E eles se encontrariam de novo depois de algum tempo, em qualquer festa, em qualquer bar. E se olhariam como estranhos em corpos tão conhecidos.

Sunday, March 04, 2007

Sobras

Desceram suaves molhando meu rosto, tingiram meu edredon de preto quando se misturaram com a maquiagem. Elas eram bem vindas, pra que de alguma forma a dor saísse do meu corpo junto com aquela tinta.

Escorregou por entre meus dedos sem que eu percebesse. Abri as mãos e não tinha mais nada ali, apenas o cheirinho de realizações incompletas.

Ele continua me visitando na mente num lugar que é só dele. Teve que se contentar em existir apenas na minha cabeça porque as chances vão diminuindo a cada dia.

O medo de sonhar e não viver se igualou ao de não sonhar nunca mais.

Continua existindo em mim algo que queima. Algo que eu não mereço por ser tão sagrado e eu tão mundana. Mas continua a existir, e eu continuo não conseguindo entender como ainda acredito.

E se não mudar nunca?

A solidão me cutuca a alma, o espírito, o corpo. Dá risada das minhas aspirações em mais uma noite frustrada. Dá risada na minha cara por pensar por um segundo ser importante pra alguém. Dá risada que eu sonhe...

Não sei o que vou fazer amanhã. Talvez pinte tudo de preto e me tranque num quarto esquecido até o mundo como eu conheço acabar. Ou talvez continue a sonhar.

Engana-se que esse texto é sobre você. É de uma parte de mim que não é sua, e nunca vai ser de ninguém.

Todos os sorrisos me deixaram, e eu sinto frio porque não tenho calor nenhum. Cansei de ser enganada pelo pouco das presenças quando eu mais preciso de uns olhos pra enxergar mais que o embaçado dos meus.

Não mais.

Saturday, March 03, 2007

Dia

Acordei e lavei o rosto. O sol me disse quando abri a janela que o dia seria muito melhor do que a noite, eu podia ficar tranquila. Coloquei uma música enquanto arrumava o quarto. Tomei café e fui malhar, meu corpo merecia o melhor cuidado que pudesse ter. De novo quando sai uma nuvenzinha bem pequena no céu, branca feito neve, me sorriu e disse que eu ficaria bem. Voltei da academia, comi alguma coisa, tomei um banho frio delicioso no calor que estava. Me vesti linda, confortável, do jeito que eu queria. Fui visitar uma exposição, fazia tempo que não saia sozinha pra pensar e ver as coisas bonitas do mundo. Quando parei o carro no parque um passarinho muito pequeno me cantou que a vida era tão linda e que eu podia dançar, ele me disse pra sorrir mais. Depois da exposição fui almoçar, sozinha de novo, porque só eu poderia enxergar as coisas do meu jeito. Sentei num restaurantezinho pequeno com uma comida boa, observei tantas outras vidas que são felizes mesmo sem você estar nelas... Foi neste instante que a garçonete inspirada por Deus passou por mim e disse "Ás vezes a melhor coisa é estar sozinha não é verdade? Parece que as coisas ganham novas cores..." nem esperou eu responder e saiu, assim como um recado divino mais claro impossível. Tudo bem, terminei meu prato e agora o que eu iria fazer? Talvez um filme? Passar o tempo numa livraria onde eu podia me perder da nossa história cansativa? O que seria? Fui a uma feirinha na rua, com milhões de bugigangas desnecessárias e indispensáveis. Fiquei feliz por existir essa variedade de coisas pra me distrair a cabeça de você. Então me daparei com um espelho numa moldura antiga. Vi uma imagem conhecida com um sentido completamente novo. Tinha o reflexo de uma mulher lá... Com ares de dona do mundo, do seu mundo. Com tantas histórias pra contar, e ela sorriu pra mim com uma cumplicidade que eu me senti ligada a ela eternamente. E uma borboleta pousou no meu ombro e me disse colorida que queria fazer parte da minha história, porque na minha vida todo mundo que passava se fazia importante. Voltei pra casa e dei um mergulho na piscina. Não existe nada como o som do silêncio e o toque da água. Quando me dei conta o dia tinha terminado e minha cama me esperava fofa. E eu consegui não só sobreviver sem você, como pude viver de verdade.

Friday, March 02, 2007

Meu ser humano preferido

Ouvi você descrever um sonho, e fez como eu, mesmo sem eu te contar. Vi você cuidar de pessoas que não conhecia, tirar a roupa do corpo pra entregar a quem não tinha o que vestir. Assisti você se entregar sem medidas pra um Deus que você queria tanto conhecer. Presenciei sua sinceridade em querer fazer as coisas certas, mesmo quando não tinha idéia de que atitude tomar. Ouvi você cantar com a sua alma, tão sedenta de significado. Vi você tomar decisões na vida, que ninguém apoiaria, e te amei justamente por isso. Antes de te conhecer, enxerguei nos seus olhos o que procurei toda minha existência. E passei a te amar quando meus sonhos encontraram em você uma casa. Eu te dizia quem você era pra mim, e você dizia que eu devia estar louca, porque só eu enxegava isso em você. Mas não meu amor, você nunca entendeu de verdade, que eu te via com os olhos de Deus... Eu assisti você brigando pelo que acredita, e se humilhar pra ser uma pessoa melhor. Vi você lutando contra você mesmo pra se manter de pé quando tudo parecia estar desabando. E a minha necessidade de te acolher e te fazer feliz se tornou vital como respirar. Não posso negar que dói, que sofro minhas escolhas tardias, mas ninguém pode me tirar a conquista de tentar e a força de não desistir nunca. Ninguém entende o nosso amor, e é isso que me faz ter certeza de que ele é fértil. Se não me desafiasse eu não insistiria. E por você eu luto contra o que for preciso, porque o mundo tá cheio de gente chata e comum, mas quando olho pra você vejo as cores mais brilhantes, as formas mais certas, as palavras dizendo coisas de verdade. Eu vejo que a vida é boa. E a verdade é que a nossa distância não existe mais, é um espaço que foi banido do universo pra sempre, porque violou as regras do nosso amor. E me julgam por eu me dar demais, por eu tentar demais, por eu chorar demais, mas é que ninguém enxerga isso que tem atrás dos meus olhos e é preciso coragem pra amar a ponto de esquecer a sua alma. O mundo tem que calar e se curvar porque isso sagrado demais pra que ele entenda. E ainda que por algum motivo nossas vidas tomem rumos diferentes, você sempre vai ser meu ser humano preferido. Que me provou, sem deixar espaço pra dúvidas, que o amor não é um sentimento, é uma pessoa.

Thursday, March 01, 2007

Sem rumo

Tentei falar com você. Queria falar com você.... Mas nenhum retorno de carinho. Mais uma noite de sumiço que nunca vai ser explicada. E eu faço uma força absurda pra não chorar, porque você não merece. Nem uma lagriminha sequer. Porque eu já te dei tudo, já me dei toda, e olha aí o que aconteceu. Então essas lágrimas vão ser só minhas, e vão ficar aqui dentro, mesmo me apertando tanto, mesmo doendo tanto. Essa vai ser a primeira partezinha minha que eu vou pegar de volta. E você deve achar que isso é bom, que eu estou amadurecendo, me tornando independente de todos, até de você. Mas se eu não puder chorar por você, de que vale? Se eu não puder ouvir a sua voz tarde da noite, de que vale? Se eu não puder escrever mil textos sobre você, de que vale? Se eu não puder ser sua de verdade, de que vale? Mas essa noite eu vou dormir sim, e não vou chorar até pegar no sono, porque você não é mais tão intenso assim, e é isso que me assusta. Essa falta de intensidade alimenta meu tédio com baldes de vazio fazendo ele ficar enorme e cada vez mais forte. Será assim então? Essa falta de cuidado quando eu digo que quero conversar e acabo falando com a mensagem de "não disponível" do telefone? Será que a gente virou só isso de tudo que foi colocado na receita? Eu nem vou terminar esse texto porque preciso acordar cedo amanhã...e isso não tá indo pra lugar nenhum, assim como esse tempo nosso.

Monday, February 26, 2007

Longe

Tudo bem, já está mais do que provado que a nossa distância dói, e dói muito. Mas ela tem sido uma dor diferente da que eu conhecia. Mais distante, uma sensação estranha de que eu já me acostumei, não com a nossa distância, mas com a dorzinha chata que a acompanha. E longe de você eu fico perdida, tentando me encontrar em outra pessoa qualquer, em outra história qualquer, em páginas que ocupam minha mente por piedade para que ela não sofra tanto. Qualquer coisa que me tire dessa distância, desse longe que você colocou entre nós. Mas eu entendo, e mais do que alguns aceitariam. Entendo como a boa moça, e me debato como o animal selvagem. Eu já me acostumei. Repito pra ver se dói menos. O desespero fica pouco diante do sentimento que me toma. Equilibrado e solene, me sustenta pelos braços, levanta meu queixo pra que eu não perca a dignidade, e me grita bem na boca do estômago "Garota! Presta atenção! Tá esvaziando!". Eu prefiro nem ouvir a sua voz, prefiro nem saber onde você está, já que é pra ficar longe que seja a distância de dois mundos. Porque a sensação da sua presença sacode minha poeira e eu não enxergo mais nada com tanto pó na minha cara. Prefiro ver alienígenas, caminhar em outras órbitas, explorar outras galáxias, qualquer lugar onde não tenha o seu cheiro e as ondas da sua voz. Fique longe. Suma de mim. E é quando eu descubro que meu corpo está cheio dos seus vestígios, minhas atitudes cheias das suas manias, minha cabeça cheia das suas lembranças, meu ventre cheio da vontade sua, e meu peito cheio de você. É daí que vem esse engasgar, essa vontade de te vomitar ou te engolir por inteiro. Você só não pode ficar morno na minha garganta. Mas eu dou mais alguns passos no tempo, tiro o relógio do meu campo de visão pra ver se consigo descansar. E consigo. Descubro também que posso as mesmas coisas longe de você, e diminuo esse sentimento sublime ao lixo de um banheiro público. Daí sim, tenho vontade de morrer, porque ou é nosso ou é público, e longe de você eu não sei mais nada! Percebe a confusão dessa estrada? Mas eu não posso diminuir esse caminho, eu sei. No máximo posso asfaltá-lo para que a viagem se torne um pouco menos sofrida. Sim, é sofrer a palavra. É um assassinato do tempo que podíamos perder juntos, o tempo que podíamos ganhar juntos, o tempo que podíamos nos gastar juntos. Essa distância é assassina e eu preciso ser sua cúmplice. Por que mesmo? Ah é... Tem esse espaço que requer seus direitos sobre nós. Nós quem mesmo? Eu fico perdida. E como eu me faço de forte é hilário! E como eu pareço resolvida é um espetáculo da minha imagem projetada nesse mundo de fantoches de pano! E como eu cresci nesse tempo... é assustador. Assusta de pensar que eu vivo bem, mesmo longe. E é por isso que eu me grudo a você, porque não quero essa maturidade, ela me leva pra longe! Mas a verdade em tudo isso, é que eu continuo perdida longe de você. Madura, forte ou resolvida, eu posso ser tudo isso, contanto que esteja ao seu lado. Porque nessa distância eu sou tudo isso, mas eu não sou nada.

Thursday, February 22, 2007

Deixa vai?

Cada uma das suas curvas me provoca. Cada um dos seus volumes me desafia. A linha do seu pescoço me encara, tão perto de onde acontecem seus pensamentos que eu quero decifrar. Eu fico com inveja dessa curva. Eu fico com inveja das gotinhas que a toalha não secou. Uma desceu no meio do seu peito pro seu abdomêm, e eu queria matar minha sede com essa gotinha que estava numa posição tão melhor do que a minha. E são os seus detalhes que me tem por inteira, que tiram meu pensamento de qualquer conversa ou lembrança pra me concentrar em você e na cor da sua boca. É isso que importa na vida, alguém como você. O que importa na vida é a espessura e o brilho do seu cabelo e como ele fica lindo molhado. O que importa na vida é o desenho dos seus olhos e o quanto eles falam quando me encontram babando por você. O que importa mesmo é essa sua postura um pouco curvada pra frente que acha perfeito equilibrio com seus ombros que me deixam louca. E você ignora que eu assito seu corpo como um pocket show que só eu tenho o privilégio de ver por completo, me ignora e se incomoda por sempre encontrar meus olhos famintos em cima de você. Você está certo, eu sou mesmo louca. Sou mesmo até um pouco doente, mas fazer o que se o cheiro da sua pele me acalma a loucura e se o meu remédio mais efetivo é sua saliva? Você precisa me entender melhor, você precisa saber o quanto tem aqui dentro. Eu preciso te levar pra esse mundinho meu, não amor, você ainda não conhece esse mundinho. Eu preciso entrar nos seus olhos e te fazer viver essa intensidade que ferve, que vicia a alma, que relaxa o corpo por saber que existe um lugar tão bom assim no mundo... Deixa eu te levar deixa? Para de pensar nessa vida chata e ordinária, larga tudo meu amor, só por algumas horas, só por uma noite, me entrega esse seu tempo, que eu faço todos os seus dias serem bons pra sempre... Deixa eu perder o controle na sua curva e cair em cima de você dando perda total em qualquer outro sentimento ralo que tentava me sufocar. Deixa eu contar minha história com a sua boca, deixa eu morder qualquer estrutura que não seja de acordo com o que a gente gosta. Deixa eu fazer tudo amor, só não deixa eu te deixar. Nunca.

Wednesday, February 21, 2007

Visita

Mais uma lágrima me lembrou como as coisas são. Mais uma lágrima saiu sem ser chamada e me disse coisas que eu não queria ouvir. Elas aparecem assim, vez ou outra, ousadas, sem pudores, cheias de coisas pra contar, como se fossem donas de todas as minhas histórias. Talvez porque elas sempre estão presentes, mesmo nas mais felizes. Mas isso não lhes dá o direito de me ter assim, só pra elas, em um canto qualquer, ouvindo suas verdades doidas. Essa última que passou me lembrou que existem consequências nas minhas atitudes de liberdade

Wednesday, February 14, 2007

A história da princesa

Era uma vez uma princesinha linda. Com cachinhos brilhantes e os olhos de quem sonha. Ela morava num castelo lindo, tinha um quarto com tudo cor-de-rosa. As cortinas eram feitas de borboletas, o teto era de estrelas, o chão eram histórias de fadas e a cama feita da mais branca nuvem. A princesinha tinha tudo que queria, porque bastava um pensamento, fechar os olhos com força e lá estava, a boneca que sabia falar, o ursinho macio como água, ou o brinquedo mais bonito do mundo! Mas o tempo foi passando e apesar de ter tudo, a princesinha não tinha o que mais queria: Um príncipe pra brincar com ela. A verdade é que ela era muito sozinha e mesmo o brinquedo mais legal do mundo não lhe era companheiro como desejava. Ela queria alguém pra sorrir com ela, pra dançar descalço, pra correr na grama, gritar como louca, rasgar o vestido na cerca, pra beijar na chuva...Tudo que ela não podia fazer por causa das regras do castelo. E por mais que ela fechasse os olhos com muita força, e desejasse com toda a sua alma, ele nunca aparecia, ela ainda não sabia sobre o tempo nessa época. A princesinha cresceu, o castelo ficou um pouco envelhecido com o passar dos anos. Algumas borboletas foram embora, as estrelas perderam o brilho, as histórias encheram o saco e a nuvem evaporou. Seu quarto já não a acolhia mais. Seu título de princesa pesava seu estômago, e ela nem se lembrava de que podia fechar os olhos e desejar, achava melhor mesmo trabalhar. Seus cachos ficaram um pouco opacos, talvez fosse a tinta pra cabelos que tinha estragado os fios. A princesa chorava sua solidão, chorava não ter tido a única coisa que realmente tinha desejado, chorava sua existência real sem histórias, sem sonhos, sem vida. E isso tirava suas forças, apagava seu sorriso, queimava sua pele até ela não aguentar mais. Mas um dia ele apareceu. Assim do nada. Veio com o tempo. Não foi de cavalo branco, nem com uma super BMW, mas com um carro normal, que ele tinha batalhado pra comprar. Ele trabalhava muito e ainda assim tinha olhos de quem sonha, e foi por isso que ela o reconheceu sem esforços. Não foi amor a primeira vista, como as histórias que seu chão contava, eles se tornaram amigos primeiro, e então ele a conquistou pra sempre. Ele a fez lembrar que era mesmo uma princesa, e que isso não precisava ser um peso. Ele a fez crescer de verdade e não só pras coisas penosas. Eles brigaram muito, se desintenderam, e se não soubessem o final feliz desse história, teriam desistido nas páginas do meio. Ela aprendeu a ser uma princesa de novo, aprendeu as dores que impulsionam, aprendeu a ser melhor, porque ele merecia cada esforço. Ela tinha perdido suas cores junto com seu castelo, e ele a ajudou a se lembrar como pintar. Ela entendeu quem era nesse conto, e lutou para assumir de vez seu papel. E eles são felizes, muito mais que nos contos de fadas, porque esta história é deles e eles podem fazer o bem entendem com ela, até ser feliz se quiserem.

Monday, February 12, 2007

Toda vida

A minha é assim, a delas também, e a sua? Também é? Sabe, cheia de dúvidas entendidas, complicações tão simples, palavras voadoras, argumentos criativamente inventados. É cheia de decisões chatas pra tomar, cheia de coisas legais pra fazer, obstáculos pra fazer suar, cheia de tanta coisa que ás vezes eu tenho que parar, olhar pra tudo e rir feito louca. Ela é assim mesmo, gostosa, quentinha, divertida, compreensiva, sabida, burrinha, linda como só ela...E pode ser tão cruel, apertar a ferida sem dó com o pretexto de que faz pra curar, esperta que só ela. É assim sabe? Moleca, intelectual, sexy, misteriosa, doce com um gostinho que ninguém consegue definir, só mesmo saborear. Então eu fico triste ás vezes, sozinha, cansada, mais cansada que sozinha, porque ela nunca me deixa. Mesmo quando eu acho que ela está indo embora, me deixando, quando a dor é tamanha que eu tenho certeza que estou ficando sem ela, é apenas mais um de suas maneiras de mostrar que no final das contas, elas não vai embora não...Ela é como toda vida. Cheia dela mesma. Então todo o céu faz sentido, toda essa terra respira, todo oceano refresca e tudo vira um espetáculo orquestrado, perfeitamente desigual e polido, como toda vida.

Friday, February 09, 2007

Pra alguém acreditar

Ela abriu a porta da frente, e não me entendam mal, foi a porta do seu coração. Depois de ler algumas outras linhas de solitários pensadores e contadores de história, ela soube o quão feliz era. E sua solidão muito mais acompanhada que imaginava. Se sentiu um pouco triste em perceber o desespero de expressão que existe, e o desperdício de palavras não ditas ou não lidas, mas continuava a acreditar fortemente que um dia isso iria mudar. Acreditava de um jeito que era até piegas, que parecia ingênuo, mas era invejável e admirável. Ela acreditava em fadas e princesas, acreditava que junto desse mundo real, junto das gritarias, das almas amargas, existiam almas de sonhos, mentes de contos, sorrisos sinceros... Ela acreditava com tanta força que era impossível não sorrir. Pensava que mesmo atrás de tantos palavrões, as palavras só queriam expressar a vontade de sentir uma pele gostosa, uma voz acolhedora, um olhar de compreensão. E a angustia de não aguentar esse mundo ordinário, de não fazer parte dessa galera produzida em série, é apenas a vontade enorme de andar pelos tijolos de ouro em busca do bendito mágico no tal castelo. E sabe-se lá, mesmo que ele não exista, esse caminhozinho de tijolos e esse novo coração já valeram a pena. Ela queria escrever uma música, mas deixava isso para os seus amigos criativos, sua história era contar estórias mesmo. Ainda assim não deixava de dançar ao som de seus contos, e de outros. Para ela, eles eram de verdade, afinal em que mais iria acreditar? Ela olhava pro céu e pensava que um dia estaria lá, voando, feito o Clark. Apreciava as nuvens e ainda tinha a sensação de que na verdade elas não passavam de algodão doce. Aquele azul tinha um significado todo especial pra ela, era puro, era aquilo a realidade e a verdade. Diante de tantas discussões sobre o que é e o que não, o azul do céu ninguém podia negar. Era como todo o resto da natureza. O horizonte do mar, e ela ainda pensava que aquilo era o infinito, a água em sua soberania se dobrando ao continente só porque Alguém pediu. Ela ainda acreditava, e acreditaria sempre. Pensava que a vida era um musical, e que a todo momento estava sendo assistida, e que no maior e mais complexo reality show já inventado, as pessoas podiam assistir não exibições vazias e patéticas, mas a verdade de um sonho, de um poder humano digno de um gibi marvel. Ela acreditava no amor, na satisfação de ter uma pessoa nesse mundo a quem podia se entregar sem restrições ou limite de idade. E como seria o mundo se ela não acreditasse? Talvez ela viesse de outro mundo, desse de sonhos, para ser uma super heroina nessa terra perdida! Ela podia sofrer, tanto, que ás vezes achava que era o seu fim, mas suas dores confirmavam sua história. Suas dúvidas a faziam aprender mais, e ainda que se sentisse prostada e incapaz, sabia que aquilo iria durar até a próxima página, até a próxima cena. E esse acreditar era sempre mais forte que ela e seus bracinhos finos querendo pegar o mundo todo pra dar um abraço em família. É por isso que chorava, por isso que ás vezes queria só ficar no seu quarto, só com o peso do seu edredon sobre o corpo, ele sempre era mais leve que seus anseios. A vontade de viver tudo era tanta, e o desejo de sentir a intensidade da vida era tamanho que ela ás vezes preferia ficar deitada, sozinha, pegando fôlego, depois de engasgar o mundo. Mas sempre acreditava, continuava a sorrir na companhia de seus sonhos de menina e desejos de mulher. Era tudo real e ela sabia que um dia seus sonhos iriam ser assistidos numa tela que não a do seu pensamento, suas idéias seriam lidas em outras páginas que não as de seus olhos, e que seus desejos exalariam tanta vida que muitos iriam acreditar também.

Tem alguém me ovindo?

Eu não estou falando, mas tenho certeza que tem alguém me ouvindo. E esse alguém está ouvindo o barulho de cem mil borboletas batendo suas asas, leves no ar. Está ouvindo o brilho de cem mil estrelas de uma luz pacífica. E se esse alguém prestar bem atenção, vai ouvir também o som de cem mil orquestras ensaiadas e afinadas, tocando uma música pra Deus. Junto com a orquestra tem mais cem mil bandas de rock fazendo um som de guitarras dançantes que calam qualquer dor. Esse alguém, que eu não sei bem quem, se me ouvir por mais um tempo, vai escutar o clamor de cem mil corações que pulsam jorrando sangue quente, dando vozes a vida louca de vontade.
E desses corações vai ouvir cem mil histórias de amor...

Thursday, February 08, 2007

Palavra Sublime

Sublime. Nem sei o que essa palavra significa direito, mas foi ela quem definiu a noite. Ela foi soberana e nenhum de seus amigos adjetivos tiveram coragem de dar qualquer palpite para aquele momento. Teve uma outra palavra que é ousada por natureza, mas que estava um pouco desgastada, que invadiu o quarto chutando a porta, rasgando as roupas, derrumbando os pudores, empurrando pra fora do ringue qualquer distração da mente, dando ordens até mesmo á temperatura do ar, para que tudo ficasse perfeito. A palavra era um substântivozinho simples, qualquer, usado, abusado e até banalizado por bocas de todo o mundo, mas naquele momento teve um significado todo dela, dizendo coisas que outras palavras ralés não poderiam jamais conseguir caracterizar. Todas ficaram mudas, assistindo ao espetáculo do Sublime com a palavra cara de pau. Ela parecia renovada, depois de tanto ser dita ao acaso, depois de ser gasta com tanta rotina e lágrimas de cansaço. Outras palavras como Medo e Desistir gozavam dela por não ter ido embora ainda daquele lugar, e gozavam dela todos os dias, mas naquela noite elas se calaram, viraram pó e foram varridas com a ventania que sua atitude provocou. A Alegria, a Felicidade, a Satisfação, o Prazer, a Certeza, a Gratidão, ficaram todas lá, tentando um espacinho para entrar na festa, mas naquele quarto só cabia um substântivo e o Sublime, por isso o AMOR fez questão de mostrar quem mandava na casa.

Wednesday, February 07, 2007

O pesadelo

Acordei com uma vontade de chorar pior do que a que me ninou pra dormir. Além de querer morrer por uma vida ordinária, o único momento de sossego onde eu poderia sonhar que tinha o emprego dos meus sonhos, com o salário dos meus sonhos, com o cartão de crédito dos meus sonhos, eu dei pra ter pesadelos. Tinha uma infeliz de uma garota que me assombrou toda minha infância com os longos cabelos loiros, os brilhantes olhos azuis, e a alma de bruxa da branca de neve. Eu estava feliz reunida com velhos amigos que não via há tempos, apresentando a eles meu namorado lindo (ele pelo menos é de verdade, mas...) e a loira bruxa se exibindo pra ele tentando ganhar tudo que é meu como sempre foi a razão de sua existência. Mas eu nem ligava porque ele era todo meu mesmo, e ela nem fazia o tipo dele. Eu continuava feliz até que ela disse para uma pessoa que eu não sei quem era "Tudo bem, ele me liga sempre!" O céu ficou escuro, as imagens do pesadelo ficaram mais turvas, e eu sabia que estava no inferno. Peguei meu namorado pela mão e o levei onde podiamos conversar a sós, olhei nos olhos dele e disse "Por favor, me diga a verdade, você já teve qualquer contato com ela?" Sua resposta não precisou ser completa porque no pesadelo eu e minhas artimanhas de cineasta demos conta de, enquanto ele falava, montar as cenas pra eu sofrer com estilo. "Eu queria ir embora, mas ela me pediu pra ficar e eu disse que só iria assistir ao filme..." No pesadelo doia tanto que eu tentava abrandar a angústia passando as unhas com força no asfalto. Ele não tinha feito nada com ela, mas tinha dado sua atenção, tinha dado a ela o privilégio da sua voz, do seu respeito, da sua presença, do seu papo... Era a mesma coisa pra mim. Eu tinha sido traida, e então acordei. Senti o calafrio de quando acordo de um pesadelo horrível com mostros e perseguições, queria acender a luz com medo da loira bruxa estar por ali escondida, queria ligar para o meu namorado e perguntar com quem ele andava falando ultimamente. Fiquei insana por alguns bons minutos. Quando o sangue esfriou um pouco pensei em como amo aquele filho da mãe que me faz perder a cabeça com um sonho estúpido. Só consegui dormir de novo quando lembrei da frase de Gabriel Garcia Márquez Não se preocupe, não é a primeira vez que uma mulher fica louca por um homem...