Monday, November 19, 2007

Estórias

Estava longe de casa há tempo suficiente para esquecer o nome da sua rua. Havia saido para um passeio e resolveu olhar o mundo, cidade por cidade, pessoa por pessoa, para ver se reconhecia alguém. Procurou em mil olhos o mesmo brilho que tinha deixado pra trás. Vasculhou bocas e mais bocas atrás do gosto que satisfazia sua alma. Percorreu as ruas charmosas, os caminhos mais cultos, as vilas mais lendárias e encontrou histórias e mais histórias em terrinhas cheias de gente.


Por um tempo esqueceu porque tinha saído. Esqueceu de onde vinha e se batizou com outro nome num outro templo. Virou qualquer pessoa diferente, inteligente, viajada, com aquele olhar de cidadã do mundo. Por um tempo caminhou atrás de sua sombra pra ver aonde ela a levaria.


Acordou num quarto de uma cobertura numa metrópole européia. Se assustou com a altura do prédio e mais ainda com o mordomo trazendo seu suco preferido. Resolveu aproveitar o sonho maluco e usar um dos casacos de lã da índia que lotavam o mega closet. Tentou e tentou, mas não teve como não se perguntar em que momento tinha conseguido tanto dinheiro. Tropeceu na escadaria do prédio.


Sentiu um carinho gostoso, um toque de pele que a fez despertar devagar. Ouviu um sussurro "Está tudo bem meu amor...descance." E voltou a dormir.






Sunday, November 18, 2007

Essa nossa vida

Quando eu vou falo sério eu falo de você. Quando escuto uma música que amo e me faz pensar, penso em você. Quando a coisa é pé no chão, de verdade, coisa pra levar a sério e cuidar mesmo, é você que está no assunto. E eu não sei como a gente se envolveu tanto, assim como quando eu não consigo falar com você no telefone e fico vazia, sem ouvir a sua voz que me acalma e me preenche. Não sei quando foi que aconteceu que, quanto mais eu sou independente de você mais ligada eu fico a sua pele, mais saudade eu sinto num espaço ridículo de tempo. Ridículo porque todo e qualquer tempo longe de você é ridículo, assim como qualquer pessoa que eu pense em colocar no seu lugar, todo mundo é ridículo e chato e vazio. Eu não acredito que quando não falo com você minha cabeça, tão resolvida, tão treinada com livros e livros de terapia cognitiva, consiga pensar tantas situações em que você poderia estar. E eu fico louca de imaginar que você poderia estar sorrindo pra outra pessoa, que você poderia estar ouvindo e olhando com a sua cara de vontade pro corpo de outra mulher. Eu fico louca com a idéia da sua existência longe da minha. E eu não sei se isso é doença de posse ou amor engasgado, mas é o que eu sinto. Como nossas mentes seriam injustas se não deixassem que nossas vidas ficassem juntas, assim mesmo, misturadas, meio sem saber o que é de quem, mas tudo arrumado num espaço lindo. Sem você ia ser tudo muito chato, mesmo com a terapia cognitiva funcionando neste momento e eu entendendo que talvez você quisesse outra vida e que eu teria que respeitar isso, eu não poderia aceitar. De teimosa que eu sou ou de justa que sou com o que acredito. Eu prometo não contar esse texto pra ninguém, prometo que não conto pra ninguém o homem que você é quando fica comigo sem nada pra interferir. Prometo ouvir tudo que você quiser me dizer na mesa de um restaurante depois de um vinho ou um suco de laranja, e prometo ouvir e não contar pra ninguém o que você me disser no ouvido, puxando meu cabelo e enlouquecendo todos os pelos do meu corpo. Eu prometo, meu amor, cultivar essa nossa vida e eu não quero que o mundo saiba da gente, dessa parte nossa que é minha e sua e que ás vezes enlouquece até as palavras. Eu quero ser sua pra sempre.

Estacionamentos

A primeira vez foi no do supermercado. Logo ali, naquela vaga perto do poste de luz, atrás de um corsinha verde, tá me vendo? Tô parando atrás de você. Teve aquela no estacionamento do Macdonald´s, acho que era começo de tudo, a gente tava com fome. Um monte de gente passando pra comprar lanche e a gente comendo coisa muito melhor no estacionamento. No do shopping deu um pouco de medo, muito movimentado, tinha que interromper seus movimentos pra ficar de olho. Daí foi na frente daquela Igreja...até na Igreja. Depois do horário comercial paramos em uma empresa meio afastada, ali era seguro, o que não era mais seguro era você e eu. Teve uma vaga perto de uma faculdade, a gente falou mais do que outra coisa, acho que era o ambiente educacional, eu precisava aprender a não te beijar. Mas aquelas vagas foram ficando cada vez mais apertadas e difíceis de encontrar. Seu farol nos meus olhos começaram a irritar, eu queria ver mais você, mas ás escondidas nunca conseguia e resolvi estcionar com a gente de vez.