Thursday, March 29, 2007

Retrato do Brasil

Autor da proposta de reajuste, Guimarães disse não temer críticas pela decisão
de colocar a matéria em votação. "Quem votou em mim sabe a minha maneira de
colocar esses assuntos sem o menor subterfúgio."
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u90540.shtml

O ditado diz: "Cada povo tem o governante que merece." Será que temos que ficar calados diante de um parlamentar ELEITO em eleições recentes, que detalhe: seguiram escandalos intermináveis de corrupção e ainda assim elegeram muitos dos envolvidos direta e inderetamente nos casos. Será que temos que resevar nossos argumentos inconformados para as mesas de almoços de domingo? Recentemente quando a proposta era de uma aumento muito maior, fomos convidados via internet para uma manifestação contra a votação que aconteceria na Paulista. Fomos meu namorado e eu. E só. Não havia mais NINGUÉM lá... Aconteceu que o aumento não foi aceito e colocaram panos quentes no assunto. Agora o aumento é mais modesto, com bases em reguladores e coisa e tal. Mas será que nosso país está tão correto e livre de outros assuntos relevantes para que esta medida seja colocada como prioridade? Todas as nossas crianças estão na escola, inclusive com um método de ensino invejável! Sem contar que emprego não é problema pra ninguém, todos estão ganhando um salário justo e as oportunidades batem na porta! E a segurança então??? O tal deputado autor da proposta deve passear a pé nas noites de São Paulo, e passar os fins de semana no Rio com a família onde todos podem curtir a paisagens da linda praia sem medo de coisas como balas perdidas, porque essas coisas todas já foram resolvidas pela nosso integra e eficiente polícia. Enfim, eles merecem mesmo o aumento... Já o Sr. Jorge Antonio que sustenta a família de 5 pessoas com um salário de 300,00 (que por coicidência é o mesmo valor gasto semanalmente por algumas mulheres no salão de beleza) não merece um aumento. Porque afinal de contas, ao invés de acordar ás 5 da manhã e muitas vezes ficar sem almoço pra não perder tempo, Seu Jorge Antonio devia trabalhar apenas alguns dias da semana, inventar projetos que nunca saem do papel, fazer promessas infundadas e utópicas. Não, o Seu Jorge não devia ter feito nem o segundo grau, devia ter se acidentado no primeiro trabalho que teve na vida e viver disso depois! Enfim, o Seu Jorge Antonio não sabe aproveitar as grandes oportunidades que nosso lindo Brasil proporciona, é óbvio que ele não merece um aumento, e sim nossos parlamentares...esses sim...grandes homens...RETRATO DO NOSSO POVO. Ainda não passou no Big Brother o episódio que conta que estamos acabados...por isso ninguém sabe.
E nós fazemos o quê? Admiramos...pasmos e impotentes.

Wednesday, March 28, 2007

Trombadas

Foi quase sem querer que eles se encontraram. Numa sala de aula, ela tinha ido acompanhar uma amiga na faculdade e ele estudava no mesmo prédio. Se toparam no correrdor, irônico, porque assim seriam todos os seus encontros, topadas de paixão. Ele pediu desculpas, mas quando olhou nos olhos dela alguma coisa aconteceu porque o ar mudou de cor, e tudo ficou mais quente. Ela não ficou alhei a esta mudança de temperatura, mas esfriou logo as coisas com uma resposta mal educada. Ele virou as costas decepcionado, ela não devia ter procovado aquela mudança no mundo, era muito metida. Mas tinha sido ela sim, ela causava isso nas pessoas. Algumas semanas e ela acompanhou a amiga em um churrasco do curso, se esbarraram de novo. Desta vez ela deu risada e foi ele quem não levou na brincadeira. Ela entendeu que tinha exagareado da última vez, esperou que ele ficasse sozinho e foi quebrar o gelo que ela mesmo construiu. Ele sentiu o calor de novo e as cores voltaram, então deu a ela uma chance de provar se era mesmo tudo aquilo. E provou. Conversaram e riram muito, contaram histórias picantes e parecia que qualquer coisa poderia ser dita naquele espaço pequeno entre os dois. Telefones trocados e beijos de adeus. Um longo adeus que durou o tempo de se lembrarem da conversa gostosa, dos olhares e risadas que desejavam algo mais. Ela estava sozinha, pensando em nada, resolveu ligar. Brincadeiras disseram tudo que eles tinha vontade e a noite provaria se tinham coragem. Trocaram mais que telefones desta vez. Foram beijos, carícias, risadinhas no ouvido, foram palavras perfeitamente excitantes. Foram momentos que eles não iriam esquecer. O adeus foi um pouco estranho, não sabiam o que seria a seguir, estavam perplexos por aquela cama. Recadinhos no dia seguinte, um rápido telefonema, e ainda não tinha idéia se a noite anterior tinha sido verdade ou sonho. Tudo ficou quieto por um tempo. E enquanto ele nem pensava mais, ela não sabia mais no que pensar. Ele ligou. As conversas e outras coisas boas rolaram de novo, mas por que não faziam disto uma coisa certa? Se podiam... Mas parecia existir uma medo mais forte do que o desejo que os tomava. Talves fossse medo do amor, mas não achavam que a coisa era tão séria. E se encontraram outras vezes, em trombadas de sentimentos loucos, trombadas de movimentos insanos e a paixão fazendo deles o que bem entendia. E devia ser assim, raro, temporário, ainda que ela se sentisse um pouco sozinha com tudo isso, e ele pensasse nela o dia inteiro. O lance deles eram as trombadas e não tinha outro jeito. Indas e vindas suadas, cantadas, armadas, e totalmente sem sentido.

Suicídio ao contrário

Abri meu coração pra ele poder sangrar em paz. Sangrar minhas dores, minhas dúvidas, minhas falhas, minhas conquistas, meus amores. Sangrar até que isso signifique algo. Até que esse sangue todo dê uma coisa só. Onde eu consiga ler minha história nas células perdidas dentro de mim. Porque o mundo me parece tão possível e insistem em me dizer que eu não sei de nada, que eu não faço nada e que eu vivo sem os pés no chão. Então resolvi mostrar o coração que pulsa, com o sangue jorrando na cara desses imbecis que não sabem o que é viver de verdade. O meu sangue é mais vermelho, é a cor da vida. É cheio das minhas histórias, é quente como eu. É intenso e consistente como tudo deve ser. É a realidade expressa em matéria, gerando vida de um líquido gosmento. E eu aperto meu coração com força, sinto doer, mas faço sair mais sangue, me espalho pelos cantos para os vampiros dessa terra não terem mais o que sugar de mim. Encontro a paz nesse rouge do mar, encontro a paz nesse desabafo do meu corpo. Encontro a vida escorrendo pela minha pele. Esse sangue carrega todos os sentimentos já experimentados. Carrega as emoções, se esvaindo da alma. E toda essa experiência só é possível porque vivo. A morte fica longe, a vida toma o palco.

Tuesday, March 27, 2007

O parque

Dancei muitas músicas sem você. Corri quilometros com alegria e disposição. Assisti cem balões subirem aos céus, dando cores às nuvens e ao meu coração. E fiquei lá sentada naquele parque te esperando. Esperando que você aparecesse com a sua cara de deboche e a gente desse muita risada. Esperando que você não me trouxesse flores nem chocolate, mas me trouxesse muitas histórias legais pra contar sobre você. Fiquei esperando. Tentei ouvir a sua risada no fundo de mim, mas não tinha nada de engraçado. Então tentei chorar a sua ausência, mas nada tinha de tristeza. Fiquei naquela grama, sentada, deitada, esparramada, com um sorriso não sei de que, mas de você não era. Fechei os olhos numa última tentativa de te trazer pra mim, e você apareceu meio transparente, com um som baixinho, e muito mais forte vieram outros olhos, e uma boca que te fez sumir de vez. Levantei e olhei pros lados, pra ter certeza de que você não viria. Confesso, ainda esperei alguns minutos porque pensei que se você viesse, eu iria me lembrar de tudo de bom que você tem, ou deve ter. Esperei quem sabia que não chegaria nunca. Dei mais um sorriso acompanhada das suas lembranças, mas elas logo me deixaram já que você não se importou em cultivá-las. E eu fiz questão mesmo que elas fossem embora porque afinal, não foi por elas que esperei a tarde toda. Estava meio perdida, meio estranha, talvez triste porque no lugar de me contar suas histórias você acabou com a nossa. Então pensei em tudo que passou e percebi quão pouco fomos um pro outro, percebi o desperdício de beijos e toques pra nada. O desperdício de palavras, de olhares, de sons sedutores, isso devia ser proibido! E até de falar de você eu cansei, até de pensar, porque a superficialidade dessa nossa história me violenta a alma. E vou matando isso aos poucos, percebendo que não tem mais nada de nós, e que os momentos foram tão raros que não deu tempo de manter nada, de guardar nada. E o que me deixa triste mesmo é justamente porque ficamos boiando, dando mergulhos em outras pessoas e nos deixando de lado por um motivo qualquer. Essa espera me fez mais calma, mais consciente, de que passou, assim como os balões que sumiram no céu.

Monday, March 26, 2007

A solidariedade e a carteira de couro.

Ele estava na minha frente no caixa do supermercado. Uma garrafa de fanta, um quilo de feijão, dois pacotes de fumo, uma garrafa de pinga e um cigarro. Nove reais e setenta centavos. Camisa xadrez rasgada nos ombros, os botões errados, barro que sujava também a calça jeans dois tamanhos maior. Os olhos vermelhos entregavam sua história. A pele rachada do sol, as mão tremulas buscaram um cigarro e uma caixa de fósforo no bolso desmazelado da camisa. Eram olhos tristes. A mocinha do caixa e o empacotador esperavam a finalização da compra com o pagamento, o senhor se limitava a acender seu cigarro. Perguntou pela terceira vez "Nove e setenta?" e pela terceira vez a moça respondeu "Nove e sententa senhor." Alcançou a carteira de couro preta no bolso da calça, abriu uma parte, nada, abriu outra parte, nada. Fechou a carteira, guardou no bolso de novo. Colocou a mão no outro bolso da calça e depois no bolso da camisa. Nada. Deu mais um trago no cigarro "Não tenho dinheiro." A moça do caixa paciente "Deu nove e setenta senhor..." Um silêncio esperava a boa ação de alguém da fila que aumentava com a demora, ou então um gesto de solidariedade do pessoal do supermercado em fazer aquela compra essencial sair de graça. Mas o silêncio continuou. Fiquei pensando se ele esperava mesmo que alguém pagasse ou que saisse de graça aquela compra. Cachaça não mata a fome, mata a realidade isso sim, mas quem é que patrocinaria tal assassinato? O senhor pegou a carteira novamente, abriu uma parte, nada, abriu outra, nada. Então abriu de novo a primeira parte e tirou algo embrulhado em uma folha de caderno. Era dinheiro. E bastante. Pegou uma nota de dez e entregou para a moça que já tinha perdido a paciência mas mantinha a postura. O empacotador entregou-lhe a sacola enquanto a moça lhe dava o troco. Ficou lá ainda mais uns segundos, esperando não sei o que, até que a moça do caixa me chamou para passar as minhas compras e ele se foi. Para mais uns dias de sobrevivência com uma fanta, um quilo de feijão, dois pacotes de fumo, uma garrafa de cachaça e uma maço de cigarro, mas com dinheiro na carteira de couro.

Monday, March 19, 2007

Choveu no fim de semana

A chuva lavou os meus olhos e então eu pude enxergar o quanto tenho de mim mesma morando em você. Eu fiz de tudo pra ficar no meu mundinho, pra que nada mudasse. Fiz de tudo pra não me encarar no espelho e pra não ter que perceber que sou muito mais forte do que me fazia. Mas as suas mãos não estavam lá pra me segurar, e eu tive que escolher. Tive que escolher me olhar de frente. Tive que enxergar tudo que sou e confesso que tive medo da minha própria pele. Porque nos seus braços eu sempre pude estar segura sem ter muito com que me preocupar. Eu sempre tive tempo de me inventar como quisesse e ignorar minhas verdades. Até que você me abandonou. No momento em que eu mais queria seu colo. No momento em que eu podia me acomodar de vez nas suas costas macias. Eu tive que sentir o duro do chão contra o meu rosto, e pensei, sozinha naquele piso frio e sem coração, que nunca mais iria viver algo assim na vida. Você sempre teve suas razões, e eu sempre corri atrás para ser um ser humano tão bom quanto você. Quando eu pensava que tinha tudo resolvido, argumentos revisados, meus motivos e razões em seus devidos lugares, você me surpreendeu com a sua ausência. E disse que eu precisava de espaço. Mas quem é você pra saber o que eu preciso? Não sei, mas você sempre sabe. E nesse espaço escuro e vazio eu tive que bater um papo comigo. E tive que aceitar todos os sentimentos que vinha rejeitando, as decisões que vinha protelando, e foi muito melhor do que pensei que seria. De novo, você sempre sabe o que eu preciso. E veio o fim de semana chuvoso, e veio todos os meus amores por você numa nuvem enorme e carregada. E veio você com a sua atenção sem fim e seus carinhos constantes. E o nosso espaço nunca existe porque a gente mora um no outro, com direitos garantidos. Ainda que eu fizesse de tudo pra te tirar de mim, pra me esconder da gente, pra fingir um sentimento sem importância, essa chuva ia chegar de um jeito ou de outro e iria nos fazer ficar debaixo daquele edredon azul clarinho, abraçados, satisfeitos de que o mundo cabia naquele quarto.

Tuesday, March 13, 2007

Lembranças

Lembrei de um parque que conheci quando criança. Era tudo colorido, tudo sorria, tudo era feliz. Lembrei de uma paixão que tive por um garotinho de olhos verdes, lembrei também que ele me trocou por uma amiga minha que deu em cima dele insistentemente. Eu chorei, e foi a primeira vez que me decepcionei com um homem e com uma grande amiga. Lembrei da primeira vez que beijei alguém que amava, ele era um amor enorme, mais velho, experiente, cheio de histórias pra contar aos 18 anos. Eu não senti tesão. Só um friozinho na barriga de que aquele beijo era tudo que eu esperava por longos meses da minha vida curta. Mas a história de como aconteceu é que me realizou mesmo. Lembrei de gritos na minha casa. Meus pais descontrolados brigando sempre pelas mesmas coisas. Lembrei do escuro do meu quarto nesses momentos e de como eu pedia pra Deus pra dormir logo e não ouvir mais nada. Lembrei de um acampamento da Igreja. Eventos da Igreja. Amigos da Igreja. Era tudo tão sincero e puro, era essencial. Lembrei de uma briga na Igreja. Foi a primeira vez que eu me dei conta de que o ser humano sempre falha. Lembrei de quando meu namorado terminou comigo por motivos tão pequenos. Foi a primeira vez em que eu me senti realmente sozinha. Lembrei de quando ele me pediu pra voltar. E foi a primeira vez que eu tomei uma decisão feliz na vida. Lembrei de caminhos tão errados que tomei, de tantas coisas que aprendi vivendo. Tantos livros que li, conselhos que escutei, cenas que assisti. Foi a primeira vez que me dei conta como o tempo passa e como a gente vive. Lembrei de mim. Dos olhos que viram o parque, o garotinho e a amiga, a beijo, a essência, as coisas ruins e as coisas boas. Os olhos eram os mesmos e eu fiquei feliz em saber que sou tudo aquilo que me lembro.

Monday, March 12, 2007

Existência

Meu corpo colocava pra fora o que minha alma não podia engolir. Devia conseguir vomitar sentimentos, vontades, sensações, pensamentos. Só saiam coisas que eu comi, ou nada. E eu tentava mais forte, enfiava o dedo na garganta, fechava os olhos pra expelir os pensamentos e aliviar as emoções. Nada parecia adiantar. Meu corpo se contorcia em angústia e um aperto indescritível. Eu não estava cabendo na minha pele. Tive sonhos que me avisaram. Tive sinais da vida me gritando que aquele caminho não era meu. Mas envolvida numa dança de hormônios e de paixão natural eu fazia o que a situação pedia sem saber o que iria me acontecer depois. Meu estômago não me perdoava mais. Chorava dentro de mim, se mordendo de raiva por causa da minha mania de achar que as coisas não têm conseqüências. Mas quem me puniu mesmo, foi minha alma. Entrou chutando a porta da minha mente, jogando meus pensamentozinhos iludidos todos na parede. Sacudindo meus sentimentos pelo pescoço e puxando os cabelos dos meus desejos imbecis. Ela não teve pena de nada, porque sabia que se não fizesse isso eu poderia acabar comigo em uma outra noite de negociação com o mundo. A alma gritava, berrava feito dona do lugar com um ar insano de uma sabedoria essencial. Questionava cada centímetro das escolhas e tudo se calou para ouvi-la porque sabiam que ela tinha razão. Cansada de ser negociada, de ser entregue a toa, ela deixou bem claro que estava lá. Não alheia ao que acontecia naquele corpo e naquela mente, mas atenta, aprendendo a aumentar sua força, a ler sua essência e a usar suas vontades. Por isso quando percebeu uma movimentação diferente, um ambiente onde ela não podia ficar, resolveu deixar a formalidade de lado e mostrar que existe. Do lado de fora eu fazia uma força enorme pra que minha alma tivesse tempo de fazer tudo que precisava dentro de mim. Fazia força para apoiá-la até que tivesse colocado ordem naquela bagunça de sentimentos. Forçava pra fora as imagens, cheiros, gostos, frases, tudo que levava minha mente pra tão longe de onde ela deveria estar. A alma chorava compulsivamente com o árduo trabalho, e eu a acompanhava por entendê-la. Meu rosto estava encharcado com a vontade da pele de ser mais sua e os olhos desejavam dormir em paz, sem enxergar as cenas que lhes violavam os sonhos. A mente já não entendia sua existência, afinal de contas as emoções estavam tão crescidas que mandavam nela como queriam. A alma apareceu para mudar tudo. Deu a mente seu posto roubado durante as brincadeiras dos pensamentos e sensações e mandou as emoções se colocarem nos seus devidos lugares. Estava tudo tão enorme que o ambiente tinha um motivo circense, com ilusões penduradas em trapézios, paixonites correndo enfileiradas num trenzinho de curiosidades. Vontades coloridas fazendo a intimidade rir com suas palhaçadas, e desejos pintados dando shows de contorcionismo. Os hormônios surpreendiam com seu número de mágica, sempre tirando um bicho diferente da cartola do animal humano. Mas o espetáculo da existência que devia ser maravilhoso e único, se tornou uma cena de terror porque as ilusões penduradas se espatifaram no chão em cima do trenzinho das curiosidades. As vontades se tornaram aqueles palhaços assustadores e corriam gargalhando atrás das intimidades desesperadas. A tinta dos desejos escorreu deixando a mostra músculos contundidos e os bichos que saiam da mágica dos hormônios mordiam as expectativas inocentes que assistiam com os olhos arregalados. Foi aí que eu vomitei. E foi aí que a alma entrou como mestre de cerimônias, aos gritos, mandando todo mundo voltar aos ensaios, enquanto as expectativas aguardavam sentadas, a próxima seção.

A lágrima

É a superficialidade dos meus vícios rindo da minha cara de vontade. São as possibilidades presas, enjauladas, tristes em um canto qualquer. É o ralo do meu raciocínio domando o leão, domesticando a fera e matando a perfeição da natureza. É a música certa que trilha o momento que não vai acontecer. São as minhas células decepcionadas e só. São os meus olhos desentendidos, procurando algum sentido que valha a pena. É a possibilidade escorrendo nos dedos. São as suas sensações se armando enquanto você se morde por dentro. É a sua intensidade com medo da minha. São as nossas mentes em duelo. É a vida me pedindo trégua.

Friday, March 09, 2007

O Sorriso

É a intesidades dos meus vícios. São as possibilidades loucas, soltas por aí fazendo festa. São essas sensações que sairam da jaula e estão causando arruaças por onde passam. É essa intensidade comandando o circo dos meus pensamentos e domando meu corpo feito leão. É a música que não termina e obriga a dança constante. São as minhas células descontroladas, famintas e sedentas, se encostando em outras peles só pra se divertir. São os meus olhos a procura dos movimentos dos corpos entregues numa cena impossível de negar. É a possibilidade de conquista crua. São as suas sensações se despindo enquanto você tenta manter tudo em ordem. É a sua intesidade aprendendo a minha. São as nossas mentes fazendo amor. É a vida sorrindo pra mim.

Experiência

Fique parado. Se limite a respirar e sentir. Me olha tomar o seu mundo e fazer dele uma intesidade desconhecida. Me olha mudar tudo até que você não reconheça nada ao redor e se encante com o que encontrar. Mas fique calmo, porque eu vou te trazer de volta. E a vontade que vai ficar vai te consumir a alma até o último suspiro. Feche os olhos e apenas sinta. Meu corpo, minha saliva, meu ventre. Sinta que não existe nada mais certo nesse mundo pra você. Abra os olhos e veja que não está sonhando, que o quente que te abraça é o calor que te faz viver de verdade, é a temperatura das essências que só se encontra uma vez na vida. Fique quieto, cale seu discurso aprendido. Ouça o meu som de doçura, de sabor, de loucura. Vem me ouvir aqui dentro. Sons que calam sua espera, que calam tudo em você porque está terminado em me ter. Assiste minha dança na sua pele. Assiste minha dança na sua cabeça, mas não esqueça de acordar, porque deve ter alguém te esperando em algum lugar. Seu ar vai sumir por alguns segundos, seu coração vai parar um pouco e voltar a bater devagar ou no rítmo que eu quiser. O que está acontecendo aqui é um experiência de você. Eu quero ver até onde você sobrevive e em que momento passa a viver. Porque quando isso acontecer, eu posso ir embora.

Tuesday, March 06, 2007

Sonho de guerra

Lançou um olhar ao tempo e ousou sonhar. A batalha do século acontecia dentro dela num ímpeto de coragem que lhe tirou os pés do chão. Voava com a destreza de mil águias e não vacilava os pensamentos nas trocas do vento. O tempo matinha seu nobre desafio. Armas e olhares a postos, as sortes estavam lançadas. Ousou acreditar que as terras obedeceriam a força do seu desejo. Não mudou a feição, nem uma ruga de esforço sequer, mas os músculos de seu espírito estavam rígidos em guerra. As horas, os dias e os meses faziam parte do time adversário e cumprimentava-os conforme se apresentavam, conquistando-lhes a confiança e trazendo um a um para o seu lado. Não podiam dizer pelo semblante sereno e pacífico que travava uma luta tão devastante. Os lábios pintados, a pele exalando um perfume dos céus e a mente fixa nas estrategias que a levariam a conquista. O olhar queimava as investidas do inimigo e a firmeza do coração envergonhava os oponentes. Riam-se de sua insistência em acreditar, como que numa atitude desesperada de fazê-la parar, riam-se para não cair em desgraça. Mas o brilho dos olhos continuava a crescer, como que formando a imagem que começou como uma sombra leve na mente. E podia ser visto nas meninas dos olhos que aquela não era uma menina qualquer. Podia ser visto a dureza de sua essência em entregar ao tempo o que tinha de melhor. Iria brigar até o fim. E no fim não tinha espaço pra dois, mas o dela estava garantido por sangue. Escutava uma música constante, uma melodia de anjos e arcanjos que a embalava em seus golpes e ensurdecia os desafortunados que se levantavam contra. Enquanto riam, fechou os olhos, e se calaram num súbito entendimento de que a derrota lhes era certa. E assim mesmo, de olhos fechados, foi que ela provou também pra si mesma, que seus sonhos tinham poder.

Monday, March 05, 2007

Estranhos

E acabou assim. Sem se falarem, sem um telefonema, sem uma recado, sem nada. Acabou porque essas coisas tem que ter um fim. E foi assim mesmo, de uma hora pra outra, quando ela menos esperava. Um dia acordou com uma vontade estúpida de falar com ele, de se entregar mais uma vez, de fazer o que tinha vontade e respirar o mesmo ar que ele. Mas com o mesmo ímpeto que a vontade veio, se foi. Se foi todo o encanto, todo o tesão, todo desejo insano de se grudar na parede com ele. Tudo passou como um vento devastador, e tão rápido que o que ficou foi só uma lembrança de um toque diferente e quente. Ela não ligou pra lhe dizer que não se interessava mais. Ele não a procurou porque tinha seus motivos, sempre misterioso. Acabou assim, sem fim, mas com um enorme ponto final. Ela nunca iria dizer pra ninguém o que foi que aconteceu. Que neste dia de tanta vontade ela o assassinou dentro dela pra que o estrago não fosse maior. Ela nunca iria dizer que não saber o que ele pensava de verdade lhe trazia um desespero angustiante, e que como nunca confiara nele, sempre estava na dúvida. Ele nunca iria dizer pra ninguém o que sentia, se era puro tesão ou se gostava um pouco mais do que o permtido de toda aquela situação conveniente. Ele também não confiava nela. Mas se desejavam com uma intesidade perfeita, que sempre fazia dos encontros momentos de uma realidade iludida com a possibildade de que aquilo poderia durar. Nas horas que durava não tinha fim, enquanto se tocavam não tinham limites, queriam ser um só. E ele nunca iria conhecê-la de verdade, porque neste jogo de desconfiança eles não faziam mais parte da mesma equipe, tinham passado para times adversários sem nem perceber, e passaram a se proteger um do outro. Mas foi assim, numa ventania de sentimentos confusos que tudo mudou. Que tudo acabou. E ele não existia mais dentro dela, em lugar nenhum. E ela era mais uma pra ele, como tantas que haviam passado pela sua cama. E eles se encontrariam de novo depois de algum tempo, em qualquer festa, em qualquer bar. E se olhariam como estranhos em corpos tão conhecidos.

Sunday, March 04, 2007

Sobras

Desceram suaves molhando meu rosto, tingiram meu edredon de preto quando se misturaram com a maquiagem. Elas eram bem vindas, pra que de alguma forma a dor saísse do meu corpo junto com aquela tinta.

Escorregou por entre meus dedos sem que eu percebesse. Abri as mãos e não tinha mais nada ali, apenas o cheirinho de realizações incompletas.

Ele continua me visitando na mente num lugar que é só dele. Teve que se contentar em existir apenas na minha cabeça porque as chances vão diminuindo a cada dia.

O medo de sonhar e não viver se igualou ao de não sonhar nunca mais.

Continua existindo em mim algo que queima. Algo que eu não mereço por ser tão sagrado e eu tão mundana. Mas continua a existir, e eu continuo não conseguindo entender como ainda acredito.

E se não mudar nunca?

A solidão me cutuca a alma, o espírito, o corpo. Dá risada das minhas aspirações em mais uma noite frustrada. Dá risada na minha cara por pensar por um segundo ser importante pra alguém. Dá risada que eu sonhe...

Não sei o que vou fazer amanhã. Talvez pinte tudo de preto e me tranque num quarto esquecido até o mundo como eu conheço acabar. Ou talvez continue a sonhar.

Engana-se que esse texto é sobre você. É de uma parte de mim que não é sua, e nunca vai ser de ninguém.

Todos os sorrisos me deixaram, e eu sinto frio porque não tenho calor nenhum. Cansei de ser enganada pelo pouco das presenças quando eu mais preciso de uns olhos pra enxergar mais que o embaçado dos meus.

Não mais.

Saturday, March 03, 2007

Dia

Acordei e lavei o rosto. O sol me disse quando abri a janela que o dia seria muito melhor do que a noite, eu podia ficar tranquila. Coloquei uma música enquanto arrumava o quarto. Tomei café e fui malhar, meu corpo merecia o melhor cuidado que pudesse ter. De novo quando sai uma nuvenzinha bem pequena no céu, branca feito neve, me sorriu e disse que eu ficaria bem. Voltei da academia, comi alguma coisa, tomei um banho frio delicioso no calor que estava. Me vesti linda, confortável, do jeito que eu queria. Fui visitar uma exposição, fazia tempo que não saia sozinha pra pensar e ver as coisas bonitas do mundo. Quando parei o carro no parque um passarinho muito pequeno me cantou que a vida era tão linda e que eu podia dançar, ele me disse pra sorrir mais. Depois da exposição fui almoçar, sozinha de novo, porque só eu poderia enxergar as coisas do meu jeito. Sentei num restaurantezinho pequeno com uma comida boa, observei tantas outras vidas que são felizes mesmo sem você estar nelas... Foi neste instante que a garçonete inspirada por Deus passou por mim e disse "Ás vezes a melhor coisa é estar sozinha não é verdade? Parece que as coisas ganham novas cores..." nem esperou eu responder e saiu, assim como um recado divino mais claro impossível. Tudo bem, terminei meu prato e agora o que eu iria fazer? Talvez um filme? Passar o tempo numa livraria onde eu podia me perder da nossa história cansativa? O que seria? Fui a uma feirinha na rua, com milhões de bugigangas desnecessárias e indispensáveis. Fiquei feliz por existir essa variedade de coisas pra me distrair a cabeça de você. Então me daparei com um espelho numa moldura antiga. Vi uma imagem conhecida com um sentido completamente novo. Tinha o reflexo de uma mulher lá... Com ares de dona do mundo, do seu mundo. Com tantas histórias pra contar, e ela sorriu pra mim com uma cumplicidade que eu me senti ligada a ela eternamente. E uma borboleta pousou no meu ombro e me disse colorida que queria fazer parte da minha história, porque na minha vida todo mundo que passava se fazia importante. Voltei pra casa e dei um mergulho na piscina. Não existe nada como o som do silêncio e o toque da água. Quando me dei conta o dia tinha terminado e minha cama me esperava fofa. E eu consegui não só sobreviver sem você, como pude viver de verdade.

Friday, March 02, 2007

Meu ser humano preferido

Ouvi você descrever um sonho, e fez como eu, mesmo sem eu te contar. Vi você cuidar de pessoas que não conhecia, tirar a roupa do corpo pra entregar a quem não tinha o que vestir. Assisti você se entregar sem medidas pra um Deus que você queria tanto conhecer. Presenciei sua sinceridade em querer fazer as coisas certas, mesmo quando não tinha idéia de que atitude tomar. Ouvi você cantar com a sua alma, tão sedenta de significado. Vi você tomar decisões na vida, que ninguém apoiaria, e te amei justamente por isso. Antes de te conhecer, enxerguei nos seus olhos o que procurei toda minha existência. E passei a te amar quando meus sonhos encontraram em você uma casa. Eu te dizia quem você era pra mim, e você dizia que eu devia estar louca, porque só eu enxegava isso em você. Mas não meu amor, você nunca entendeu de verdade, que eu te via com os olhos de Deus... Eu assisti você brigando pelo que acredita, e se humilhar pra ser uma pessoa melhor. Vi você lutando contra você mesmo pra se manter de pé quando tudo parecia estar desabando. E a minha necessidade de te acolher e te fazer feliz se tornou vital como respirar. Não posso negar que dói, que sofro minhas escolhas tardias, mas ninguém pode me tirar a conquista de tentar e a força de não desistir nunca. Ninguém entende o nosso amor, e é isso que me faz ter certeza de que ele é fértil. Se não me desafiasse eu não insistiria. E por você eu luto contra o que for preciso, porque o mundo tá cheio de gente chata e comum, mas quando olho pra você vejo as cores mais brilhantes, as formas mais certas, as palavras dizendo coisas de verdade. Eu vejo que a vida é boa. E a verdade é que a nossa distância não existe mais, é um espaço que foi banido do universo pra sempre, porque violou as regras do nosso amor. E me julgam por eu me dar demais, por eu tentar demais, por eu chorar demais, mas é que ninguém enxerga isso que tem atrás dos meus olhos e é preciso coragem pra amar a ponto de esquecer a sua alma. O mundo tem que calar e se curvar porque isso sagrado demais pra que ele entenda. E ainda que por algum motivo nossas vidas tomem rumos diferentes, você sempre vai ser meu ser humano preferido. Que me provou, sem deixar espaço pra dúvidas, que o amor não é um sentimento, é uma pessoa.

Thursday, March 01, 2007

Sem rumo

Tentei falar com você. Queria falar com você.... Mas nenhum retorno de carinho. Mais uma noite de sumiço que nunca vai ser explicada. E eu faço uma força absurda pra não chorar, porque você não merece. Nem uma lagriminha sequer. Porque eu já te dei tudo, já me dei toda, e olha aí o que aconteceu. Então essas lágrimas vão ser só minhas, e vão ficar aqui dentro, mesmo me apertando tanto, mesmo doendo tanto. Essa vai ser a primeira partezinha minha que eu vou pegar de volta. E você deve achar que isso é bom, que eu estou amadurecendo, me tornando independente de todos, até de você. Mas se eu não puder chorar por você, de que vale? Se eu não puder ouvir a sua voz tarde da noite, de que vale? Se eu não puder escrever mil textos sobre você, de que vale? Se eu não puder ser sua de verdade, de que vale? Mas essa noite eu vou dormir sim, e não vou chorar até pegar no sono, porque você não é mais tão intenso assim, e é isso que me assusta. Essa falta de intensidade alimenta meu tédio com baldes de vazio fazendo ele ficar enorme e cada vez mais forte. Será assim então? Essa falta de cuidado quando eu digo que quero conversar e acabo falando com a mensagem de "não disponível" do telefone? Será que a gente virou só isso de tudo que foi colocado na receita? Eu nem vou terminar esse texto porque preciso acordar cedo amanhã...e isso não tá indo pra lugar nenhum, assim como esse tempo nosso.