Wednesday, January 02, 2008

Carta

Arranquei meu coração daquele altar, ainda pulsando com força, com vontade de viver. Sujei minhas mãos com um sangue que já não era meu... e chorei ao sair levando a única coisa que realmente importava pra você. Foi num quartinho escuro e úmido que o deixei guardado, enquanto procurava algum outro lar do lado de fora. Eu precisava que você entendesse que não queria tirá-lo de lá... precisava de algum jeito te dizer que sou grata eternamente pelo sopro que me deu. As palavras me falham e se misturam com as lágrimas e a vontade que queima no meu peito. Com tantas tentativas de roubo, o quartinho tinha uma porta mais segura do que eu pensava. Foram chutes e gritos insanos, foram machadadas e pancadas desesperadas para me roubar aquilo que devia estar derramado aos seus pés. Não fiz nada para impedí-los, não segurei ninguém na entrada, todos puderam chegar até lá e fazer sua tentativa. Meu seguro estava nas manchas que aquele sangue deixou pela porta. Os discursos eram sedutores, as sensações eram novas e prazeirosas, eu ia até eles e dizia "Vamos lá...!" talvez eu quisesse ser conquistada. As coisas ficariam menos doídas porque assim, eu abriria aquela porta e aquela responsabilidade não seria mais minha.
Te visitei algumas vezes. Entrei com a vida cheia de experiências e o peito vazio, acho que queria apenas ouvir sua voz de vez enquando, pra levar uma notícia ao meu coração. E continuou pulsando, continuou batendo e querendo arrebentar a caixinha onde eu o tinha colocado. Bateu, bateu, e o barulho exedia aquela cela. Começou a queimar, e queimava mais do que aquela fornalha. A vontade de vida era tão grande que aquela pedra teve que se mover e ele saiu de lá. Você conhece bem essa história, e é por isso que estou escrevendo. Pra te dizer que meu sangue acabou e meu coração foi buscar mais onde ele sabe que vai encontrar.