Tuesday, April 24, 2007

A luz no escuro

Quando tudo parecia igual ao tudo mais e minhas esperanças de realização fugiam correndo doidas por todas as portas, todas as minhas luzes se apagaram. Desse jeito mesmo, repentinamente. Um apagão de ilusões que fez todo mundo em mim parar pra entender o que estava acontecendo. Ficou um tempo sem luz. E já que estava tudo uma bagunça mesmo, resolvi deixar assim, pra ver se conseguia descansar um pouco dos projetos não terminados que gritavam na sala ao lado. Meu escritório parou por falta de luz, e de onde vinha o problema ninguém sabia. Só quem gostou foram minhas emoções que ficaram deitadas acostumando os olhos ao escuro enquanto todo o resto de mim brigava e se pervertia nos cantos escondidos. A luz começou a piscar, ia e vinha, como numa provocação me dizendo que talvez eu nunca mais teria por completo a dádiva da claridade. Me acostumei com o escuro. Aprendi a andar sem bater as canelas ou tropeçar nas minhas intenções jogadas por aí. E quando os olhinhos das emoções finalmente puderam ver no escuro, a luz se acendeu. E eu observei o ambiente diferente... com cores novas, formas que eu tinha esquecido...coisas que eu gostava tanto logo ali, ao alcance das minhas mãos. Percorri aquela área tão familiar e tão absolutamente nova, com a sensação de estar voltando pra casa, pro me quarto e minha caminha gostosa. E estranho saber que estava tudo sempre ali. As minhas esperanças estavam sentadas na sala de espera, como se tivessem sido atraídas pela luz. A loucura que tinha bagunçado o lugar aproveitou a escuridão pra fazer uma limpeza, e as salas tinham até novas pinturas. Ainda restavam algumas discussões na mesa de reuniões, alguns sonhos na caixa de pendência, mas estava tudo tão organizado que eu mal reconheci aquele espaço. Mas isso foi por pouco tempo, porque já que estava claro consegui ver de onde tudo aquilo vinha, e pedi pra que a luz não me deixasse mais, que eu seria mais cuidadosa e grata a ponto de valorizar aquela história que ela me proporcionava. E não senti raiva pelo tempo do apagão, porque agora mesmo no escuro, eu estava preparada pra enxergar.

Monday, April 16, 2007

Sociedade de Merda

"É mil reais por mês que vou ter que tirar do meu bolso pra pagar as contas!" disse a proprietária de um dos bares do Rio de Janeiro que teve as máquinas caça-níqueis recolhidas de seu estabelecimento. "Ele é Ministro, tem poder para assinar a liminar que quiser. É um homem bom, um homem direito. Agora, seja quem for que esteja envolvido nisso vai ter que pagar!" disse o advogado do Ministro, irmão de um dos indiciados na máfia da jogatina. "Alguns moradores jogam o lixo onde passa o caminhão, mas a maioria joga aí no corrego mesmo!" disse a moradora do bairro onde o corrego foi apelidado de "Arco-Íris" por receber cada dia uma cor diferente da fábrica de tintas que não quis atender a equipe de jornalismo. "Os carros agora serão equipados com alarme para quando crianças forem esquecidas no banco traseiro..." anunciou uma matéria no jorna na televisão. Não sou socióloga, e aliás, graças a Deus, porque se fosse estaria numa cama de hospital com pane no meu cérebro tentando entender e explicar a selva que surpreende a cada dia. Não vou escrever um texto daqueles "O que virá a seguir? " "Onde vamos chegar?" " O mundo está acabando!" porque a verdade é que nada adianta. O ser humano não quer fazer nada, escolheu o caminho mais fácil. Escolhe a cada dia não pensar, não criticar, não se dar ao trabalho de individualmente ser uma pessoa melhor para no mínimo fazer a sua parte em seu ambiante. Estamos ocupados demais vendo qualquer coisa na TV, comendo qualquer uma no Motel, matando aula pra fumar qualquer coisa, ocupados demais pra assumir que somos covardes, medrosos e patéticos. O ser humano clama ser livre, e se amontoa em grupos de estatísticas e tribos que dizem com convicção serem orginais, pertencer a algo é mais seguro. Tem medo de ser um indivíduo, de usar um pouquinho a mais da capacidade de seu cérebro e descobrir a merda em que deixou seu mundo. Pensa que seus pensamentos são seus, pensa que suas atitudes são livres, pensa que tem opinião e finge que pensa. Pensa tristemente que vive, durante a sobrevivência deseperada de todos os dias. Desesperada por um significado, um motivo, uma frase que lhe venha a mente que lhe seja original, não é preciso ser verdadeira, contanto que seja sua. Mas não, nem seu corpo é seu, é de alguma empresa que tem todo o poder sobre sua imagem e estampa seus medos e seus vazios na capa de revistas para voyeristas sedentos. Não temos mais nada. Os pensadores morreram, os filósofos viraram artistas da TV, os jornalistas reinvindicadores respondem como ministros, os revolucionários estão no poder e não querem sair de lá tão cedo, os artistas estão escondidos nas lembranças de uma época de luzes que mais parece sonho, os escritores dissertam sobre o "Lemão", os jovens estão hiptonizados com a imagem do espelho, as crianças estão esquecidas em carros parados e em movimento... não nos sobrou nada.

Sunday, April 08, 2007

Sexo Casual -Começo, meio e fim.

É possível sim. Descobri que é totalmente possível essa história de não sentir nada. De viver um rolinho aqui outro ali, de ter pessoas na sua vida que não passam da porta da frente, apesar de já terem visitado todos os seus cômodos. O polêmico assunto do sexo casual. Os homens fazem desde sempre, as mulheres aprenderam a brincar, mas na cabeça de alguns é simplismente inconcebível a idéia de tal assassinato da alma. Porque é isso que acontece sabiam? Você faz sua alma dormir por algumas horas, enquanto dá conta dessa moda pra ficar na moda. Ou não, ou só porque o sexo é bom mesmo e pronto. Assim sem motivo, sem sentir nada. Porque somos seres capazes de qualquer coisa, até de sentir nada. Mas como as pessoas fazem isso com facilidade é que me intriga. Como funciona esse jogo de largar pessoas pelo caminho? Quais são as regras dessa brincadeira de não sentir nada, e ver as coisas boiando sem vida? É tão pouco... TÃO pouco! E a pessoa consegue não se preocupar se ela chegou bem em casa depois da noite sem significado mas cheia de prazer. Consegue não ligar pro que ela esta passando na vida, se está feliz ou triste, se tem alguma coisa a dizer ou não. É impressionante essa gula pra satisfazer o corpo, não importa o quanto os olhos dela digam, não importan quanto seus beijos sinalizem, ele está ocupado demais com coisas clichês. E sabe o que eu penso de verdade? Que quando a alma se envolve, não há prazer maior. Não tem como competir com a explosão de emoções! Mesmo sendo possível não sentir nada, não vale a pena. É uma escolha, você pode querer sentir ou não, pode encarar a situação como uma pessoa moderna que sabe dividir as coisas, mas o se envolver com pessoas é tão melhor, o desenvolvimento é que é o interessante! Ouvir histórias, saber dos gostos, reparar nas manias, dar risada dos gestos e jeitos... É tão melhor aproveitar a pessoa por inteiro e não só a embalagem! Tudo bem, eu concordo que as coisas podem ficar complicadas, que a paixão pode crescer e perder o controle, mas aí sim é hora de ser uma pessoa ultra-moderna e saber dividir as coisas, saber tomar a decisão de dar o próximo passo. É tão bom conhecer alguém de verdade, prestar atenção no que ela tem a dizer, prestar atenção em como ela faz isso, deixar as histórias se misturarem, as emoções mostrarem as caras, curtir essa coisa incrível de se misturar dois mundos diferentes. Entender que existem muitos níveis de relacionamento é que é a grande questão. Se for pra entrar na vida de alguém, não se limite ao quarto do motel, seja marcante. E o que marca não é a calcinha provocante ou se você faz exatamente do jeito que ela gosta, são os detalhes. São os momentos não calculados, um sorriso no meio das caras e bocas, um beijo não esperado, um olhar de cumplicidade, uma conversa depois dos corpos suados. É o envolvimento que faz essa coisa toda ser tão boa. O casual só vale a pena se tiver o envolvimento depois, se não, não passa de uma história com começo, sem meio e sem fim. Completamente sem sentido.

Thursday, April 05, 2007

Os sinais do teu sorriso

Eu olho tanto pra tentar ver o que você está pensando. Encaro seus olhos castanhos que me engolem. E são poucos os momentos que consigo conversar com eles, que tento arrancar qualquer coisa que me diga o que passa dentro da sua cabeça. Vou sempre querer muito mais do que você possa me dar, por isso fixo meus olhos nos seus pra ver um sinal de que seus pensamentos estão se rendendo. Mas você me engole antes que eu possa ver. Você me possui com o cheiro que vem do seu cabelo. Me abraça e eu fico totalmente sem forças pra reagir, só peço bem baixinho que venha mais de você em mim, muito mais. Eu perco seus olhos quando você me beija, porque tudo que consigo sentir é a pele macia da sua boca, e tudo que sou capaz de enxergar é como isso devia ser mais certo pra nós dois. Eu demoro pra ir embora pra ver se o tempo congela e eu possa ficar mais uns minutos te olhando. Falo demais pra gravar seu som na minha mente. Quem sabe no timbre da sua voz eu ouço alguma mensagem da sua alma. Talvez na sua risada eu decifre um sinal do seu coração e consiga cuidar dele um pouquinho melhor. E é assim, eu fico procurando te descobrir aos poucos, nos detalhes, nas entrelinhas e até no teu silêncio que me desafia os pulmões da ansiedade.

Tuesday, April 03, 2007

O que diria George Orwell sobre o Big Brother Brasil?

Li inúmeras reportagens e textos de pessoas de opinião. Conversei com amigos, pessoas no elevador e pessoas inteligentes que admiro. Todos tinham um compromisso marcado para esta terça a noite: Assistir a vitória do Diego, Alemão ou ainda do "Lemão" como diziam linhas afora. Não é de hoje que se sabe da capacidade de produção, criação, técnica e qualidade que a Globo tem, e o mérito é todo deles mesmo. Até a Igreja Universal assumir a Record e investir sem limites na nova aquisição, a Globo não tinha concorrentes que lhe preocupassem muito, mas ainda assim renovava seus padrões de qualidade constantemente, mostrando que é uma empresa séria e com visão estratégica. Com a súbita transformação da Record, a indústria de comunicação brasileira começou uma nova fase, com maior competição e mais espaço de trabalho para os profissionais da área. Nada mais saudável. Mas acontece que as pessoas insistem em culpar a Globo pelo fenômeno banal do programa Big Brother Brasil. O programa, que não é idéia da Globo, foi inspirado no livro 1984 (1948 ao contrário) de George Orwell, que escreveu o romance com a intenção de criticar os sistemas totalitários do governo e da mídia. O protagonista do livro era responsável por reescrever e alterar dados que não eram de acordo com os interesses do partido que representava. O Big Brother, era o governante soberano, e não havia lugar onde qualquer pessoa pudesse se esconder de suas câmeras de vigilância. A grande crítica de Orwell era quanto á redução do indivíduo e do pensamento em peça á serviço do estado ou do mercado. Mas o mercado soube bem o que fazer com a obra do autor, transformou-a em aliada e criou o Reality show. Arlindo Machado em seu livro "A televisão levada a sério" (Ed Senac, 2001) aponta a banalização do entretenimento como um processo geral da cultura. Não é só a televisão, são as músicas, as peças de teatro (estas menos por seu teor artístico), os shows, enfim toda a indústria de entretenimento que, também, não é culpada! Esses meios são um reflexo da sociedade em que se veiculam . Já não é novidade também que existem produções no programa Big Brother, que de Reality só tem mesmo o formato e conceito, ainda que o povo insista em dizer que "Nãããão! Não é combinado!" como se isso fosse quase uma blasfêmia. Mas enfim, acreditar ou não, não muda o fato. É triste que esse seja o único escape do nosso povo, que este seja muitas vezes o único momento em que tantas pessoas têm de relaxar, esfriar a cabeça e se divertir. Em seu livro "Vida, o filme" (Ed. Cia das letras 2000) Neal Gabler trata deste fenômeno mostrando como a arte exige um processo mental, e com o tempo, perdeu seu caráter de "puro prazer" porque as pessoas não queriam forçar o pensamento, queriam apenas se divertir sem compromisso. E foi assim que se originou o entretenimento, que nada mais é que a "pura diversão" descompromissada. O nocivo nisso tudo, não é a diversão sem raciocínio, é a falta de equilíbrio. É um programa de uma hora não ter absolutamente NADA para ser aproveitado pelo cérebro, quando 57 milhões de pessoas estão assistindo e tantas coisas poderiam ser ditas... É a falta de aproveitamento dos programas de entretenimento como comunicadores sociais, que prestam efetivamente serviço á sociedade, tanto entretendo, como informando. Um exemplo muito conhecido de grande sucesso é a série Chaves, que entretêm e ensina crianças a falar corretamente e outras curiosidades que com certeza elas vão se lembrar porque estavam se divertindo quando aprenderam, estavam relaxadas, mas continuavam pensando. Enfim, o contrato entre Globo e Endemol foi renovado até 2012, o que espero é que até lá a população tenha menos preguiça de pensar e obrigue a Globo a fazer o que ela faz de melhor, se renovar e dar ao público programas com uma qualidade mais completa: Criatividade, técnica, diversão e conteúdo real.

Monday, April 02, 2007

Se ao menos, menos desencontros.

Você me pegou de surpresa com essa vontade de me ter por mais tempo, e eu não soube o que fazer com a minha vontade esquecida de você. Tive que assumir que as coisas na vida nem sempre tem o tempo perfeito, na maioria das vezes é esse rolo e a bendita decisão pra tomar, de novo e de novo. E eu confesso que penso em você, que penso como seria diferente minha vida, e que as opções são tantas que ás vezes me assusto com as possibilidades que antes me atraiam. É a grande responsabilidade de crescer, olhar de frente e assumir que a juventude não me avaliza ser livre das conseqüências. Mas essa minha dificuldade de largar pessoas me impede de me afastar de você. Eu preciso me certificar que você está feliz, o mais feliz que pode, e não sei de onde veio essa minha idéia de que tenho que fazer as pessoas felizes. Mas eu tenho... tenho que ver quem eu amo sorrindo de verdade. Sim, eu te amo sim, de um jeito que você talvez não consiga entender agora, mas espero que um dia entenda e se lembre desse meu amor como um presente pra você. Existem muitos tipos de amor, e esse que eu sinto por você é aquela vontade de saber tudo da vida, como espectadora, de ouvir suas opiniões sobre tudo, de te ver dando risada e fazendo o que gosta. É esse amor sincero, um pouquinho maior do que de uma grande amiga. É um olhar de admiração, de orgulho de te ver sorrindo pra sua vida. E é por isso que eu não posso ser sua. Porque o que a gente tem é muito mais desenrolado que um relacionamento sério, é uma cumplicidade descompromissada e ainda assim eu sei que você não se mostrou por inteiro, mas também sei que não posso te dar essa liberdade porque posso confundir os amores. Eu queria poder mostrar mais o que sinto, mas não posso mudar nossas regras. E eu penso como seria se fosse diferente. Como seria se ao menos o tempo fosse outro, as pessoas fossem outras, e as conseqüências menos arrasadoras. E isso é uma coisa que nós nunca vamos saber. Você nunca vai conhecer meu quarto e eu nunca vou poder dormir onde você dorme. Você nunca vai ver meu armário e minhas gavetas bagunçadas, e eu nunca vou encontrar sua coleção de revistas de mulher pelada. Se ao menos a gente pudesse viver isso tudo um pouquinho mais, e se ao menos a gente tivesse a chance de assumir a gente um pouquinho mais.