Wednesday, February 07, 2007

O pesadelo

Acordei com uma vontade de chorar pior do que a que me ninou pra dormir. Além de querer morrer por uma vida ordinária, o único momento de sossego onde eu poderia sonhar que tinha o emprego dos meus sonhos, com o salário dos meus sonhos, com o cartão de crédito dos meus sonhos, eu dei pra ter pesadelos. Tinha uma infeliz de uma garota que me assombrou toda minha infância com os longos cabelos loiros, os brilhantes olhos azuis, e a alma de bruxa da branca de neve. Eu estava feliz reunida com velhos amigos que não via há tempos, apresentando a eles meu namorado lindo (ele pelo menos é de verdade, mas...) e a loira bruxa se exibindo pra ele tentando ganhar tudo que é meu como sempre foi a razão de sua existência. Mas eu nem ligava porque ele era todo meu mesmo, e ela nem fazia o tipo dele. Eu continuava feliz até que ela disse para uma pessoa que eu não sei quem era "Tudo bem, ele me liga sempre!" O céu ficou escuro, as imagens do pesadelo ficaram mais turvas, e eu sabia que estava no inferno. Peguei meu namorado pela mão e o levei onde podiamos conversar a sós, olhei nos olhos dele e disse "Por favor, me diga a verdade, você já teve qualquer contato com ela?" Sua resposta não precisou ser completa porque no pesadelo eu e minhas artimanhas de cineasta demos conta de, enquanto ele falava, montar as cenas pra eu sofrer com estilo. "Eu queria ir embora, mas ela me pediu pra ficar e eu disse que só iria assistir ao filme..." No pesadelo doia tanto que eu tentava abrandar a angústia passando as unhas com força no asfalto. Ele não tinha feito nada com ela, mas tinha dado sua atenção, tinha dado a ela o privilégio da sua voz, do seu respeito, da sua presença, do seu papo... Era a mesma coisa pra mim. Eu tinha sido traida, e então acordei. Senti o calafrio de quando acordo de um pesadelo horrível com mostros e perseguições, queria acender a luz com medo da loira bruxa estar por ali escondida, queria ligar para o meu namorado e perguntar com quem ele andava falando ultimamente. Fiquei insana por alguns bons minutos. Quando o sangue esfriou um pouco pensei em como amo aquele filho da mãe que me faz perder a cabeça com um sonho estúpido. Só consegui dormir de novo quando lembrei da frase de Gabriel Garcia Márquez Não se preocupe, não é a primeira vez que uma mulher fica louca por um homem...

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