Thursday, December 21, 2006

A vida e ele.

Ele saiu na rua descalço. Procurava sentir a areia nos pés, mas a praia estava há alguns quilometros de distância. Ele não queria ter rumo, só queria sentir o chão sem saber onde iria dar. Vestia uma calça jeans um número maior que o seu e uma camiseta branca, ele sempre estava lindo. Aquele dia tirou tudo da mente, esvaziou o coração, limpou a alma, e saiu. Seus olhos queriam ver coisas diferentes, mas o olhar não se fixava em nada, talvez apenas nele mesmo. Ele podia ouvir uma música boa enquanto caminhava, a música era só dele e tinha tudo que ele precisava naquele momento. A noite estava quente, com um vento frio que passava de vez enquando. Ele continuou caminhando sem saber, sem porque, sem nada, só com ele. A vida já tinha lhe dito tanto, e ele ainda corria para alcançar as coisas que perdeu. Aquela noite estava sozinho e se sentia bem em sua solidão. Muitas pessoas passaram por ele, algumas marcaram sua história, outras não fizeram por merecer, mas cada uma tinha em si algo especial que lhe dizia que eram importantes em suas diferenças. Aquela caminhada não faiza sentido, não tinha propósito, o que é que ele estava fazendo? Parou por um segundo e as pernas não lhe obedeceram, voltaram a caminhar e ele entendeu que não podia parar. Os pés estavam felizes em sentir a vida na pele. Seu corpo agradecia aqueles momentos de solidão, sem nada pra pensar, ouvindo o que quisesse imaginar e sentindo no rosto aquele vento que trazia boas novas ao calor da noite. Ele fechou os olhos e sorriu. Pôde sentir o que estava acontecendo com ele, pode entender que não era loucura, ou talvez até fosse, mas aproveitou cada minuto dela. Não pensava em voltar, o caminho tinha lhe reservado surpresas e sem premeditar ou fugir, ele aceitou o que estava por vir. Não conseguiu cumprir ao mandamento de que homem não chora. Porque aquelas lágrimas estavam a muito pedindo para sair e ver o mundo, então ele as deixou, e ficou feliz em senti-las em seu rosto. Fazia tanto tempo. A noite lhe fazia convites, e ele aceitava cordialmente, assistindo aos espetáculos das estrelas que pareciam ter sido preparados especialmente para ele, e talvez tinha sido mesmo. Ele podia mais do que imaginava. Mas por tanto tempo ficou dentro daquela casa vazia. Parou por alguns minutos para apreciar o céu. Seu sangue esfriou e sentiu uma dor nos pés que lhe fizeram franzir a testa. Mas junto com a dor ele esboçou um sorriso, porque aquele sangue ele queria há muito ter visto. Era o sangue da vida. E agora ele podia viver.

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