Monday, January 22, 2007

Dá pra apagar?

E naquele momento em que você não consegue mais? Quando tudo que pode fazer é fechar os olhos e desejar que aquela realidade desapareça na umidade que, ao mesmo tempo que enxágua suas dores, te impede de enxergar. E não são necessários? E todos nós não sentimos uma vez na vida? Ou muitas vezes na vida. A vontade de fazer nada. De não procurar um argumento, de não juntar forças pra limpar o sangue e dar mais um golpe. E esse momento não é o mais seu que se pode ter? Não é a morte, mas sua vida toda passa pelos olhos como um filme, e como um filme, as cenas fazem sentido, e você percebe que tudo te levou até este momento, que a culpa é sua mesmo. Mas só depende de você a cena a seguir. Quanto vale o sentimento? Quanto vale uma vida salva? Quanto vale isso tudo ao redor, a natureza e não o que o homem fez, quanto vale? Quanto vale a vida? Porque o mundo está leiloando. Quem dá mais? Quanto vale olhar a ilusão do infinito do mar de cima de uma pedra? Quem fez isso mesmo? Algum artista famoso? Quanto vale? E de dentro dessa angústia de que tudo pode ter acabado por aqui, alguma coisa se move. Alguma coisa faz barulho de ossos se juntando. E será possível? Que barulho é esse? Quer dor no estômago é essa que estou sentindo com tanta força? E no céu azul como só mesmo o céu pode ser, uma nuvenzinha... Será possível? Um barulho de silêncio, que só você pode ouvir. Um chamado? Mas será possível? Um fogo queimando a língua, um gosto de palavras que não podem ser suas. Será mesmo possível? Quanto vale? Uma, duas pedras? Todas as que você puder ajuntar e, ainda não será suficiente. E alguma coisa cai fervendo do céu consumindo o que estiver pela frente. Quem explica? Eu não me atrevo... Mas não ia mesmo acabar? Não era o fim com aquela última sentença? Teve um barulho que interferiu. Teve umas vozes incessantes e até irritantes. Teve uma gente louca e desvairada que exaláva tanta vida que não deu pra morrer não. E quanto vale? Mas não dá assim, pra apagar, jogar fora, fingir que nunca conheceu, não dá? Será isso possível? Tinha umas coisas se movendo, um ar dando fôlego e um sangue puro correndo... Mas que barulho é esse, e quem foi que deixou essa pedra fora do lugar e essa tumba aberta?
Não dá pra medir.

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