Tuesday, January 23, 2007

E se...

E se a gente pudesse agora? E se assim de repente a liberdade fosse tão real que desse pra pegar? E quando pegasse a gente sentisse junto alguma coisa estranha, tipo de filme, de alguma coisa que poderia ser muito mais? E se a gente se pegasse muito e descobrisse que não queria mais largar? E se nessa pegação a gente se olhasse e descobrisse o quão nada somos um pro outro e desse vontade de vomitar a superficialidade do nosso filminho proibido para menores? E se então eu te abraçasse e você não fugisse de um jeito educado, e a gente ficasse por alguns minutos sentindo o corpo um do outro sem qualquer terceiras intenções? O que seria de nós se a gente desse um segundo de importância para os nossos sorrisos e se observasse com um pouquinho menos de tesão e um pouquinho mais de cumplicidade? E se gente pudesse ser da gente por mais de uma noite e tirasse os óculos escuros pra conversar? E se assim de repente o proibido fosse possível? E se a gente parasse de dar risada juntos e de algum lugar viesse uma lágrima por saber que nada disso é real? E se ao invés de tirar as roupas a gente tirasse as máscaras e se enxergasse de verdade? E se nós percebessemos que estamos boiando em um barquinho mequetrefe com um oceano de possibilidades logo abaixo dessa nossa superficialidade quente? E se você se interessasse por mais de alguns minutos pelo que eu fiz naquele dia e pelo livro que eu estava lendo? E se eu parasse de jogar e te dissesse o que realmente acho de caras como você? E se a gente pudesse agora tentar ser feliz um com o outro, porque acabamos de descobrir que de alguma maneira essa superficialidade faz falta pra uma vida tão intensa? E se nessa tentativa a gente descobrisse que quem se quer mesmo são apenas nossos corpos e mais nada? E se a gente pudesse gritar um com o outro e continuar com a liberdade de pegar? E se a gente pudesse se chamar de "a gente"? E se a realidade deles não existisse e existisse apenas a nossa? E se eu te desse um beijo que você esperava por toda sua vida? E se o filminho proibido pra menores acabasse num românce meloso e aguinha com açucar? E se a gente assistisse esse filme debaixo do cobertor ou invés de atuar? E se eu me importasse tanto com você a ponto de querer te conquistar só pra mim? E se você se perdesse pelo meu corpo e não achasse mais o caminho de volta? E então se eu te dissesse que nada disso é possível porque liberdade não é libertinagem. O momento do filme passou e as cenas proibidas foram censuradas. O abraço perdeu a vontade e as intensões sinceras. O sorriso perdeu a graça e você nem sabe o que significa cumplicidade. A gente já tem dono e os óculos estão maiores. As leis estão cada vez mais rígidas e o impossível é muito maior que nossas intenções. A lágrima era falsa e a realidade dói na consiência. As nossas roupas são mais bonitas que nossos sentimentos. O oceano abaixo secou e as possibilidades se perderam nas palavras erradas. Aquele dia tem um X e eu já acabei de ler o livro. O jogo virou e eu nem acho mais nada de você. A felicidade mora em outros olhos e eles fazem mais falta. Os corpos querem apenas corpos, não importa de quem sejam. O grito se calou na falta de cuidado. A gente não passa disso. Eles preenchem cada vez mais os espaços. Você não espera por mais nada na vida. O filminho ficou escondido na prateleira sem ser alugado. Está muito quente pra edredon e ator de novela é tudo igual. Eu tenho outras prioridades e você não é um sonho pra eu conquistar. O meu caminho de volta foi trilhado no mesmo instante em que você ousou me tocar.

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